tag:blogger.com,1999:blog-32144171405323700342024-03-13T11:54:13.855-03:00Anselmo CarvalhoDireito, Política e Sociedade.Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.comBlogger511125tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-49748024452771610462016-10-18T21:29:00.001-03:002016-10-18T21:35:01.896-03:00A Mão Visível: Encruzilhada<a href="http://maovisivel.blogspot.com/2016/10/encruzilhada.html?spref=bl">A Mão Visível: Encruzilhada</a>: <br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;">Por <a href="http://maovisivel.blogspot.com.br/" target="_blank">Alexandre Schwartsman</a></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Se há um trabalho fácil, deve ser elaborar o orçamento federal. Afirmação algo injusta, reconheço, mas me concedam um par de parágrafos e prometo tentar esclarecê-la. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">O orçamento apresenta duas características cruciais. A primeira é seu tamanho: em 2017 os gastos federais (sem contar transferências a estados e municípios) devem superar com folga a marca de R$ 1,2 trilhão, correspondente a cerca de 20% do PIB. A segunda, tão importante quanto, é a extraordinária rigidez do gasto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Algo como 80% do orçamento consiste de gastos obrigatórios, dentre os quais as rubricas mais relevantes referem-se ao INSS (40% do gasto, ou 8% do PIB) e pessoal (20% do gasto, 4% do PIB). É neste sentido que a elaboração do orçamento é uma tarefa fácil: regras determinam quase todo o gasto, não os envolvidos na discussão da proposta orçamentária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">O restante, 20%, é denominado gasto discricionário, porque, em tese, caberia ao Executivo (ao formular o orçamento) e ao Legislativo (ao aprová-lo) a discussão política sobre a destinação dos recursos públicos. Mas apenas em tese.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">De fato, pouco mais da metade deste dispêndio corresponde a mais uma “jabuticaba”: o “gasto discricionário não-contingenciável”, isto é, despesas sobre as quais, na prática, o governo não detém controle, como o gasto mínimo em Saúde e Educação, que representa quase 10% do orçamento, ou 2% do PIB.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Posto de outra forma, a margem de manobra do orçamento, ou seja, o espaço para a discussão política dos recursos públicos, é ínfima: menos de 2% do PIB.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Sabendo disto não pude conter uma gargalhada ao ler a </span><span lang="EN-US"><a href="http://www.valor.com.br/politica/4739615/o-preco-da-pec" style="color: #535353; outline: none;"><span lang="PT-BR" style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">coluna de Marcos Nobre</span></a></span><span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;"> no <b><i>Pravda</i></b> (perdão, <b><i>Valor Econômico</i></b>) afirmando que, ao aprovar o teto do gasto (PEC 241) “o sistema político está abrindo mão de arbitrar essas margens de manobra que, no final das contas, são a sua própria razão de ser, o fundamento de seu poder”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Nada mais distante da realidade: esta margem desapareceu há tempos e encolherá ainda mais caso a PEC 241 não seja aprovada. As prioridades do orçamento de 2017 (ou 2018, 2019, 2020...) são ditadas, em larga medida, pelas prioridades do constituinte de 1988 (e demais emendas a partir de então), este sim completamente descrente da capacidade do mundo político de atender as demandas da sociedade brasileira, recorrendo ao engessamento do gasto em proporção inédita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">É bom que se diga que a PEC 241, embora ataque a primeira propriedade do orçamento (o tamanho do gasto), ainda que em ritmo glacial, não tem qualquer efeito, por si só, na segunda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">A rigor, ela apenas explicita limites à despesa pública, que, na ausência de uma discussão adicional e mais profunda sobre a rigidez do gasto, condenam a própria existência do teto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Na verdade, sem reformas que atenuem este problema, não é difícil concluir que a redução do orçamento federal relativamente ao PIB, somado à expansão do gasto previdenciário e à rigidez dos demais gastos obrigatórios só pode levar a dois resultados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">Caso o teto perdure, o governo federal se reduziria a uma agência de pagamento de salários e pensões. No caso oposto o gasto continua a crescer e o teto sumirá; assim a inflação fará disfarçadamente o que o Congresso se recusar a fazer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<br style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px;" />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #535353; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, serif; font-size: 11pt;">A caminho da responsabilidade fiscal começa com a PEC 241, mas, de forma alguma, terminará nela.</span></div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-71268484708587669542016-01-05T21:30:00.000-03:002016-01-05T21:30:41.328-03:00O pontificado laico e a República<br />
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: right;">
<strong style="border: none; margin: 0px; padding: 0px;">Por Luiz Werneck Vianna</strong></div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Com sua intervenção sobre os ritos a serem obedecidos no processo de tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Supremo Tribunal Federal atravessou o Rubicão, passando por cima do voto do relator, Edson Fachin, e fez ouvidos moucos à veemência com que o ministro Dias Toffoli sustentava não passar dos limites, que o Poder Judiciário deveria reservar-se diante dos atos emanados do Poder que representa a soberania popular — dois ministros a que não se podem atribuir posições adversas ao governo e a seus dirigentes. Finda a votação, um país perplexo pôde constatar que mais um passo tinha sido dado em direção a um governo de juízes — às favas os escrúpulos com as obras de Habermas e de Dworkin, referências cultuadas entre magistrados —, categoria agora elevada ao status de um pontificado laico, com a confirmação de que não há mais limites para a patológica judicialização da política reinante entre nós.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
É verdade que trazemos inscrito no código genético do nosso processo de modernização a intervenção do juiz em matéria crucial em sociedades capitalistas, qual seja a regulação pela Justiça do Trabalho do valor da mercadoria força de trabalho, quando, nos idos do regime da Carta de 1946, um magistrado arbitrava o quantum do salário “justo” por cima das partes envolvidas nos conflitos salariais e, no caso de desobediência, sujeitava a sanções os sindicatos e seus dirigentes. Convertia-se, então, um fato mercantil em jurídico. No remoto ano de 1976, em Liberalismo e Sindicato no Brasil (Paz e Terra, Rio de Janeiro, primeira edição), o autor deste artigo se empenhou na análise dessa esdrúxula transfiguração.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
A obra dos constituintes da Carta de 1988, de fato, democratizou o país, com as ressalvas apontadas pelo jurista Mauricio Godinho Delgado em matéria da legislação sindical (Curso de Direito do Trabalho, LTR), embora tenha recepcionado — em razão da sua desconfiança quanto às instituições da democracia representativa em concretizar os ideais de igualdade que ela acolheu — a tradição brasileira, do Império à República, de confiar ao Poder Judiciário papéis de pedagogia cívica sobre a cidadania. Nesse sentido, o constituinte criou novas instituições, como o mandato de injunção, redesenhou o Ministério Público com uma configuração inédita no Direito Comparado que parece ter saído da prancheta de um Oliveira Vianna, constitucionalizou a Defensoria Pública, as ações civis públicas e os juizados especiais, entre outras inovações.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Tudo o que é vivo na sociedade foi recoberto por essa malha amplíssima, que não deixou de crescer com a legislação subsequente e com uma jurisprudência cada vez mais criativa dos tribunais, sempre citados em registro positivo os casos do reconhecimento das relações homoafetivas, o do aborto de fetos anencéfalos e a demarcação de terras indígenas no Estado de Roraima. A legislação eleitoral, fato da política, não passou imune à intervenção dos tribunais, que derrubou a cláusula de barreira, introduzida pelo legislador, para que os partidos viessem a ter acesso ao Parlamento, com resultados, como ora se constata, em tudo diversos, por sua carga negativa, dos casos acima citados, que encontraram soluções benfazejas.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
As razões de fundo do crescimento exponencial da litigação nos tribunais, tão bem descrita em artigos deste jornal por José Renato Nalini, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, não encontram sua explicação apenas no comportamento de atores singulares, até porque litigar tem custos, ao menos de tempo, e os resultados são sempre incertos e, em regra geral, demorados. Elas, ao contrário, derivam da perda de credibilidade e da capacidade de atração dos partidos políticos, de uma vida associativa frágil e destituída de meios para negociar conflitos, não restando outro recurso a uma cidadania desamparada e fragmentada senão recorrer à Justiça. O atual gigantismo do Judiciário e a monumentalidade arrogante de suas sedes são a contraface, como consensualmente registra a bibliografia, da falta de República e de suas instituições.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Intuitivo que a judicialização da política vem trazendo consigo a politização do Judiciário, em particular dos seus órgãos superiores. Não se pode argumentar, como tão frequente, que nossas instituições são resilientes e estão funcionando — diante do quadro que aí está talvez nem o Doutor Pangloss ousasse uma platitude de gênero tão naïf. Há uma situação de alto risco em nossas instituições e no tecido da vida social. Estamos à beira de um precipício, já foi escrito em algum lugar. César Benjamin, analista respeitado, diagnosticou em debate recente a possibilidade de uma convulsão social, ainda remota, é certo, mas que não deve ser descartada, pelo clima de cólera que grassa por aí nas ruas, nos aeroportos e nos restaurantes grã-finos, com seus frequentadores endinheirados.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
É preciso que, em alto e bom som, se diga que muito desta crise que ora nos atormenta talvez não se revestisse da dramaticidade atual se uma canetada do Supremo Tribunal Federal não tivesse passado por cima da vontade do legislador que criou a cláusula de barreira para os partidos políticos. Nesta hora em que convergem a judicialização da política e a da saúde e a intervenção do Judiciário em políticas públicas do governo do Estado do Rio de Janeiro, é de lembrar a ação republicana dos médicos David Capistrano da Costa Filho e Antonio Sergio Arouca, intelectuais públicos que pavimentaram o caminho, por dentro dos partidos efetivamente existentes, do Parlamento e fora deles, para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), hoje à margem da República e dependente da discrição de ações judiciais para poder funcionar. A Roma dos pontífices da Renascença, Maquiavel que nos diga, jamais poderia ser uma República.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
___________</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
<strong style="border: none; margin: 0px; padding: 0px;">Luiz Werneck Vianna</strong> é sociólogo, PUC-Rio. É coautor do livro <em style="border: none; margin: 0px; padding: 0px;">A judicialização da política e das relações sociais no Brasil</em>, Editora Revan.</div>
<div style="border: none; color: #666666; font-family: Verdana; font-size: 12px; line-height: 20px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Artigo publicado originariamente no <a href="http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-pontificado-laico-e-a-republica,10000006097" target="_blank"><strong style="border: none; margin: 0px; padding: 0px;">Estado de São Paulo</strong>, edição 3.1.2016</a>.</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-81981654392087040732015-04-24T10:11:00.000-03:002015-04-24T10:11:07.546-03:00A Guerra do PT<span style="font-size: 0px; line-height: 0px;">O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:</span><a href="http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-guerra-do-pt-imp-,1674433" style="border: 0px; font-size: 0px; font-stretch: inherit; line-height: 0px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-guerra-do-pt-imp-,1674433</a><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; color: #333332; font-family: 'Slab Serif', sans-serif; font-size: 15px; line-height: 26.25px;">Fonte: <a href="http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-guerra-do-pt-imp-,1674433" target="_blank">O Estado de São Paulo</a> via <a href="http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/editorial-do-estadao-a-guerra-do-pt/" target="_blank">Coluna do Augusto Nunes</a></span></div>
<span style="background-color: white; color: #333332; font-family: 'Slab Serif', sans-serif; font-size: 15px; line-height: 26.25px;"><br /></span>
O PT julga que está em guerra. É o que está escrito, com todas as letras, nas “teses” apresentadas pelas diversas facções que compõem o partido e que serão debatidas no 5.º Congresso Nacional petista, em junho.<br /><br />De que guerra falam os petistas? Contra quem eles acreditam travar batalhas de vida ou morte, em plena democracia? Qual seria o terrível <i>casus belli </i>a invocar, posto que todos os direitos políticos estão em vigor e as instituições funcionam perfeitamente?<br />
<br />
As respostas a essas perguntas vêm sendo dadas quase todos os dias por dirigentes do PT interessados, antes de tudo, em confundir uma opinião pública crescentemente hostil ao “jeito petista” de administrar o País. O que as “teses” belicosas do partido fazem é revelar, em termos cristalinos, o tamanho da disposição petista em não largar o osso.<br /><br />“Precisamos de um partido para os tempos de guerra”, conclama a Articulação de Esquerda em sua contribuição para o congresso do partido. Pode-se argumentar que essa facção está entre as mais radicais do PT, mas o mesmo tom, inclusive com terminologia própria dos campos de batalha, é usado em todas as outras “teses”. Tida como “moderada”, a chapa majoritária O Partido que Muda o Brasil avisa que “é chegado o momento de desencadear uma contraofensiva política e ideológica que nos permita retomar a iniciativa”.<br /><br />A tendência Diálogo e Ação Petista conclama os petistas a fazer a “defesa dos trabalhadores e da nação”, como se o Brasil estivesse sob ameaça de invasão, e diz que as “trincheiras” estão definidas: de um lado, a “direita reacionária”; de outro, os “oprimidos”. A chapa Mensagem ao Partido quer nada menos que “refundar o Estado brasileiro”, por meio de uma “revolução democrática” – pois o “modelo formal de democracia”, este que vigora hoje no Brasil, com plena liberdade política e de organização, “não enfrenta radicalmente as desigualdades de renda e de poder”.<br /><br />Da leitura das “teses” conclui-se que o principal inimigo dos petistas é o Congresso, pois é lá que, segundo eles dizem, se aglutinam as tais forças reacionárias. O problema – convenhamos – é que o Congresso representa a Nação, o povo. Se o Congresso resiste a aceitar a agenda do PT, então a solução é uma “Constituinte soberana e exclusiva”, cuja tarefa é atropelar a vontade popular manifestada pelo voto e mudar as regras do jogo para consolidar o poder das “forças progressistas” – isto é, o próprio PT.<br /><br />Uma vez tendo decidido que vivem um estado de guerra e estabelecidos quem são os inimigos, os petistas criam a justificativa para apelar a recursos de exceção – o chamado “vale-tudo”. O principal armamento do arsenal petista, como já ficou claro, é o embuste. O partido que apenas nos últimos dez anos teve dois tesoureiros presos sob acusação de corrupção, que teve importantes dirigentes condenados em razão do escândalo da compra de apoio político no Congresso e que é apontado como um dos principais beneficiários da pilhagem da Petrobrás é o mesmo que diz ter dado ao País “instrumentos inéditos” para punir corruptos. Há alguns dias, o ex-presidente Lula chegou ao cúmulo de afirmar que os brasileiros deveriam “agradecer” ao PT por “ter tirado o tapete que escondia a corrupção”.<br /><br />É essa impostura que transforma criminosos em “guerreiros do povo brasileiro”, como foram tratados os mensaleiros encarcerados. Foi essa inversão moral que levou o governador petista de Minas, Fernando Pimentel, a condecorar o líder do MST, João Pedro Stédile, um notório fora da lei, com a Medalha da Inconfidência, que celebra a saga libertária de Tiradentes. A ofensiva dos petistas é também contra a memória nacional.<br /><br />Ao explorar a imagem da guerra para impor sua vontade aos adversários – inclusive o povo –, o PT reafirma seu espírito totalitário. A democracia, segundo essa visão, só é válida enquanto o partido não vê seu poder ameaçado. No momento em que forças de oposição conseguem um mínimo de organização e em que a maioria dos eleitores condena seu modo de governar, então é hora de “aperfeiçoar” a democracia – senha para a substituição do regime representativo, com alternância no poder, por um sistema de governo que possa ser totalmente controlado pelo PT, agora e sempre.Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-7474949180746817352015-02-18T11:42:00.001-03:002015-02-18T11:42:54.951-03:00Câmara no comando<div>
<span style="font-size: 0px; line-height: 0px;"><br /></span></div>
<span style="font-size: 0px; line-height: 0px;">PorO material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:</span><a href="http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-desmonte-dos-incentivos-imp-,1635866" style="border: 0px; font-size: 0px; font-stretch: inherit; line-height: 0px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-desmonte-dos-incentivos-imp-,1635866</a><div>
<span style="color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px;">por <a href="http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,camara-no-comando-imp-,1634696" target="_blank">João Bosco Rabello, no Estadão de 15/02/2015</a></span></div>
<div>
<span style="color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px;">O desenho parlamentarista que ganhou a recém-iniciada gestão de Eduardo Cunha, com a transferência do poder político para a Câmara, é a expressão mais forte da consistência que o PMDB obteve em sua reação à tentativa do PT de reduzir seu espaço no contexto partidário.</span><div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Mas o curso dos acontecimentos na Câmara não pode mais ser atribuído apenas a essa disputa. Ela está na raiz do comportamento hostil do PMDB, mas encontra sintonia com o sentimento de reafirmação do Poder Legislativo, há anos subjugado pela força do Executivo, que Eduardo Cunha habilmente materializou em uma espécie de voto de desconfiança próprio dos regimes de gabinete.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Nesse aspecto reside a maior dificuldade do governo. A afirmação do PMDB, que tem motivação estritamente partidária, contaminou a Câmara e atinge frontalmente o PT, cujo comportamento sectário e excludente, tanto no governo quanto no ambiente legislativo, produz agora seus efeitos.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
O insucesso da articulação política do governo, portanto, não se explica apenas pela insuficiência dos perfis com delegação presidencial para exercê-la, embora esta seja uma realidade indiscutível. É um enredo que o PT construiu na fase Lula ao dar ao aliado tratamento menor baseado em resultados políticos de vida curta.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
De bela fachada, o governo era casa de alicerces frágeis. Quando explodiram as manifestações de junho de 2013, viu-se que o País não tivera gestão nos 12 anos de poder petista.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
O PMDB assistiu à soberba do rival na base aliada com a paciência de quem sabe que o diabo é o diabo porque é velho e esperou o melhor momento para dar o bote. E o melhor momento do partido corresponderia necessariamente ao pior momento do governo.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Era, pois, uma questão de tempo que o PT não viu passar, consumido pelas denúncias de corrupção que o levou ao banco dos réus e à condenação pelo Poder Judiciário de seus dirigentes mais históricos. Passou à negação como método, perdeu capital político expressivo, e volta agora à mesma situação do mensalão, ampliada em dimensão e gravidade.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
É nesse ambiente que prospera a tese do impeachment, que diverte o PSDB, mas que tem origem no mesmo PMDB que aprisionou o governo Dilma e que deverá perder força com a divulgação dos nomes de parlamentares do partido alcançados pelo inquérito do "petrolão"no Supremo Tribunal Federal, prevista para os próximos dias.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
O que apenas nivela por baixo a base de sustentação do governo, o que não melhora a situação, apenas a agrava.</div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-56807347432350678732014-07-14T10:28:00.002-03:002014-07-14T10:28:54.468-03:00Os 800 anos da Magna Carta<header style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><h1 class="titulo" style="border: 0px; color: black; font-family: EstLineBold, 'Times New Roman'; font-size: 50px; font-weight: normal; line-height: 59px; margin: -15px 0px 0px; padding: 0px 0px 46px; position: relative; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #4d4d4f; font-family: EstLineBold, Times; font-size: 10px; line-height: 21px; text-transform: uppercase;">por<a href="http://diplomatizzando.blogspot.com.br/" target="_blank"> PAULO ROBERTO DE ALMEIDA</a> -<a href="http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-800-anos-da-magna-carta-imp-,1528314" target="_blank"> O ESTADO DE S.PAULO</a> - </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10px; line-height: 12px;">14 Julho 2014 |</span></h1>
</header><div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Dentro de pouco menos de um ano (mais exatamente em 15 de junho de 2015), a Magna Carta completará 800 anos. Os interessados em conhecer o seu conteúdo, em inglês moderno, podem consultar no site dos Arquivos Nacionais americanos o link<a href="http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/magna_carta/translation.html" style="border: 0px; color: #4d4d4f; font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" target="_blank">http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/magna_carta/translation.html</a>. Uma explicação contextualizada sobre o seu significado histórico, e sobre a influência que ela teve na formação do constitucionalismo americano e no próprio espírito do povo americano, figura nestes dois outros links da mesma instituição, bastante instrutivos, por sinal:<a href="http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/magna_carta/" style="border: 0px; color: #4d4d4f; font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" target="_blank">http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/magna_carta/</a> e<a href="http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/magna_carta/legacy.html" style="border: 0px; color: #4d4d4f; font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;" target="_blank">http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/magna_carta/legacy.html</a>.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
A Carta é uma espécie de obrigação formal assumida por um rei substituto com barões ingleses revoltados, mas ela constitui, sem dúvida alguma, a base de todas as liberdades modernas, a do princípio democrático, a do governo pelo consentimento dos governados, a da taxação com representação, a do respeito à propriedade pessoal e a do devido processo legal. "Nenhum homem livre", lê-se num de seus parágrafos, "será preso ou destituído de suas posses, ou considerado fora da lei, ou exilado, ou de alguma forma prejudicado (...), salvo mediante um julgamento legal pelos seus pares ou pela lei do país. A ninguém será negado o direito ou a justiça." Antes de apor suas assinaturas, os barões confirmavam: "Todos os costumes e liberdades acima citados, que nós garantimos existir neste reino que a nos pertence, têm de ser observados por todos, religiosos ou laicos, e todos devem respeitá-los com respeito a todos os demais".</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Seria interessante, a esse respeito, focar sobre o caso brasileiro para tentar determinar, exatamente, até onde ainda não chegamos em relação à aplicação plena dos princípios da Carta. Os barões da Inglaterra medieval estavam se revoltando contra um rei ladrão, João Sem Terra, que foi obrigado a assinar um compromisso de consultar os seus súditos nos casos especificados na Magna Carta. No nosso caso é um pouco diferente, o que complica as coisas: aqui talvez haja uma conivência entre os barões e os ladrões.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Quando os nossos barões - que por enquanto são só ladrões - se revoltarem contra a prepotência do Estado, contra as exações fiscais do príncipe, contra a falta de representação real no corpo parlamentar, contra as deformações da democracia, contra a corrupção (que eles mesmos patrocinam, ao comprar parlamentares, ao sustentar lobistas, ao subsidiar partidos mafiosos), contra as políticas especiais de puxadinhos e improvisações (que eles mesmos, ademais, pedem ao Estado todo-poderoso), quando, enfim, os barões capitalistas conseguirem conduzir uma fronda empresarial contra o Estado, contra os corruptos que eles mesmos colocaram no poder, então, talvez, nos aproximaremos um pouco, pelo menos, dos valores e princípios da Carta de 1215.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Estamos um pouco atrasados, como todos podem constatar. Mas não só nós.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Os franceses também, pois só foram conduzir uma fronda aristocrática depois que os ingleses já haviam decapitado um rei, que abusava justamente de seus poderes. Estes consentiram com o início de outro reinado, depois de uma breve experiência republicana - um pouco sangrenta, para qualquer padrão -, mas resolveram tirar esse mesmo rei, desta vez pacificamente, depois que ele resolveu ser tão arbitrário quanto o decapitado, pretendendo retomar os antigos hábitos absolutistas da sua família. Os ingleses, então, "importaram" uma nova dinastia do continente, aprovaram um Bill of Rights que limitava sensivelmente - na verdade, podava totalmente - os poderes do novo soberano e desde então vivem pacificamente com os seus soberanos de teatro (mais para commedia dell'arte do que tragédias shakespearianas). Em todo caso, eles são a mais velha democracia do mundo, em funcionamento contínuo desde 1688.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Foram seguidos mais tarde, ainda que no formato republicano, mas absorvendo todas as bondades da Magna Carta e do Bill of Rights, por seus expatriados da Nova Inglaterra e das demais colônias, que se revoltaram justamente quando os ingleses, ou melhor, o seu rei empreendeu uma tosquia muito forte nos rendimentos dos colonos, decidindo aumentar as taxas sobre o chá e cobrar outros impostos. Ah, os impostos...</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
A fronda dos americanos foi uma revolução, como eles a chamam, mas com isso criaram a primeira democracia moderna da História, que se mantém até hoje, com a mesma Constituição original e algumas poucas emendas. Enquanto isso, os franceses estavam guilhotinando o seu rei, para construírem um poder ainda centralizado e opressor.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Não se pode, obviamente, comparar a Constituição americana com nenhuma das nossas sete Cartas Constitucionais - com dois ou três grandes remendos no curso de nossa História autoritária - e as dezenas, quase uma centena, de emendas à mais recente delas (talvez não a última), tratando dos assuntos mais prosaicos. Tem uma que regula trabalho de domésticas. Alguma outra Constituição abriga algo tão bizarro? Nada contra trabalhadores domésticos, mas não creio que eles devam figurar numa Constituição.</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Enfim, os nossos barões, que também são extorquidos pelos príncipes que nos governam, não parecem ter muita disposição para mudar o cenário, menos ainda para decapitar algum soberano. Talvez devessem: quando a carga fiscal passar de 40%, por exemplo, quem sabe eles resolvem fazer a sua fronda empresarial? Afinal de contas estamos falando de dois quintos da riqueza produzida pela sociedade que são apropriados pelo Estado, o que representa duas derramas coloniais. Pela metade disso Tiradentes e seus amigos se revoltaram contra a prepotência da Coroa. Libertas quae sera tamen?</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor</div>
<div style="border: 0px; color: #414042; font-family: Georgia, Times; font-size: 15px; line-height: 24px; padding: 0px 0px 10px; vertical-align: baseline;">
UNIVERSITÁRIO (<a href="http://diplomatizzando.blogspot.com.br/" target="_blank">DIPLOMATIZZANDO. BLOGSPOT.COM</a>)</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-8475957238226029202014-05-21T11:45:00.000-03:002014-05-21T11:49:12.869-03:00Conservadores e Direita<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<br />
Por João Pereira Coutinho*, para a <a href="http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1064/noticias/nos-os-de-direita" target="_blank">Revista Exame</a> (edição 1064, de 30/04/2014)</div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">"Explicar o conservadorismo é uma
atitude pouco conservadora. Não há nada para explicar: quando existem valores
ou instituições que sobreviveram aos testes do tempo, não é o conservador que
tem de justificar essa sobrevivência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">São os outros, progressistas de várias
escolas ou feitios, que devem mostrar por que motivo o que existe e resiste tem
de ser alterado ou destruído.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">No fundo, a diferença entre
conservadores e progressistas pode ser resumida em duas perguntas. Os
progressistas, confrontados com uma possibilidade de mudança, perguntam: ‘E por
que não?’ Os conservadores preferem a pergunta inversa: ‘E por que sim?’<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Resumindo uma longa história, o
conservadorismo é o tipo de ideologia para pessoas que não estão apaixonadas
por elas próprias. Não é fácil, eu sei. Um dos projetos da modernidade foi
colocar o indivíduo no centro do palco, alimentando nele uma importância
narcísica que seria cômica se não tivesse conduzido a resultados tão trágicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">O conservadorismo é a ideologia que
relembra aos homens nossas limitações intelectuais para conduzir a sociedade
rumo a um fim perfeito. Sabemos menos do que pensamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Controlamos menos do que desejamos.
Nada disso seria problemático se a política fosse uma atividade solitária, como
pintar uma tela ou escrever um romance.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Falhar, nessas áreas, pode ser
instrutivo ou mesmo nobre. O problema é que a <b><a href="http://www.exame.com.br/topicos/politica"><span style="color: blue;">política </span></a></b>tem
implicações sobre a vida de milhares ou milhões de seres humanos. Falhar, em
política, é usar vidas alheias na busca de projetos individuais de poder.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Acreditar que uma espécie
intelectualmente imperfeita pode conduzir a humanidade para resultados
perfeitos será sempre a típica receita para o desastre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Tendo isso em mente, duas categorias de
seres humanos merecem destaque: os revolucionários e os reacionários. Ambos têm
um entendimento do conservadorismo que oscila entre a ignorância e a má-fé.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Os primeiros identificam o
conservadorismo com todo tipo de aberrações autoritárias, ou mesmo totalitárias,
que são o oposto do conservadorismo cético e pluralista que se procura
defender.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Pensar que Hitler ou Mussolini eram
‘conservadores’ não é apenas ignorância filosófica. É tentar transformar o
conservadorismo — uma ideologia geneticamente antiutópica e antirrevolucionária
— em algo que o conservadorismo não é.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">O mesmo se aplica à longa casta de
reacionários que transportam para a política o tipo de mentalidade radical que
o conservadorismo condena.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Recusar o presente com nostalgias do
passado — ou, no mínimo, com a ideia insana de que é possível e desejável
travar o progresso — é tão perigoso e patológico como procurar utopias
futuras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Existe, porém, uma questão evidente que
merece reflexão: por que motivo a palavra ‘conservador’ (ou a vulgar expressão
‘ser de direita’) adquiriu contornos tão pecaminosos no Brasil e no meu próprio
país, Portugal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">A resposta não é metafísica, mas histórica:
com duas ditaduras de direita no cardápio, houve uma espécie de
deslegitimização da direita nos dois países.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Como se o autoritarismo do regime
militar brasileiro ou do Estado Novo lusitano esgotasse todos os sentidos da
palavra ‘direita’, reduzida a um conceito repressivo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Esse abuso é tão absurdo quanto
acreditar que uma pessoa de esquerda apoia, por definição, a abolição da
propriedade privada, o fim da liberdade individual ou o uso de campos de trabalhos
forçados — como foram os gulags na antiga União Soviética. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Um conservador não deve intrometer-se
em discussões de fanáticos — de esquerda ou de direita — que reduzem a
complexidade da sociedade política a uma luta maniqueísta entre bons e maus.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Um conservador sabe que é possível e
desejável repudiar os ex-presidentes Emílio Garrastazu Médici, no Brasil, e
António de Oliveira Salazar, em Portugal, da mesma forma que repudiamos Fidel
Castro e seu algoz Che Guevara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Em suma, um conservador entende que
defender ditadores não é coisa de gente civilizada.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Felizmente, existe hoje uma nova
geração de conservadores — no Brasil e em Portugal — que recusa esses
maniqueísmos pela afirmação fundamental de que existem valores básicos para o
funcionamento de qualquer sociedade decente e afluente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Para essa geração, a democracia não
está em discussão: como disse o ex-premiê inglês Winston Churchill, a
democracia continua sendo o pior regime político, com a exceção de todos os
outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">É também uma geração que preza as
liberdades individuais; que respeita as diferentes concepções do bem que
existem em qualquer sociedade pluralista; e que não espera do Estado a solução
milagrosa para todos os problemas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Esse último quesito é especialmente
importante em dois países com fortíssima tradição patrimonialista. No caso
português, o Estado foi, desde o início do século 12, o agente central da
independência, da segurança e da exploração econômica interna e externa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Uma herança que os portugueses deixaram
aos brasileiros, como se comprova em qualquer pesquisa de opinião pública sobre
o assunto: sempre que a questão lida com uma maior intervenção estatal, existe
uma maioria que responde afirmativamente a essa intromissão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">É uma maioria que, apesar de tudo, está
encolhendo à medida que a corrupção, a ineficiência e a burocracia estatais
continuam a fazer do Brasil o eterno país de um futuro que continua adiado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Razão tinha o intelectual americano
Irving Kristol: as principais lições políticas acontecem quando somos forçados
a encarar a realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">É fato que essa nova geração de
conservadores dos dois lados do Atlântico vem encontrando em autores clássicos,
como Edmund Burke e Benjamin Disraeli, ou em contemporâneos, como John Kekes e
Roger Scruton, sólidos alicerces para a reflexão e a ação política.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Com eles, é possível aprender que a
política não é um exercício criativo, em que uma elite impõe sobre a comunidade
um projeto, um plano, uma visão. Como alguém dizia, sempre que um político tem
visões, o melhor é ele procurar um médico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Governar é atender às necessidades
reais de uma comunidade real. É saber servir essa sociedade — e nunca servir-se
dela para cumprir torpes desejos ou ambições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Governar é reformar o que não funciona,
conservando o que merece ser conservado. Governar é jamais impor sobre a vida
de terceiros uma única hierarquia de valores e comportamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Governar é respeitar a lei e não ceder
aos caprichos arbitrários dos homens. Governar é garantir esse espaço de liberdade
em que cada indivíduo procura melhorar sua condição de vida e, ainda segundo o
grande economista Adam Smith, participar do sistema de liberdade natural a que
hoje damos o nome de mercado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Finalmente, governar é exercer o poder
— temporariamente, humildemente —, e não detê-lo com a avareza doentia de quem
se agarra a um tesouro roubado. Quem se julga dono de um país só pode tratar os
cidadãos como servos ou escravos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Tudo isso pode parecer pouco para quem
tem da política uma visão inflamada e romântica. A política não pode ser um
exercício inflamado e romântico, mas realista e prudente.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;">Até porque existem lugares mais
adequados e privados para as inflamações saudáveis do romantismo.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11.5pt;">* </span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Doutor em Ciência Política e Relações Internacionais
na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, onde também é professor do
Instituto de Estudos Políticos. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">É colunista do Correio da Manhã (Portugal) e da Folha de S. Paulo (Brasil)</span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">http://www.jpcoutinho.com/</span></span></div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-4087411314498373572013-11-27T09:09:00.001-03:002013-11-27T09:09:15.567-03:00Alma de continente<div class="bb-md-noticia-autor" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; margin: 0px; padding: 18px 0px 8px;">
YOANI SÁNCHEZ, no <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,alma-de-continente--,1099978,0.htm" target="_blank">Estadão de 27/11/2013</a></div>
<div class="corpo" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Os contrastes, os anacronismos, são parte inseparável de Cuba. As sombras e as luzes compõem essa realidade que entrou aos tropeços no século 21. Um poeta definiu a insularidade com uma frase que pode ser confirmada a cada passo: "A maldita circunstância da água por todos os lados". É isso mesmo: mar, mar e mar, por todos os lados.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Não só as águas azuis onde as crianças mergulham, mas também um mar de nostalgias, isolamentos, sonhos e balseros. Um país difícil de decifrar, até para os que nasceram nele. Aqui, tudo anda mais devagar, como se a vida fosse mostrada em câmara lenta. O efeito que as velharias provocam é reforçado pelos casarões para os quais ainda não chegou a hora de dar lugar a arranha-céus. Joias arquitetônicas com colunas rachadas pelos anos e pela falta de recursos. Pisos de mosaicos e arabescos, os abajures com lágrimas de cristal conservados pela avó. O esplendor ao lado da necessidade.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Longe do centro histórico, com seus hotéis e opulentos restaurantes, estende-se a verdadeira Havana. A qualquer hora, surpreende a quantidade de gente pelas ruas. Estamos diante de uma cidade pedestre, em parte porque durante décadas a compra e venda de carros foi proibida. Por isso, o cubano está acostumado a andar ou a esperar horas a fio pelo ônibus. Isto reforça a impressão de imobilismo.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A espera é um dos elementos inerentes à identidade da ilha. Uma piada popular garante que o "ioga deve ter sido inventado em Cuba", dada a paciência das pessoas nas enormes filas e com os prolongados governos. Mas, na hora da diversão e do baile, é como se o ponteiro dos minutos andasse mais rápido, saltando. Hoje, Havana conserva algo desse glamour notâmbulo que a tornou famosa como "a Babilônia do Caribe" na primeira metade do século 20.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A dualidade monetária - entre o peso cubano e o conversível - determina o tipo de diversão à qual se pode ter acesso. Os mais pobres fazem suas bebidas em casa, com álcool barato, um pouco de açúcar e limão. Mas, de uns anos para cá, também proliferam os bons restaurantes, conhecidos como paladares. A cozinha crioula mistura-se com a internacional nesses lugares que prosperaram graças às flexibilizações econômicas dos últimos anos.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Os turistas são seus principais clientes, mas também os cubanos no exílio ou a emergente classe empresarial. Perto da meia-noite, pode até aparecer algum figurão do governo que trocou o verde-oliva por um traje à paisana. Entretanto, a magia principal não está no presente. Curiosamente, as duas atrações principais ainda são o passado e o futuro.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O que foi, com seus carros antigos e o orgulho de ter uma cidade que compartilhava astros em cartaz com Paris, Nova York e Buenos Aires. Apesar disso, uma força contrária o obriga a olhar para o que virá. Porque Cuba é um país com potencial oculto.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Aqui, o absurdo está em toda parte. Desde a especialista em estomatologia que come uma pizza enquanto atende o paciente com dor de dente até o trâmite complicado para excluir o defunto da lista do mercado de produtos racionados. Inexplicável cotidianidade, mas também cativante. A unidade habitacional principal do cubano está nos edifícios conhecidos como solares, antigas mansões que o tempo e as dificuldades econômicas foram dividindo e povoando com múltiplas famílias. O pátio central, o banheiro coletivo, o terraço onde os adolescentes criam pombas, as roupas de cor indecifrável penduradas nos varais. O dominó, a solidariedade das pessoas e uma mãe que berra o nome do filho da sacada: "Yunisleidy!"</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Uma semana não é suficiente, um hotel não é suficiente, um olhar da janela do ônibus climatizado também não. Cuba deve ser vivida em suas ruas para se compreender suas contradições. Como o mercado ilegal de material de construção que floresce a poucos metros da Praça da Revolução.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Porque Cuba é uma ilha com anseios de continente, ávida por ser mais, por ir mais depressa, por chegar mais longe. Um país adolescente no qual cresceram braços e pernas, mas dentro de uma roupa apertada demais. Visitar sua realidade não deixa ninguém indiferente. Como um postal sépia. Em lugar de emoldurá-lo, somos obrigados a entrar nele, para viver sua realidade, sofrê-la e amá-la. <strong style="margin: 0px; padding: 0px;">/ </strong><em style="margin: 0px; padding: 0px;">TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA</em></div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;">YOANI SÁNCHEZ É JORNALISTA CUBANA E AUTORA DO BLOG GENERACIÓN Y</em></div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-61115898355309406022013-11-07T18:35:00.000-03:002013-11-07T18:35:28.632-03:00O Brasil e a ‘nação diaspórica’<div class="source" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #336c83; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; font-weight: bold; line-height: 17px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; text-transform: uppercase;">
POR <a href="http://oglobo.globo.com/opiniao/o-brasil-a-nacao-diasporica-10704825#ixzz2jzvk8r3b" target="_blank">DEMÉTRIO MAGNOLI, EM <i>O GLOBO</i></a></div>
<div class="created" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border-top-color: rgb(0, 0, 0); border-top-style: solid; border-top-width: 0px; color: #5a5a5a; display: inline-block; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; font-weight: bold; line-height: 12px; margin: 0px; padding: 0px 0px 4px; text-rendering: optimizelegibility;">
<span class="label" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; display: inline-block; font-weight: normal; text-rendering: optimizelegibility;">Publicado:</span> <time datetime="2013-11-7T0:00" property="na:datePublished" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; margin: 0px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">7/11/13</time></div>
<br /><div>
<br /></div>
<div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
A gloriosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece cotas raciais na representação parlamentar do povo. Ignorando tanto a Constituição quanto a Justiça, a CCJ aprova qualquer coisa que emane de um grupo de interesse organizado, o que é um sintoma clamoroso da desmoralização do Congresso. Nesse caso, viola-se diretamente o princípio fundamental da liberdade de voto. Por isso, a PEC de autoria dos petistas João Paulo Cunha (SP) e Luiz Alberto (BA) provavelmente dormirá o longo sono dos disparates nos escaninhos da Câmara. Mas ela cumpre uma função útil: evidencia o verdadeiro programa do racialismo, rasgando a fantasia com que se adorna no debate público.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
O argumento ilusionista para a introdução de cotas raciais no ingresso às universidades residia na suposta desvantagem escolar prévia dos “negros” — algo que, de fato, é uma desvantagem prévia dos pobres de todas as cores de pele. A fantasia da compensação social começou a esgarçar-se com a extensão das cotas raciais para cursos de pós-graduação, cujas vagas são disputadas por detentores de diplomas universitários. A PEC aprovada na CCJ comprova que as políticas de raça não são motivadas por um desejo de corrigir distorções derivadas da renda. O racialismo exibe-se, agora, como ele realmente é: um programa de divisão dos brasileiros segundo o critério envenenado da raça.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
De acordo com a PEC, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas estaduais, será reservada uma parcela de cadeiras para parlamentares “negros” equivalente a dois terços do percentual de pessoas que se declaram pretas ou pardas no mais recente censo demográfico. As bancadas “negras” não serão inferiores a um quinto ou superiores à metade do total de cadeiras. Os deputados proponentes operam como despachantes de ONGs racialistas e expressam, na PEC, a convicção política que as anima: o Brasil não é uma nação, mas um espaço geopolítico no qual, sob a hegemonia dos “brancos”, pulsa uma “nação africana” diaspórica. A presença parlamentar de bancadas “negras” representaria o reconhecimento tácito tanto da inexistência de uma nação brasileira quanto da existência dessa nação na diáspora.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
Os eleitores, reza a PEC, darão dois votos: o primeiro, para um candidato de uma lista geral; o segundo, para um candidato de uma lista de “negros”. A proposta desvia-se, nesse ponto, de uma férrea lógica racialista. Segundo tal lógica, os eleitores deveriam ser, eles também, bipartidos pela fronteira da raça: os “negros” votariam apenas na lista de candidatos “negros” e os demais, apenas na lista geral. A hipótese coerente não violaria o princípio da liberdade de voto, pois estaria ancorada num contrato constitucional de reconhecimento da nação diaspórica. Como inexiste esse contrato, os racialistas optaram por um atalho esdrúxulo, que escarnece da liberdade de voto com a finalidade de, disfarçadamente, inscrever a nação diaspórica no ordenamento político e jurídico do país.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
Nações não são montanhas, rios ou vales: não existem como componentes do mundo natural. Na expressão certeira de Benedict Anderson, nações são “comunidades imaginadas”: elas podem ser fabricadas na esfera da política, por meio das ferramentas do nacionalismo. A PEC não caiu do céu. A “nação africana” na diáspora surgiu no nacionalismo negro do início do século XX com o americano W. E. B. Du Bois e o jamaicano Marcus Garvey. No Brasil, aportou cerca de três décadas atrás, pela nau do Movimento Negro Unificado, entre cujos fundadores estava Luiz Alberto. No início, a versão brasileira do nacionalismo negro tingia-se com as cores do anticapitalismo. Depois, a partir da preparação da Conferência de Durban, da ONU, em 2001, adaptou-se à ordem vigente, aninhando-se no colo bilionário da Fundação Ford. “Afro-americanos”, nos EUA, e “afrodescendentes”, no Brasil, são produtos identitários paralelos dessa vertente narrativa.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
O acento americano do discurso racialista brasileiro é tão óbvio quanto problemático. Nos EUA, o projeto político de uma identidade negra separada tem alicerces sólidos, fincados nas leis de segregação que, depois da Guerra de Secessão, traçaram uma linha oficial entre “brancos” e “negros”, suprimindo no nascedouro a possibilidade de construção de identidades intermediárias. No Brasil, em contraste, esse projeto choca-se com a noção de mestiçagem, que funciona como poderoso obstáculo no caminho da fabricação política de raças. A solução dos porta-bandeiras do nacionalismo negro é impor, de cima para baixo, a divisão dos brasileiros em “brancos” e “negros”. As leis de cotas raciais servem para isso, exclusivamente.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
As diferenças históricas entre EUA e Brasil têm implicação direta na gramática do discurso político. Lá, o nacionalismo negro é uma proposição clara, que provoca um debate público informado — e, quando Barack Obama se define como mestiço, emerge uma resposta desconcertante no cenário conhecido da polaridade racial. Aqui, os arautos do nacionalismo negro operam por meio de subterfúgios, escondendo-se atrás do pretexto fácil da desigualdade social — e encontram políticos oportunistas, juízes populistas e intelectuais preguiçosos o suficiente para conceder-lhes o privilégio da prestidigitação.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
“Tirem a máscara!” — eis a exigência que deve ser dirigida aos nossos racialistas, na hora em que apresentam a PEC do Parlamento Racial. Saiam à luz do dia e conclamem o Brasil a escrever uma nova Constituição, redefinindo-se como um Estado binacional. Digam aos brasileiros que vocês não querem direitos iguais e oportunidades para todos numa república democrática, mas almejam apenas a condição de líderes políticos de um movimento racial. Vocês não têm vergonha de ocultar seu programa retrógrado à sombra da persistente ruína de nossas escolas públicas?</div>
<span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; text-rendering: optimizelegibility;"><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; text-rendering: optimizelegibility;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; text-rendering: optimizelegibility;" />Leia mais sobre esse assunto em <a href="http://oglobo.globo.com/opiniao/o-brasil-a-nacao-diasporica-10704825#ixzz2jzvk8r3b" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; color: #003399; text-decoration: none; text-rendering: optimizelegibility;">http://oglobo.globo.com/opiniao/o-brasil-a-nacao-diasporica-10704825</a><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; text-rendering: optimizelegibility;" />© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.</span></div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-51837652508710956402013-11-04T20:36:00.001-03:002013-11-04T20:36:56.700-03:00Sem complacência<p><strong style="font-style: italic; -webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, </strong><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">no Estadão de 03/11/2013</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">As notícias da semana que terminou não foram auspiciosas, nem no plano internacional nem no local. Uma decisão da Corte Suprema da Argentina, sob forte pressão do governo, sancionou uma lei que regula a concessão de meios de comunicação. Em tese, nada de extraordinário haveria em fazê-lo. No caso, entretanto, trata-se de medida tomada especificamente contra o grupo que controla o jornal <em>El Clarín</em>, ferrenho adversário do kirchnerismo. Cerceou um grupo de comunicação opositor ao governo sob pretexto de assegurar pluralidade nas normas de concessão. Há, contudo, tratamento privilegiado para o Estado e para as empresas amigas do governo.</span></p>Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-63747903491029434822013-07-07T22:56:00.002-03:002013-07-07T22:56:38.961-03:00Tempos difíceis<div style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 25px 0px 0px; padding: 0px;">
<img alt="FERNANDO HENRIQUE CARDOSO" border="0" height="120" src="http://img.estadao.com.br/fotos/635x120/fernando-henrique-cardoso-testeira.jpg" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px;" width="635" /></div>
<div class="bb-md-noticia" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<a accesskey="1" href="" name="conteudo" style="margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"><img alt="Início do conteúdo" src="http://www.estadao.com.br/estadao/novo/img/blank.gif" style="border: none; margin: 0px; padding: 0px;" /></a><h1 style="color: #010101; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 35px; font-weight: normal; line-height: 34px; margin: 4px 0px 0px; padding: 0px 0px 15px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16px;"><br /></span></h1>
<h1 style="color: #010101; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 35px; font-weight: normal; line-height: 34px; margin: 4px 0px 0px; padding: 0px 0px 15px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16px;">POR FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, no <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,tempos-dificeis-,1050959,0.htm" target="_blank">Estadão de 07.07.2013</a>.</span></h1>
<div id="bb-md-noticia-tabs" style="margin: 29px 0px 0px; padding: 0px;">
<div class="bb-md-noticia_tab" id="bb-md-noticia-tabs-1" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="texto-noticia" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="corpo" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Já se disse tudo, ou quase tudo, sobre os atos públicos em curso. Para quem acompanha as transformações das sociedades contemporâneas não surpreende a forma repentina e espontânea das manifestações.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Em artigo publicado nesta coluna, há dois meses, resumi estudos de Manuel Castells e de Moisés Naím sobre as demonstrações na Islândia, na Tunísia, no Egito, na Espanha, na Itália e nos Estados Unidos. As causas e os estopins que provocaram os protestos variaram: em uns, a crise econômico-social deu ânimo à reação das massas; em outros, o desemprego elevado e a opressão política foram os motivos subjacentes aos protestos.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Tampouco as consequências foram idênticas. Em algumas sociedades onde havia o propósito específico de derrubar governos autoritários, o movimento conseguiu contagiar a sociedade inteira, obtendo sucesso. Resolver uma crise econômico-social profunda, como nos países europeus, torna-se mais difícil. Em certas circunstâncias, consegue-se até mesmo alterar instituições políticas, como na Islândia. Em todos os casos mencionados, os protestos afetaram a conjuntura política e, quando não vitoriosos em seus propósitos imediatos, acentuaram a falta de legitimidade do sistema de poder.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Os fatos que desencadeiam esses protestos são variáveis e não necessariamente se prendem à tradicional motivação da luta de classes. Mesmo em movimentos anteriores, como a "revolução de maio" em Paris (1968), que se originou do protesto estudantil "por um mundo melhor", tratava-se mais de uma reação de jovens que alcançou setores médios da sociedade, sobretudo os ligados às áreas da cultura, do entretenimento, da comunicação social e do ensino, embora tivesse apoiado depois as reivindicações sindicais. Algo do mesmo tipo se deu na luta pelas Diretas-Já. Embora antecedida pelas greves operárias, ela também se desenvolveu a partir de setores médios e mesmo altos da sociedade, aparecendo como um movimento "de todos". Não há, portanto, por que estranhar ou desqualificar as mobilizações atuais por serem movidas por jovens, sobretudo das classes médias e médias altas, nem, muito menos, de só por isso considerá-las como vindas "da direita".</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O mais plausível é que haja uma mistura de motivos, desde os ligados à má qualidade de vida nas cidades (transportes deficientes, insegurança, criminalidade), que afetam a maioria, até os processos que atingem especialmente os mais pobres, como dificuldade de acesso à educação e à saúde e, sobretudo, baixa qualidade de serviços públicos nos bairros onde moram e dos transportes urbanos. Na linguagem atual das ruas, é "padrão Fifa" para uns e padrão burocrático-governamental para a maioria. Portanto, desigualdade social. E, no contexto, um grito parado no ar contra a corrupção - as preferências dos manifestantes por Joaquim Barbosa (ministro presidente do Supremo Tribunal Federal) não significam outra coisa. O estopim foi o custo e a deficiência dos transportes públicos, com o complemento sempre presente da reação policial acima do razoável. Mas se a fagulha provocou fogo foi porque havia muita palha no paiol.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A novidade, em comparação com o que ocorreu no passado brasileiro (nisso nosso movimento se assemelha aos europeus e norte-africanos), é que a mobilização se deu pela internet, pelos twitters e pelos celulares, sem intermediação de partidos ou organizações e, consequentemente, sem líderes ostensivos, sem manifestos, panfletos, tribunas ou tribunos. Correlatamente, os alvos dos protestos são difusos e não põem em causa de imediato o poder constituído nem visam questões macroeconômicas, o que não quer dizer que esses aspectos não permeiem a irritação popular.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Complicador de natureza imediatamente política foi o modo como as autoridades federais reagiram. Um movimento que era "local" - mexendo mais com os prefeitos e governadores - se tornou nacional a partir do momento em que a presidenta chamou a si a questão e a qualificou primordialmente, no dizer de Joaquim Barbosa, como uma questão de falta de legitimidade. A tal ponto que o Planalto pensou em convocar uma Constituinte e agora, diante da impossibilidade constitucional disso, pensa resolver o impasse por meio de plebiscito. Impasse, portanto, que não veio das ruas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A partir daí o enredo virou outro: o da relação entre Congresso Nacional, Poder Executivo e Judiciário e a disputa para ver quem encaminha a solução do impasse institucional, ou seja, quem e como se faz uma "reforma eleitoral e partidária". Assunto importante e complexo, que, se apenas desviasse a atenção das ruas para os palácios do Planalto Central e não desnudasse a fragilidade destes, talvez fosse bom golpe de marketing. Mas, não. Os titubeios do Executivo e as manobras no Congresso não resolvem a carestia, a baixa qualidade dos empregos criados, o encolhimento das indústrias, os gargalos na infraestrutura, as barbeiragens na energia, e assim por diante.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O foco nos aspectos políticos da crise - sem que se negue a importância deles - antes agrava do que soluciona o "mal-estar", criado pelos "malfeitos" na política econômica e na gestão do governo. O afunilamento de tudo numa crise institucional (que, embora em germe, não amadurecera na consciência das pessoas) pode aumentar a crise, em lugar de superá-la.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A ver. Tudo dependerá da condução política do processo em curso e da paciência das pessoas diante de suas carências práticas, às quais o governo federal preferiu não dirigir preferencialmente a atenção. E dependerá também da evolução da conjuntura econômica. Esta revela a cada passo as insuficiências advindas do mau manejo da gestão pública e da falta de uma estratégia econômica condizente com os desafios de um mundo globalizado.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;">FERNANDO HENRIQUE CARDOSO É SOCIÓLOGO E FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA</em> </div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-35059867656397713462013-07-01T09:49:00.000-03:002013-07-01T09:49:06.503-03:00Demofobia em marcha<div class="bb-md-noticia-autor" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 18px 0px 8px;">
por Roberto Romano*, no <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,demofobia-em-marcha-,1048604,0.htm" target="_blank">Estadão de 30/06/2013</a></div>
<div class="corpo" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<br /></div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Norberto Bobbio, em artigo muito lúcido, mostra que a democracia surge dos choques entre a praça e o palácio. Ele cita Guicciardini: "Entre o palácio e a praça existe uma densa névoa ou um muro tão grande que pouco sabe o povo sobre o que fazem os governantes e por que o fazem, como se o assunto dos dirigentes fosse algo feito na Índia". Atualizando a reflexão, Bobbio adianta que ainda não contamos com uma eficaz sociologia da praça. Manifestações de rua significam a multidão de pessoas indignadas com os palácios. A praça reúne muitos indivíduos, a sua forma aberta permite livres discussões. Quem para ela se dirige tem alvo comum: reivindicar direitos, ouvir líderes. "Na democracia representativa (...) a praça é a mais visível consequência do direito de reunião ilimitado quanto ao número de pessoas que possam exercitá-lo juntas e ao mesmo tempo" (Bobbio). Finaliza o pensador: "Palácio e praça são expressões polêmicas para designar, respectivamente, governantes e governados, sobretudo o seu relacionamento de incompreensão recíproca, estranheza, rivalidade, ainda hoje como no trecho de Guicciardini. (...) Vista do palácio a praça é o lugar da liberdade licenciosa; visto da praça o palácio é o lugar do poder arbitrário. Se cai a praça, o palácio também é destinado a cair" (Il Palazzo e la Piazza).</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
No ofício de analisar as formas de atuação coletiva, leio com frequência políticos, colegas da universidade, estudantes, sindicalistas, profissionais da imprensa. Fiquei preocupado com as visões da praça expressas em várias entrevistas e textos. O foco dado à baderna e ao vandalismo diminuiu muito a percepção do importante fenômeno. Terra onde o Estado domina a sociedade e se põe a serviço de setores diminutos nas políticas públicas, o Brasil demonstra, desde sua origem histórica, a demofobia que preside o absolutismo. A certidão política de batismo vem do século 16, quando a razão de Estado está no auge. Para os governantes e intelectuais que defendem a razão estatal, o mundo divide-se, como expõe Guicciardini, citado por Bobbio, entre quem merece respeito, porque vive nos palácios, e a plebe que habita a praça. Tal assimetria estabelece uma divisão na ordem coletiva (acima os dirigentes, abaixo os "cidadãos comuns"). Ela é a marca dos Estados que ainda não conhecem os efeitos das revoluções democráticas. Neles a multidão dos que pagam impostos obedece sem questionar. E quem controla os impostos manda sem prestar contas. A força democrática de um país é medida pelo vigor, nele, da prática cunhada pelos revolucionários ingleses, a accountability. As revoluções modernas ensinaram aos soberanos lições básicas de responsabilidade.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Os conservadores atacam os "simples cidadãos", neles vendo ameaças ao poder estabelecido. Eles exorcizam o "perigo" representado pela soberania popular. Sempre que o elo político é invocado, do Renascimento ao século 21, o povo, com seus conflitos, é posto fora dos escalões estatais porque, na lição platônica, ele segue o contrário da harmonia. François Hotmann, jurista e autor do tratado intitulado Franco Galia, teme o Her omnes (Senhor Todo Mundo), apelido dado por Lutero à massa. Os documentos gerados na literatura grega ou romana mostram desconfiança no povo. Este, para os latinos, é o "populo exturbato ex profugo", o "vulgus credulum, imprudens vel impudens, stolidum", etc. (Zvi Yavetz: La Plèbe et le Prince). "O povo", diz Etienne de la Boétie, "não tem meios para bem julgar porque é desprovido do que fornece ou confirma o bom juízo, as letras, os discursos e a experiência. Como não pode julgar, ele acredita nos outros. A multidão acredita mais nas pessoas do que nas coisas, ela é persuadida pela autoridade de quem fala, e não pelas razões ditas" (Mémoires touchant l'Édit de Janvier 1562).</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Gabriel Naudé, teórico do maquiavelismo que norteia o governo de Mazarino, diz ser preciso cautela com a "fera de múltiplas cabeças, vagabunda, errante, louca, estulta, sem freio, sem espírito nem julgamento. O juízo do povo sempre é tolo e seu intelecto, fraco. A populaça, fera cruel, enfurece e morde com frequência. Ela odeia as coisas presentes, deseja as futuras, celebra as pretéritas, sendo inconstante, sediciosa, briguenta, famélica de boatos, inimiga do repouso e da tranquilidade". A massa, arremata, é "inferior às feras, pior do que as feras e mil vezes mais tola dos que as feras" (Considérations Politiques sur les Coups d'État).</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Donoso Cortés, fonte de terríveis governos, não enxerga na pobreza a origem das massas revoltas. A inveja e o desejo de poder atravessam a praça, açulada pelos demagogos: "O germe revolucionário reside nos desejos superexcitados da multidão pelos tribunos que a exploram e beneficiam. 'Sereis como os ricos', vejam aí a fórmula das revoluções socialistas contra as classes médias. 'Sereis como os nobres', vejam aí a fórmula das revoluções das classes médias contra os nobres. 'Sereis como os reis', vejam aí a fórmula das revoluções dos nobres contra os reis". As manifestações que abalam o Brasil seriam expressões do ressentimento invejoso conduzido por ambiciosos e delirantes.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O juízo negativo sobre a praça gerou o Brasil de Vargas, de 1964 e do AI-5. A esquerda clássica ostenta idêntica ojeriza à rua. Basta recordar a doutrina leninista sobre a "consciência vinda de fora". No Partido, máquina feita para derrubar o Estado burguês e construir a ditadura "proletária", intelectuais superiores definiriam o destino das massas. Caso contrário, Sibéria nelas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
É tempo de mudar a visão da praça. É tempo de saudar a democracia, apesar dos seus percalços. É tempo de recusar regimes plebiscitários que reduzem a praça ao monossilábico "sim", ou "não". É tempo de iniciar o diálogo democrático. A etimologia e a semântica proclamam: democracia é poder do povo, não de privilegiados e palacianos operadores do poder estatal. Se cair a praça, ensina Bobbio, tombam os palácios. E o remédio é oferecido por Donoso Cortés: a ditadura.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;">*Roberto Romano, professor de ética e filosofia na Unicamp, é autor, entre outros livros, de 'O Caldeirão de Medeia' (Perspectiva)</em></div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-23107416289933139972013-06-26T10:00:00.002-03:002013-06-26T10:00:49.025-03:00Como tratar os professores profissionais<h1 style="background-color: white; color: #010101; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 35px; font-weight: normal; line-height: 34px; margin: 4px 0px 0px; padding: 0px 0px 15px;">
<br /><span style="color: #929292; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16px;"><a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,como-tratar-os-professores-profissionais,1047034,0.htm" target="_blank">CLÁUDIO DE MOURA CASTRO, NO ESTADÃO DE 26/06/2013</a> *</span></h1>
<div id="bb-md-noticia-tabs" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 29px 0px 0px; padding: 0px;">
<div class="bb-md-noticia_tab" id="bb-md-noticia-tabs-1" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="texto-noticia" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="corpo" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Afirmou categoricamente o diretor de uma das melhores escolas de Desenho Industrial, na Suíça: "Aqui não temos profissionais do ensino. O que temos são profissionais que ensinam". Na escola de artes plásticas da Corcoran Gallery, em Washington, apenas artistas com ateliês estabelecidos e operando comercialmente podem candidatar-se para as posições docentes. O novo diretor do Media Lab do MIT nem sequer tem curso de graduação!</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nas boas universidades do mundo, é consagrada a prática de usar acadêmicos para ensinar nas áreas científicas e nas humanidades. Em contraste, as disciplinas profissionais devem ser ensinadas por profissionais.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nas nossas terras, Érico Veríssimo só conseguiu ser professor de Literatura nos Estados Unidos, pois não tinha os diplomas exigidos aqui. Jacques Klein nunca foi convidado para ensinar piano em nenhuma universidade, pois, apesar de ser o maior pianista brasileiro, tampouco tinha os diplomas. Se Pelé fosse professor de futebol, o curso dele seria penalizado na avaliação, pois só tem o bacharelado.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Numa época em que quase não havia pós-graduação e, portanto, nem mestres nem doutores, fazia muito sentido criar incentivos robustos para estimular instituições e futuros professores a investirem em diplomas pós-graduados.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Mas é a velha história do pêndulo. Ora vai demais para um lado, ora volta para o outro. No momento, atingimos um paroxismo de diplomite. Esquecemos que diploma é um recibo de conhecimento, mas não pode virar o monopólio do saber. Mais ainda, há áreas em que o conhecimento não está nos diplomas, mas na experiência vivida no local de trabalho. Nelas, exigir diploma é quase uma garantia de falta do conhecimento prático que é o cerne do desempenho. De fato, sendo jovem a pós-graduação, não houve tempo para que muitos mestres e doutores adquirissem conhecimentos práticos. Com o regime de dedicação exclusiva, só podem adquiri-la se, ao longo da carreira docente, contrariarem a lei.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
É hora de empurrar o pêndulo de volta para o centro. O folclore universitário está recheado de casos grotescos de profissionais consagrados substituídos por jovens doutores sem quaisquer distinções, além do diploma. Faz tempo, substituíram um professor com um reles bacharelado por um recém-doutor. A se notar, defenestraram o grande arquiteto Sérgio Bernardes.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nunca aponho letrinhas ao meu nome, mas abro exceção, para demonstrar que não advogo em causa própria.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Como se contrapor ao furor e à máfia dos diplomados? O conserto é simples: Enquadram-se como equivalentes a especialista, mestre ou doutor pessoas com experiência profissional apropriada e ensinando aquelas disciplinas profissionais que correspondem a ela. Por exemplo, um compositor, um arquiteto, um advogado e um engenheiro que trabalham na área que ensinam deverão ser classificados como especialistas, mestres ou doutores. Isso, para efeitos de credenciamento, de salários ou de ocupar posições administrativas no departamento.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Igualmente necessário é que o MEC reajuste as suas avaliações, seja da graduação ou da pós-graduação. Hoje, as instituições são punidas com notas mais baixas por contratarem quem tem experiência, em vez de doutores que jamais trabalharam no assunto do curso. Sem mudar esse critério perverso, nada feito.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
É inevitável que um profissional requisitado e valorizado no mercado seja um professor horista. Portanto, as avaliações não devem penalizar a instituição que contrata profissionais experientes nesse regime. Nessas disciplinas, valem mais algumas horas de aula do engenheiro consagrado do que o tempo integral do jovem doutor que jamais fez um projeto de verdade.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Atualmente, um professor sem pós-graduação ensinando Cálculo 1 penaliza a avaliação do curso. O certo é que um doutor sem experiência na sua disciplina profissionalizante deveria também reduzir a nota.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Não estou propondo a criação de um enquadramento honoris causa ou notório saber, por envolver um rito pesado, já que são critérios de exceção. Aqui tratamos de regras que deveriam ser comuns e correntes para muitas disciplinas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Sugiro tratar como equivalentes ao de um pós-graduado os profissionais que têm experiência de trabalho na área da disciplina. Deve enquadrar-se como pós-graduado um engenheiro de sistemas, trabalhando na IBM, em redes de computação e ensinando esse mesmo assunto. Um compositor consagrado poderá ser considerado equivalente a um doutor.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Um engenheiro siderúrgico da Usiminas teria uma experiência profissional superior em densidade tecnológica à do encarregado de um alto forno em Itaúna. Um engenheiro da Microsoft seria mais experiente em sistemas operacionais do que alguém que trabalha na informática da prefeitura. O repertório técnico de um cardiologista do Einstein é mais amplo do que o de um médico que trabalha num hospital do interior.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Como sugestão, cinco anos de experiência na área do curso a ser ensinado seriam o mínimo para uma equivalência a mestre ou especialista. Para equivalência a doutor, pelo menos dez anos. Quanto mais sofisticado ou complexo o trabalho na empresa, mais elevada a equivalência. Quanto mais denso o nível tecnológico da empresa, mais alta seria a competência do candidato.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Esse enquadramento seria feito por comissões tripartites, formadas de profissionais da área, acadêmicos e representantes de empresas. Seria mais prático que as próprias Instituições de Ensino Superior (IES) tivessem suas comissões, fazendo o enquadramento do candidato e justificando o seu parecer. Caberia ao MEC apenas ratificar as recomendações.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Não há razões para crer que o ensino privado tenha interesse em inflacionar o currículo de algum professor, pois, quanto mais alto o classificarem, mais terão de pagar. E profissionais consagrados na área não são mais baratos do que jovens doutores.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
* CLÁUDIO DE MOURA CASTRO, M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO. </div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-19220031282400566822013-06-02T21:45:00.000-03:002013-06-02T21:45:14.477-03:00BEIJAR A CRUZ<h1 style="background-color: white; color: #010101; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 35px; font-weight: normal; line-height: 34px; margin: 4px 0px 0px; padding: 0px 0px 15px;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16px;">por FERNANDO HENRIQUE CARDOSO * - <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,beijar--a-cruz-,1037940,0.htm" target="_blank">O Estado de S.Paulo, em 02.06.2013</a></span></h1>
<div id="bb-md-noticia-tabs" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 29px 0px 0px; padding: 0px;">
<div class="bb-md-noticia_tab" id="bb-md-noticia-tabs-1" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="texto-noticia" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="corpo" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Já passou da hora de o governo do PT beijar a cruz. Afinal, muito do que ele renegou no passado e criticou no governo do PSDB passou a ser o pão nosso de cada dia da atual administração. A começar pelos leilões de concessão para os aeroportos e para a remodelação de umas poucas estradas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
No início procuravam mostrar as diferenças entre "nós" e "eles", em seu habitual maniqueísmo. "Nossos leilões", diziam, visam a obter a menor tarifa para os pedágios. Ou, então, afirmavam: nossos leilões mantêm a Infraero na administração dos aeroportos. Dessas "inovações" resultou que as empresas vencedoras nem sempre foram as melhores ou não fizeram as obras prometidas. Pouco a pouco estão sendo obrigados a voltar à racionalidade, como terão de fazer no caso dos leilões para a construção de estradas de ferro, cuja proposta inicial assustou muita gente, principalmente os contribuintes. Neles se troca a vantagem de a privatização desonerar o Tesouro pela obsessão "generosa" de atrair investimentos privados com o pagamento antecipado pelo governo da carga a ser transportada no futuro...</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Ainda que renitente em rever acusações feitas no passado (alguns insistem em repeti-las), a morosidade no avanço das obras de infraestrutura acabará por levar o governo petista a deixar de tentar descobrir a pólvora. Já perdemos anos e anos por miopia ideológica. O PT não conseguiu ver que os governos do PSDB simplesmente ajustaram a máquina pública e as políticas econômicas à realidade contemporânea, que é a da economia globalizada. Tomaram a nuvem por Juno e atacaram a modernização que fizemos como se fosse motivada por ideologias neoliberais, e não pela necessidade de engajar o Brasil no mundo da internet e das redes, das cadeias produtivas globais e de uma relação renovada entre os recursos estatais e o capital privado.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Sem coragem para fazer autocrítica, o petismo foi pouco a pouco assumindo o programa do PSDB e agora os críticos do mais variado espectro cobram deste o suposto fato de não ter propostas para o Brasil... Entretanto, a versão modernizadora do PT é "envergonhada". Fazem mal feito, como quem não está gostando, o que o PSDB fez e faria bem feito, se estivesse no comando.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Agora chegou a vez dos portos. Alberto Tamer - e presto homenagem a quem faleceu deixando um legado de lucidez em suas colunas semanais -, na última crônica que fez no jornal <strong style="margin: 0px; padding: 0px;">O Estado de S. Paulo</strong>, Foi FHC que abriu os portos (17/2), recordava o esforço, ainda no governo Itamar Franco, quando Alberto Goldman era ministro dos Transportes, para dinamizar a administração portuária, abrindo-a à cooperação com o setor privado, pela Lei 8.630, de 1993. Caro custou tornar viável aquela primeira abertura quando eu assumi a Presidência. Foi graças aos esforços do contra-almirante José Ribamar Miranda Dias, com o Programa Integrado de Modernização Portuária, que se conseguiu avançar.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Chegou a hora para novos passos adiante, até porque o Decreto 6.620 do governo Lula aumentou a confusão na matéria, determinando que os terminais privados só embarcassem "carga própria". Modernizar é o que está tentando fazer com atraso o governo Dilma Rousseff. Mas aos trancos e barrancos, sem negociar direito com as partes interessadas, trabalhadores e investidores, sem criar boas regras de controle público nem assumir claramente que está privatizando para aumentar a eficiência e diminuir as barreiras burocráticas. Corre-se o risco de repetir o que já está ocorrendo nos aeroportos e estradas: atrasos, obras mal feitas e mais caras, etc. No futuro ainda dirão que a culpa foi "da privatização"... Isso sem falar do triste episódio das votações confusas, tisnadas de suspeição, e de resultado final incerto no caso da última Lei dos Portos.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A demora em perceber que o Brasil estava e está desafiado a dar saltos para acompanhar o ritmo das transformações globais tem sido um empecilho monumental para as administrações petistas. No caso do petróleo, foram cinco anos de paralisação dos leilões. Quanto à energia em geral, a súbita sacralização do pré-sal (e, correspondentemente, a transformação da Petrobrás em executora geral dos projetos) levou ao descaso no apoio à energia renovável, de biomassa (como o etanol da cana-de-açúcar) e eólica. Mais ainda, não houve preocupação alguma com programas de poupança no uso da energia. Enfim, parecem ter assumido que, já que temos um mar de petróleo no pré-sal, para que olhar para alternativas?</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Acontece, entretanto, que a economia norte-americana parece estar saindo da crise iniciada em 2007-2008 com uma revolução tecnológica (de discutíveis efeitos ambientais, é certo) que barateará o custo da extração dos hidrocarburetos e colocará novos desafios ao Brasil. A incapacidade de visão estratégica, derivada da mesma nuvem ideológica a que me referi, acrescida de um ufanismo mal colocado, dificulta redefinir rumos e atacar com precisão os gargalos que atam nossas potencialidades econômicas ao passado.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Não é diferente do que ocorre com a indústria manufatureira, quando, em vez de perceber que a questão é reengajar nossa produção nas cadeias produtivas globais e fazer as reformas que permitam isso, se faz uma política de benefícios esporádicos, ora diminuindo impostos para alguns setores, ora dando subsídios ocultos a outros, quando não culpando o desalinhamento da taxa de câmbio ou os juros altos (os quais tiveram sua dose de culpa) pela falta de competitividade de nossos produtos.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
As dificuldades crescentes do governo em ver mais longe e administrar corretamente o dia a dia para ajustar a economia à nova fase do desenvolvimento capitalista global (como o PSDB fez na década de 1990) indicam que é tarde para beijar a cruz, até porque o petismo não parece arrependido. Melhor mudar os oficiantes nas eleições de 2014. </div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
* SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA </div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-69688326012195939562013-04-15T19:04:00.002-03:002013-04-15T19:04:55.586-03:00Marcados descompassos<br />
<div class="bb-md-noticia-autor" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; margin: 0px; padding: 18px 0px 8px;">
por Pedro S. Malan, publicado no <a href="https://www.blogger.com/Pedro%20S.%20Malan%20O%20Brasil%20%C3%A9%20um%20pa%C3%ADs%20extraordin%C3%A1rio%20em%20sua%20rica%20diversidade%20e%20enorme%20potencial,%20mas%20%C3%A9%20tamb%C3%A9m%20um%20pa%C3%ADs%20complexo%20de%20entender%20e%20dif%C3%ADcil%20de%20administrar%20-%20como%20cedo%20ou%20tarde%20percebem%20aqueles%20que%20se%20disp%C3%B5em%20a%20faz%C3%AA-lo.%20H%C3%A1%20custos%20de%20aprendizado,%20que%20levam%20os%20governantes%20a%20um%20gradual%20reconhecimento%20da%20exist%C3%AAncia%20dos%20limites%20do%20poss%C3%ADvel%20%C3%A0s%20suas%20a%C3%A7%C3%B5es%20no%20relativamente%20curto%20prazo%20de%20seus%20mandatos.%20%20O%20fato%20%C3%A9%20que%20no%20Brasil%20de%20hoje%20convivem,%20em%20mutante%20simbiose,%20partes%20modernas%20(que%20adquiriram%20express%C3%A3o%20relevante)%20e%20partes%20anacr%C3%B4nicas%20(que%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20subestimadas).%20E%20talvez%20por%20isso,%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20comporta%20mais%20variantes%20de%20messianismos%20salvacionistas,%20voluntarismos%20extremados%20e%20improvisados%20exerc%C3%ADcios%20de%20autoridade.%20Mesmo%20quando%20o%20governo%20tem%20popularidade%20e%20exibe%20avassaladora%20maioria%20no%20Congresso%20Nacional%20-%20embora%20exigindo%20complexas%20concess%C3%B5es%20da%20parte%20do%20Executivo.%20%20Na%20raiz%20desse%20aparente%20paradoxo%20est%C3%A1%20uma%20quest%C3%A3o%20de%20fundo%20colocada%20com%20a%20clareza%20habitual%20por%20Jos%C3%A9%20Murilo%20de%20Carvalho:%20%22A%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20democracia%20sem%20Rep%C3%BAblica%20me%20parece%20pouco%20vi%C3%A1vel.%20Rep%C3%BAblica%20significa%20coisa%20p%C3%BAblica,%20virtude%20c%C3%ADvica%20(...),%20exige%20predom%C3%ADnio%20da%20lei,%20igualdade%20perante%20a%20mesma,%20aus%C3%AAncia%20de%20privil%C3%A9gios%20e%20hierarquias%20sociais,%20cidad%C3%A3os%20ativos,%20governos%20respons%C3%A1veis%20e%20eficientes%20(...).%20Rep%C3%BAblica%20%C3%A9%20incompat%C3%ADvel%20com%20patrimonialismo,%20clientelismo,%20nepotismo%20e%20fisiologismo%22.%20%20Escreve%20o%20autor:%20%22Pode-se%20argumentar,%20como%20muitos%20fazem,%20que%20nossa%20democracia%20n%C3%A3o%20precisa%20de%20Rep%C3%BAblica,%20que%20aos%20trancos%20e%20barrancos%20vamos%20construindo%20a%20inclus%C3%A3o%20pol%C3%ADtica%20e%20social,%20e%20que%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20honestidade%20pol%C3%ADtica,%20bom%20governo,%20valores%20c%C3%ADvicos%20e%20institui%C3%A7%C3%B5es%20respeitadas%20%C3%A9%20moralismo%20pequeno-burgu%C3%AAs%22.%20Mas%20-%20como%20Jos%C3%A9%20Murilo%20-%20espero%20que%20possa%20haver%20um%20n%C3%BAmero%20crescente%20de%20brasileiros%20que%20discordem%20dessa%20postura.%20%20%22Os%20eleitores%20%C3%A9%20que%20dir%C3%A3o%22,%20essa%20%C3%A9%20a%20aposta%20(leg%C3%ADtima)%20que%20fez%20o%20governo%20ao%20se%20lan%C3%A7ar%20com%20armas%20e%20bagagens%20e%20anteced%C3%AAncia%20de%20quase%20dois%20anos%20na%20campanha%20de%20sua%20reelei%C3%A7%C3%A3o.%20Com%20a%20convic%C3%A7%C3%A3o%20de%20que%20esses%20eleitores%20votar%C3%A3o%20com%20o%20bolso.%20E%20que,%20portanto,%20os%20altos%20n%C3%ADveis%20de%20emprego%20e%20a%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20da%20renda%20dispon%C3%ADvel%20das%20fam%C3%ADlias%20decidiriam%20por%20antecipa%C3%A7%C3%A3o%20as%20elei%C3%A7%C3%B5es%20do%20ano%20que%20vem.%20Como%20disse%20um%20ministro%20em%20campanha,%20%22para%20o%20povo,%20PIB%20%C3%A9%20emprego%20e%20renda%22,%20ou%20seja,%20o%20que%20conta%20%C3%A9%20o%20crescimento%20da%20renda%20real%20das%20fam%C3%ADlias%20nos%20per%C3%ADodos%20que%20antecedem%20%C3%A0%20elei%C3%A7%C3%A3o.%20O%20resto%20seria%20o%20resto,%20de%20menor%20import%C3%A2ncia%20relativa%20para%20aqueles%20que%20est%C3%A3o%20com%20os%20olhos%20ora%20fixados%20apenas%20no%20resultado%20de%20outubro%20de%202014.%20%20Pois%20bem,%20o%20resto%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20resto.%20Paul%20Krugman,%20o%20influente%20Pr%C3%AAmio%20Nobel%20de%20Economia,%20tinha%20e%20tem%20toda%20a%20raz%C3%A3o%20ao%20escrever,%20j%C3%A1%20l%C3%A1%20se%20v%C3%A3o%20mais%20de%20duas%20d%C3%A9cadas:%20%22A%20capacidade%20que%20tem%20um%20pa%C3%ADs%20de%20melhorar%20os%20padr%C3%B5es%20de%20vida%20de%20sua%20popula%C3%A7%C3%A3o%20ao%20longo%20do%20tempo%20depende%20quase%20que%20inteiramente%20(almost%20entirely,%20no%20original%20ingl%C3%AAs)%20de%20sua%20capacidade%20de%20aumentar%20o%20seu%20produto%20por%20trabalhador%22%20-%20isto%20%C3%A9,%20a%20produtividade%20de%20sua%20economia.%20%20Como%20bom%20economista,%20Paul%20Krugman%20nota%20que%20isso%20exige%20capital,%20trabalho,%20tecnologia%20e%20inova%C3%A7%C3%A3o.%20E%20tamb%C3%A9m%20discute%20por%20que%20a%20ideia%20de%20produtividade,%20por%20ser%20tida%20como%20complexa,%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20f%C3%A1cil%20de%20ser%20levada%20%C3%A0%20arena%20pol%C3%ADtica%20e%20ao%20debate%20p%C3%BAblico.%20Mas%20insiste%20com%20a%20frase%20famosa,%20ap%C3%B3s%20analisar%20cinco%20maneiras%20de%20aumentar%20o%20consumo%20por%20habitante%20de%20um%20pa%C3%ADs%20(qualquer%20que%20seja):%20%22A%20produtividade%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20tudo,%20mas%20no%20longo%20prazo%20%C3%A9%20quase%20tudo%22.%20%20Em%20pesquisa%20recente,%20ainda%20por%20publicar,%20Regis%20Bonelli%20e%20Julia%20Fontes%20retomam%20o%20tema%20krugmaniano%20da%20sustentabilidade%20ao%20longo%20do%20tempo%20de%20marcados%20descompassos%20entre%20inten%C3%A7%C3%B5es%20de%20gasto%20em%20consumo%20e%20restri%C3%A7%C3%B5es%20de%20oferta%20derivadas%20de%20problemas%20de%20baixa%20produtividade.%20Os%20autores%20adotam%20uma%20perspectiva%20de%20longo%20prazo%20(de%201980%20a%202010,%20com%20proje%C3%A7%C3%B5es%20tentativas%20para%202010-2020),%20com%20especial%20aten%C3%A7%C3%A3o%20conferida%20%C3%A0%20nossa%20extraordinariamente%20r%C3%A1pida%20transi%C3%A7%C3%A3o%20demogr%C3%A1fica.%20%20Regis%20Bonelli%20e%20Julia%20Fontes%20mostram%20que%20nosso%20crescimento%20futuro%20estar%C3%A1%20ainda%20mais%20dependente%20de%20aumentos%20de%20produtividade%20e,%20simultaneamente,%20ainda%20mais%20limitado%20pelos%20efeitos%20de%20nossa%20nova%20demografia%20sobre%20a%20oferta%20de%20trabalho.%20Como%20j%C3%A1%20se%20disse,%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20correndo%20o%20risco%20de%20ficar%20velho%20antes%20que%20chegue%20aos%20n%C3%ADveis%20de%20renda%20per%20capita%20pr%C3%B3ximos%20dos%20que%20desfrutam%20hoje%20os%20pa%C3%ADses%20desenvolvidos.%20%20Mas%20a%20economia%20brasileira%20enfrenta%20hoje%20outros%20descompassos%20que%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20de%20t%C3%A3o%20longo%20prazo,%20embora%20n%C3%A3o%20menos%20relevantes%20para%20o%20nosso%20futuro:%20as%20inten%C3%A7%C3%B5es%20de%20gasto%20dom%C3%A9stico%20-%20p%C3%BAblico%20e%20privado,%20em%20consumo%20e%20investimento%20-%20excedem%20em%20muito%20a%20capacidade%20dom%C3%A9stica%20de%20atend%C3%AA-las,%20dadas%20as%20inten%C3%A7%C3%B5es%20de%20poupan%C3%A7a%20p%C3%BAblica%20(que%20%C3%A9%20negativa)%20e%20de%20poupan%C3%A7a%20privada%20(que%20%C3%A9%20relativamente%20reduzida).%20%20O%20resultado%20dos%20processos%20de%20ajuste%20a%20este%20descompasso%20%C3%A9%20sempre%20-%20ex-post%20-%20uma%20cambiante%20combina%C3%A7%C3%A3o%20de%20press%C3%B5es%20inflacion%C3%A1rias,%20d%C3%A9ficits%20de%20balan%C3%A7o%20de%20pagamentos%20em%20conta%20corrente%20(expressando%20a%20necessidade%20de%20poupan%C3%A7a%20externa)%20e,%20quando%20existe%20financiamento,%20endividamento%20adicional%20de%20fam%C3%ADlias%20e%20do%20governo.%20Este%20descompasso%20ex-ante,%20quando%20significativo%20e%20prolongado,%20afeta%20as%20expectativas%20quanto%20ao%20curso%20futuro%20do%20c%C3%A2mbio,%20dos%20sal%C3%A1rios%20e%20dos%20juros%20-%20e,%20portanto,%20do%20investimento%20e%20do%20crescimento%20futuro.%20%20Nos%20pr%C3%B3ximos%2019%20anos%20de%20vida%20do%20Real,%20n%C3%B3s%20teremos%20nada%20menos%20do%20que%20cinco%20elei%C3%A7%C3%B5es%20presidenciais:%202014,%202018,%202022,%202026%20e%202030.%20E%20uma%20elei%C3%A7%C3%A3o%20presidencial%20%C3%A9%20sempre,%20talvez,%20uma%20oportunidade%20para%20que%20o%20Pa%C3%ADs%20possa%20tentar%20aprofundar%20e%20melhorar%20a%20qualidade%20do%20debate%20p%C3%BAblico%20informado%20sobre%20crescimento,%20emprego%20e%20renda,%20com%20foco%20na%20imperiosa%20necessidade%20de%20aumentar,%20em%20muito,%20a%20produtividade%20e%20a%20competitividade%20internacional%20de%20suas%20empresas%20e%20a%20efici%C3%AAncia%20operacional%20do%20governo%20na%20gest%C3%A3o%20da%20coisa%20p%C3%BAblica%20-%20a%C3%AD%20inclu%C3%ADdos%20os%20investimentos%20em%20infraestrutura%20e%20na%20melhoria%20da%20qualidade%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o,%20%C3%A1reas%20nas%20quais%20h%C3%A1%20ainda%20muito,%20mas%20muito%20mesmo,%20o%20que%20fazer%20nos%20anos%20%C3%A0%20frente.%20%20*%20Economista,%20foi%20ministro%20da%20Fazenda%20no%20governo%20Fernando%20Henrique%20Cardoso.%20E-mail:%20malan@estadao.com.br" target="_blank">Estadão de 14.04.2013</a></div>
<div class="corpo" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O Brasil é um país extraordinário em sua rica diversidade e enorme potencial, mas é também um país complexo de entender e difícil de administrar - como cedo ou tarde percebem aqueles que se dispõem a fazê-lo. Há custos de aprendizado, que levam os governantes a um gradual reconhecimento da existência dos limites do possível às suas ações no relativamente curto prazo de seus mandatos.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />O fato é que no Brasil de hoje convivem, em mutante simbiose, partes modernas (que adquiriram expressão relevante) e partes anacrônicas (que não podem ser subestimadas). E talvez por isso, o Brasil não comporta mais variantes de messianismos salvacionistas, voluntarismos extremados e improvisados exercícios de autoridade. Mesmo quando o governo tem popularidade e exibe avassaladora maioria no Congresso Nacional - embora exigindo complexas concessões da parte do Executivo.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Na raiz desse aparente paradoxo está uma questão de fundo colocada com a clareza habitual por José Murilo de Carvalho: "A construção de uma democracia sem República me parece pouco viável. República significa coisa pública, virtude cívica (...), exige predomínio da lei, igualdade perante a mesma, ausência de privilégios e hierarquias sociais, cidadãos ativos, governos responsáveis e eficientes (...). República é incompatível com patrimonialismo, clientelismo, nepotismo e fisiologismo".<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Escreve o autor: "Pode-se argumentar, como muitos fazem, que nossa democracia não precisa de República, que aos trancos e barrancos vamos construindo a inclusão política e social, e que preocupação com honestidade política, bom governo, valores cívicos e instituições respeitadas é moralismo pequeno-burguês". Mas - como José Murilo - espero que possa haver um número crescente de brasileiros que discordem dessa postura.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />"Os eleitores é que dirão", essa é a aposta (legítima) que fez o governo ao se lançar com armas e bagagens e antecedência de quase dois anos na campanha de sua reeleição. Com a convicção de que esses eleitores votarão com o bolso. E que, portanto, os altos níveis de emprego e a evolução da renda disponível das famílias decidiriam por antecipação as eleições do ano que vem. Como disse um ministro em campanha, "para o povo, PIB é emprego e renda", ou seja, o que conta é o crescimento da renda real das famílias nos períodos que antecedem à eleição. O resto seria o resto, de menor importância relativa para aqueles que estão com os olhos ora fixados apenas no resultado de outubro de 2014.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Pois bem, o resto não é o resto. Paul Krugman, o influente Prêmio Nobel de Economia, tinha e tem toda a razão ao escrever, já lá se vão mais de duas décadas: "A capacidade que tem um país de melhorar os padrões de vida de sua população ao longo do tempo depende quase que inteiramente (almost entirely, no original inglês) de sua capacidade de aumentar o seu produto por trabalhador" - isto é, a produtividade de sua economia.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Como bom economista, Paul Krugman nota que isso exige capital, trabalho, tecnologia e inovação. E também discute por que a ideia de produtividade, por ser tida como complexa, não é fácil de ser levada à arena política e ao debate público. Mas insiste com a frase famosa, após analisar cinco maneiras de aumentar o consumo por habitante de um país (qualquer que seja): "A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo".<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Em pesquisa recente, ainda por publicar, Regis Bonelli e Julia Fontes retomam o tema krugmaniano da sustentabilidade ao longo do tempo de marcados descompassos entre intenções de gasto em consumo e restrições de oferta derivadas de problemas de baixa produtividade. Os autores adotam uma perspectiva de longo prazo (de 1980 a 2010, com projeções tentativas para 2010-2020), com especial atenção conferida à nossa extraordinariamente rápida transição demográfica.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Regis Bonelli e Julia Fontes mostram que nosso crescimento futuro estará ainda mais dependente de aumentos de produtividade e, simultaneamente, ainda mais limitado pelos efeitos de nossa nova demografia sobre a oferta de trabalho. Como já se disse, o Brasil está correndo o risco de ficar velho antes que chegue aos níveis de renda per capita próximos dos que desfrutam hoje os países desenvolvidos.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Mas a economia brasileira enfrenta hoje outros descompassos que não são de tão longo prazo, embora não menos relevantes para o nosso futuro: as intenções de gasto doméstico - público e privado, em consumo e investimento - excedem em muito a capacidade doméstica de atendê-las, dadas as intenções de poupança pública (que é negativa) e de poupança privada (que é relativamente reduzida).<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />O resultado dos processos de ajuste a este descompasso é sempre - ex-post - uma cambiante combinação de pressões inflacionárias, déficits de balanço de pagamentos em conta corrente (expressando a necessidade de poupança externa) e, quando existe financiamento, endividamento adicional de famílias e do governo. Este descompasso ex-ante, quando significativo e prolongado, afeta as expectativas quanto ao curso futuro do câmbio, dos salários e dos juros - e, portanto, do investimento e do crescimento futuro.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nos próximos 19 anos de vida do Real, nós teremos nada menos do que cinco eleições presidenciais: 2014, 2018, 2022, 2026 e 2030. E uma eleição presidencial é sempre, talvez, uma oportunidade para que o País possa tentar aprofundar e melhorar a qualidade do debate público informado sobre crescimento, emprego e renda, com foco na imperiosa necessidade de aumentar, em muito, a produtividade e a competitividade internacional de suas empresas e a eficiência operacional do governo na gestão da coisa pública - aí incluídos os investimentos em infraestrutura e na melhoria da qualidade da educação, áreas nas quais há ainda muito, mas muito mesmo, o que fazer nos anos à frente.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">* Economista, foi ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso. E-mail: malan@estadao.com.br</strong></div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-20087919220009823832013-04-12T09:46:00.001-03:002013-04-12T09:46:14.094-03:00Dilma e os 40 ministros<br />
<div class="bb-md-noticia-autor" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; margin: 0px; padding: 18px 0px 8px;">
por Fernando Gabeira, no <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,dilma-e-os-40-ministros,1020032,0.htm" target="_blank">Estadão de 12/04/2013</a></div>
<div class="corpo" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-family: georgia; font-size: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">É muito difícil fazer a revolução, é muito difícil vencer, mas as dificuldades mesmo começam quando se chega ao governo - essa frase é de um personagem do filme A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo. Sempre me interessei pelo tema na literatura que descreve as transformações na cabeça das pessoas que alcançam o poder. O personagem de Pontecorvo referia-se a uma guerra de libertação nacional contra o colonialismo francês, algo muito mais dramático do que a vitória da esquerda brasileira em 2002.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Minha experiência no Brasil me leva a ressaltar um ponto decisivo na corrosão dos objetivos estratégicos - quando existem - dos vencedores de uma luta prolongada: o desejo patético de continuar no poder, desde o primeiro dia em que nele se instalam. A contradição entre o discurso modernizador e as atitudes do governo fica muito mais clara no período eleitoral, embora exista todo o tempo.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Dilma Rousseff convidou o empresário Jorge Gerdau para colaborar na racionalização administrativa do governo. Gerdau foi decisivo na modernização do governo do Estado do Rio de Janeiro. Temos uma dívida de gratidão com ele, que investiu dinheiro do próprio bolso no projeto. O único efeito colateral dessa operação bem-sucedida foi o aumento do prestígio do governador Sérgio Cabral. Nada de muito grave que não pudesse ser anulado com uma noitada em Paris, a bajulação do dono da Delta, guardanapos amarrados na cabeça e as mulheres exibindo os sapatos Christian Louboutin como se dançassem um passo de cancan.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Apesar de todo o trabalho de Gerdau, Dilma criou mais ministérios. Oficialmente temos 39. Com o marqueteiro João Santana funcionando como ministro especial, podemos chamá-los de a presidente e seus 40 ministros. A racionalidade foi para o espaço porque existe apenas o patético desejo de continuar no poder.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Como se não bastasse, Dilma resolveu prolongar a redução do IPI dos carros até o fim do ano. Qualquer pessoa sensata que ande pelas ruas das metrópoles brasileiras sabe que estamos chegando ao limite e a falta de mobilidade urbana é um grande desafio à produtividade nacional. Isso para não mencionar os portos, como o de Santos, com filas quilométricas de caminhões. Não conseguimos exportar nossa produção com fluidez, a mercadoria adormece no asfalto. E quando importada de avião não consegue ser liberada pela burocracia.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />É surpreendente como uma esquerda que se inspirou no marxismo, mesmo sem o ter lido bem, com raríssimas exceções adota o caminho irracional com tanta naturalidade. Falando com um americano do setor de petróleo, ele se mostrou perplexo com a decisão da Petrobrás de comprar uma refinaria em Pasadena, nos EUA. O equipamento é superado, custou alguns milhões de dólares mais do que valia e nos deixou com o mico nas mãos. Não posso afirmar que essa irracionalidade esteja ligada às eleições, assim como a tentativa de entregar ilhas do patrimônio nacional ao ex-senador Gilberto Miranda. Mas se alguém ganhou dinheiro com o negócio desastroso, os dólares têm toda a possibilidade de aparecer nas campanhas.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Muitos gostam de enriquecer, comprar imóveis em Miami, alugar aviões, etc... Mas o dinheiro da campanha é sempre sagrado: the show must go on. Isso num contexto geral mais obscuro, em que eleitoralmente é possível saber quem ajuda o governo, mas, pelo fechamento do BNDES, é impossível saber quem o governo ajuda.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />O trânsito para a total irracionalidade é mais nítido na esquerda venezuelana, que usa o mesmo marqueteiro do PT. Num dos anúncios criados por Santana, Hugo Chávez aparece no céu encontrando-se com Che Guevara, Simón Bolívar. Nicolás Maduro, o candidato chavista, vai mais longe: afirma que o comandante Chávez reaparece em forma de passarinho quando se reza por ele. Breve teremos passarinhos trinando nos campos verdes, a encarnação de Chávez protegendo nosso sono, aconselhando-nos nos dilemas cotidianos e, claro, batendo pesado na oposição.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Como foi possível sair da leitura de Marx para um realismo fantástico de segunda categoria? Como foi possível do caldo das teses de Marx sobre Feuerbach, mostrando a origem social do misticismo, ou do tempero de A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, a crença de que exista um canto no céu onde se encontram os ícones da esquerda latino-americana e que eles viram passarinho para nos indicarem o caminho da libertação? Mesmo sem parecer muito inteligente, não creio que Maduro leve a sério essas histórias da transfiguração de Chávez.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />No caso de Lula, posso falar com mais propriedade. Ao nomear Dilma a mãe do PAC, houve uma nítida inflexão em suas ideias sobre o mundo. Lembro-me de que em 2002, na Caravana da Cidadania, ao visitarmos São Borja, onde Getúlio Vargas está enterrado, Lula hesitou em levar flores ao seu túmulo. "Não seria fortalecer um populismo desmobilizante?", perguntou. Certamente Lula não acredita que a sociedade democrática seja uma réplica da família, na qual os governantes fazem o papel dos pais e os eleitores, de filhos obedientes.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />A verdade é que a esquerda no poder deixou para trás muitas convicções. Oscila entre o paternalismo e o misticismo religioso. Suas fontes não são apenas as religiões de origem cristã. Inconscientemente, já pratica o vodu, sobretudo a ouanga, um feitiço para envenenar simbolicamente os adversários por intermédio de seus sacerdotes eletrônicos. Não percebe que o destino final de seu sonho de poder é a criação de uma nação de zumbis, manipulando gadgets, povoando supermercados, mentalmente mortos por falta de oxigênio no cérebro.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Em vez de avançar por meio da prática e da autocrítica, de aprender com os próprios erros e contribuir para o alargamento do horizonte intelectual, a esquerda em alguns países latino-americanos optou pelo atraso e pela superstição simplesmente porque tem pavor de perder o governo, como se não houvesse vida fora dele. Assim, uma jovem rebelde dos anos 60 se transformou na Mãe Dilma, apoiada pelo Pai Lula, e seu 40.º ministro produz filmes sobre a esquerda no céu para os herdeiros de um passarinho chamado Chávez.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /></span><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;"><em style="margin: 0px; padding: 0px;"><span style="font-family: georgia; font-size: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">* Fernando Gabeira é jornalista.</span></em></strong></div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-91857211254744842442013-04-04T18:38:00.001-03:002013-04-04T18:38:16.874-03:00Pela desigualdade<br />
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Por <span style="background-color: white; color: #336c83; font-size: 13px; font-weight: bold; line-height: 17px; text-transform: uppercase;"><a href="http://oglobo.globo.com/opiniao/pela-desigualdade-8019836" target="_blank">CARLOS ALBERTO SARDENBERG, o globo, de 04.04.2013</a></span></div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
<span style="background-color: white; color: #336c83; font-size: 13px; font-weight: bold; line-height: 17px; text-transform: uppercase;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
O ponto de partida é o seguinte: as crianças estão com dificuldades para alcançar a plena alfabetização no primeiro ano, ou seja, aos sete anos. Além disso, há um número expressivo de reprovações nesse primeiro ano, justamente por causa do atraso em leitura e redação.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Qual a resposta da autoridade educacional?</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
É fácil: eliminar a reprovação — todos passam automaticamente — e, sobretudo, fixar como meta oficial que a alfabetização deve se completar no segundo ano, quando a criança estiver fazendo oito anos. Em resumo, dar um período a mais para aprender a ler e escrever.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Não, não se passa no Brasil. Está acontecendo na Costa Rica. Mas, no Brasil, está, sim, em andamento o programa Alfabetização na Idade Certa, sendo esta também definida aos 8 anos.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
A Costa Rica é o melhor país da América Central e considerado de bom padrão educacional. De fato, no teste Pisa, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em alunos de 15 anos, de 70 países, a Costa Rica obteve 443 pontos em leitura, ficando na 44ª. posição. Na América Latina, só perde para o Chile, cujos alunos alcançaram um pouco mais, 449 pontos. O Brasil está pior, 412 pontos nesse quesito.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Os cinco primeiros colocados são os alunos de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e Cingapura, com notas entre 526 e 556. Pois nesses países a idade certa para alfabetização é seis anos. Isso mesmo, dois anos antes das metas de Brasil e Costa Rica. A questão é: quando e por que se precisa de mais tempo?</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Na Costa Rica, onde a reforma educacional ainda está em debate, há dois tipos de argumentos, um referente ao calendário escolar, outro propriamente pedagógico.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
No calendário: o problema, dizem autoridades, é que há muitos feriados e muitos períodos de férias, de modo que o ano letivo não passa de seis meses. Se as crianças vão menos dias à escola, claro que aprendem menos.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
O leitor pode ter pensado: mas não seria o caso de aumentar o número de dias letivos?</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Para os políticos, nem pensar. Criaria uma encrenca danada com professores e outros funcionários do sistema.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Já o argumento pedagógico diz que não se pode forçar uma criança de sete anos, que se deve deixá-la seguir segundo suas necessidades e seu próprio ritmo.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Quem acompanha o debate educacional no Brasil já ouviu argumentos semelhantes. Por exemplo: no programa Alfabetização na Idade Certa não foram introduzidos padrões que permitam medir se a criança sabe ou não ler. Seria possível fazer isso, uma medida numérica? Sim, já se faz pelo mundo afora. Em Portugal, por exemplo, no primeiro ano, o aluno deve ler em um texto simples, 55 palavras por minuto; no ano seguinte, 90 e, no terceiro ano, 110.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Simples, objetivo, de fácil avaliação.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Não é só no Brasil, mas em praticamente toda a América Latina esse tipo de avaliação causa até uma certa ojeriza. Entre professores, aqui, é forte a rejeição a avaliações concretas, como, por exemplo, um teste nacional que meça a capacidade dos mestres várias vezes ao longo da carreira. Médicos e advogados também não querem fazer as provas profissionais.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Tudo considerado, ficamos com as metas pouco ambiciosas. Pode-se argumentar que seria, digamos, romântico colocar como meta a alfabetização aos seis anos no Brasil. Se um número expressivo de jovens é classificado como “analfabeto funcional” depois do ensino médio, como querer que todos aprendam a ler e escrever aos seis anos?</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Um equívoco, claro. Não há razão alguma para não fixar para os que entram agora na escola as metas mais rigorosas e adequadas aos padrões internacionais.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Há também uma questão política, que tem a ver com o desempenho dos governos: metas mais largas são mais fáceis de atingir e, claro, de propagandear.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Isso reflete uma cultura — a de evitar o problema, escolher o desvio mais fácil e politicamente mais vendável. Se as crianças não estão aprendendo na idade certa, se dá mais tempo a elas, em vez de tentar melhorar o processo de alfabetização. E, avançando, se os alunos das escolas públicas não conseguem entrar nas (ainda) boas universidades públicas, abrem-se cotas para esses alunos, muito mais fácil do que melhorar o ensino médio.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
Dizem: o problema é que as universidades públicas estavam sendo ocupadas pelos alunos mais ricos vindos do ensino médio privado. Falso. O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
A propósito: nas boas escolas privadas, as crianças já sabem ler e escrever bem aos seis anos.</div>
<div style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; padding: 0px;">
<strong style="font-weight: normal;">Carlos Alberto Sardenberg é jornalista</strong></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px;"><br /><br />Leia mais sobre esse assunto em <a href="http://oglobo.globo.com/opiniao/pela-desigualdade-8019836#ixzz2PX6TZ9Ix" style="color: #003399; text-decoration: none;">http://oglobo.globo.com/opiniao/pela-desigualdade-8019836#ixzz2PX6TZ9Ix</a><br />© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. </span>Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-61437597427134666882013-03-18T17:10:00.002-03:002013-03-18T17:10:15.393-03:00Que elites, que esquerda?João Ubaldo Ribeiro - <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,que-elites-que-esquerda,1009789,0.htm" target="_blank">O Estado de S.Paulo, de 17 de março de 2013</a><br />
<br />
A cada instante, e cada vez mais, somos alvejados por milhares de informações de todos os tipos, muitas delas procurando, como consequência final, alterar nosso comportamento, seja para pormos fé nas lorotas pseudoestatísticas e conceituais que nos pregam os fabricantes de remédios, pastas de dentes e produtos de farmácia em geral, seja para acreditarmos que determinado partido político, ao pedir com fervor nossa adesão, realmente tem alguma identidade que não seja a que lhes emprestam seus tão frequentemente volúveis caciques. Aparentemente, nossos cérebros se defendem de ser entulhados com essa tralha e grande parte dela é esquecida.<br />
<br />
Mas em algum lugar da mente ela permanece e afeta talvez até nossa maneira de ver o mundo. Se prestarmos atenção aos comerciais de tevê e fizermos um esforçozinho de abstração, veremos que temos plena ciência de que quase todos eles, ou mesmo todos, se apoiam em pelo menos uma mentira ou distorção. O xampu não produz cabelos como aqueles, a empresa não dá o atendimento ao cliente que apregoa, o plano de saúde falha na hora da necessidade, a velocidade da banda larga não chega nem à metade do que contrata, o sistema de saúde que descrevem como o nosso parece gozação com o pessoal que estrebucha em macas no hospital, o banco professa carinho e oferece gravações telefônicas diabólicas, o lançamento imobiliário mente sobre as vantagens do bairro e a segurança da construtora, a moça não é bonita como aparece, o sinal da operadora não é confiável, a prestação sem juros é enganação, a garantia do carro não vale nada para a concessionária. Tudo, praticamente, é mentira e sabemos disso. Mas, mistérios desta vida, agimos como se não soubéssemos, numa postura acrítica e já meio abestalhada.<br />
<br />
Em relação à política, talvez nossa situação possa ser até descrita em termos mais drásticos. As afirmações mais estapafúrdias são divulgadas e ninguém se preocupa em examiná-las. Não me refiro a chutes que prostituem a estatística e fazem dela, como já se disse, a arte de mentir com precisão. Os números nos intimidam desde a escola primária e qualquer embusteiro se aproveita disso para declarar que 8.36% (quanto mais decimais, melhor) de alguma coisa são isso ou aquilo e ver esta assertiva ser recebida reverentemente, como se não fosse possível desconfiar de tudo, da coleta dos dados, às categorias empregadas e os cálculos feitos. Média, então, é uma festa e eu sempre penso em convidar o dr. Bill Gates para morar em Itaparica e me transformar em nativo do município de maior renda média do Brasil, cuíca do mundo.<br />
<br />
Não, não me refiro a números, mas a alegações estranhas. Por exemplo, esse negócio de o governo ser de esquerda. Só se querem dizer que a maior parte do nosso cada vez mais populoso bando ministerial é constituído de canhotos. O presidente Lula, que não quis ser presidente emérito e prefere continuar sendo presidente perpétuo mesmo, já disse - e creio que com sinceridade - que não é, nem nunca foi, de esquerda e que não usa mais nem a palavra "burguesia". E que é que o governo fez que caracterize uma posição de esquerda? Apoiar Chávez com beijos e abraços, ao tempo em que respalda os bilhões de dólares de negócios brasileiros na Venezuela? Manter boas relações com Cuba, o que não quer dizer nada em matéria de objetivo político? Ser da antiga turma que combatia o governo, no regime militar? E já perguntei aqui, mas pergunto de novo: o PMDB é de esquerda? Quem é esquerda, nesse balaio todo? Furtar, desviar, subornar, corromper são de esquerda? Zelar por valores éticos e morais é de direita?<br />
<br />
É gritaria da direita reclamar (e pouca gente reclama) do descalabro inacreditável em que se tornaram as trombeteadas obras do rio São Francisco, hoje uma vasta extensão de ruínas e destroços, tudo abandonado ao deus-dará, em pior estado do que cidades bombardeadas na Segunda Guerra? Ou o que está acontecendo com a Petrobrás, que, da segunda posição entre as petrolíferas, despencou para a oitava e pode despencar mais, acrescida a circunstância de que ninguém explica direito qual é mesmo a situação do hoje já não tão radioso pré-sal? E combater a miséria nunca foi de esquerda ou direita. Ter altos índices de popularidade tampouco.<br />
<br />
Também se diz que as elites dominantes querem derrubar o governo. Que elites dominantes? A elite política, que se saiba, é a que exerce o poder político. O Poder Executivo é exercido pelo governo que está aí e que, presumivelmente, não atua contra si mesmo. O Poder Legislativo está sob o controle da base do governo. E o Judiciário, por mais que isso seja desagradável aos outros governantes, não pode associar-se à ação política no sentido estrito. Já as elites econômicas não parecem empenhadas em subverter uma situação em que os bancos têm lucros nunca vistos, conforme o próprio presidente perpétuo já frisou, e as empreiteiras estão muito felizes e, convocadas pela presidente adjunta, prometeram fazer novos investimentos. Qual é a elite conservadora que está descontente e faz oposição ao governo? É justamente o contrário.<br />
<br />
Finalmente, temos a imprensa golpista. Que imprensa golpista? Que editorial ou comentário pediu golpe? Comportamento golpista é o de quem acusa o Judiciário de ser agente de armações politiqueiras, quem chega a esboçar desobediência a ordens judiciais, quem se diz vítima de linchamento, quando foi condenado em processo legítimo e incontestável. A imprensa sempre se manifesta contra o desrespeito à Constituição e a desmoralização das instituições democráticas e tem denunciado um rosário sem-fim de ações lesivas ao interesse público. Golpista é quem busca silenciá-la ou controlá-la, não importa que explicações se fabriquem e que eufemismos inventem.Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-76138187551451322132013-03-11T08:50:00.002-03:002013-03-11T08:50:51.134-03:00A morte do caudilhoPor <span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px;">MARIO VARGAS LLOSA, ESCRITOR PERUANO, GANHADOR DO , PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA - <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-morte-do-caudilho-,1006810,0.htm" target="_blank">O Estado de S.Paulo, 10/03/2013</a></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px;"><br /></span>
<div class="corpo" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O comandante Hugo Chávez Frías pertencia à robusta tradição dos caudilhos que, embora mais presentes na América Latina que em outras partes, não deixaram de se assomar a toda parte, até em democracias avançadas, como a França. Ela revela aquele medo da liberdade que é uma herança do mundo primitivo, anterior à democracia e ao indivíduo, quando o homem ainda era massa e preferia que um semideus, ao qual cedia sua capacidade de iniciativa e seu livre-arbítrio, tomasse todas as decisões importantes de sua vida.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Cruzamento de super-homem e bufão, o caudilho faz e desfaz a seu bel prazer, inspirado por Deus ou por uma ideologia na qual, quase sempre, se confundem o socialismo e o fascismo - duas formas de estatismo e coletivismo - e se comunica diretamente com seu povo mediante a demagogia, a retórica, a espetáculos multitudinários e passionais de cunho mágico-religioso.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Sua popularidade costuma ser enorme, irracional, mas também efêmera, e o balanço de sua gestão, infalivelmente catastrófico. Não devemos nos impressionar em demasia pelas multidões chorosas que velam os restos de Hugo Chávez. São as mesmas que estremeciam de dor e desamparo pela morte de Perón, de Franco, de Stalin, de Trujillo e as que, amanhã, acompanharão Fidel Castro ao sepulcro.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Os caudilhos não deixam herdeiros e o que ocorrerá a partir de agora na Venezuela é totalmente incerto. Ninguém, entre as pessoas de seu entorno, e certamente em nenhum caso Nicolás Maduro, o discreto apparatchik a quem designou seu sucessor, está em condições de aglutinar e manter unida essa coalizão de facções, de indivíduos e de interesses constituídos que representa o chavismo, nem de manter o entusiasmo e a fé que o defunto comandante despertava com sua torrencial energia nas massas da Venezuela.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Uma coisa é certa: esse híbrido ideológico que Hugo Chávez urdiu chamado revolução bolivariana ou socialismo do século 21, já começou a se decompor e desaparecerá, mais cedo ou mais tarde, derrotado pela realidade concreta: a de uma Venezuela, o país potencialmente mais rico do mundo, ao qual as políticas do caudilho deixaram empobrecido, dividido e conflagrado, com a inflação, a criminalidade e a corrupção mais altas do continente, um déficit fiscal que beira a 18% do PIB e as instituições - as empresas públicas, a Justiça, a imprensa, o poder eleitoral, as Forças Armadas - semidestruídas pelo autoritarismo, a intimidação e a submissão.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Além disso, a morte de Chávez coloca um ponto de interrogação na política de intervencionismo no restante do continente latino-americano que, num sonho megalomaníaco característico dos caudilhos, o comandante defunto se propunha a tornar socialista e bolivariano a golpes de talão de cheques. Persistirá esse fantástico dispêndio dos petrodólares venezuelanos que fizeram Cuba sobreviver com os 100 mil barris diários que Chávez praticamente presenteava a seu mentor e ídolo Fidel Castro? E os subsídios e as compras de dívida de 19 países, aí incluídos seus vassalos ideológicos como o boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega, as Farc colombianas e os inúmeros partidos, grupos e grupelhos que por toda a América Latina lutam para impor a revolução marxista?</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
O povo venezuelano parecia aceitar esse fantástico desperdício contagiado pelo otimismo de seu caudilho, mas duvido que o mais fanático dos chavistas acredite agora que Maduro possa vir a ser o próximo Simon Bolívar. Esse sonho e seus subprodutos, como a Aliança Bolivariana para as América (Alba), integrada por Bolívia, Cuba, Equador, Dominica, Nicarágua, San Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, sob a direção da Venezuela, já são cadáveres insepultos.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nos 14 anos que Chávez governou a Venezuela, o preço do barril de petróleo ficou sete vezes mais caro, o que fez desse país, potencialmente, um dos mais prósperos do planeta. No entanto, a redução da pobreza nesse período foi menor que a verificada, por exemplo, no Chile e no Peru no mesmo período. Enquanto isso, a expropriação e a nacionalização de mais de um milhar de empresas privadas, entre elas 3,5 milhões de hectares de fazendas agrícolas e pecuárias, não fez desaparecer os odiados ricos, mas criou, mediante o privilégio e o tráfico, uma verdadeira legião de novos ricos improdutivos que, em vez de fazer progredir o país, contribuiu para afundá-lo no mercantilismo, no rentismo e em todas as demais formas degradadas do capitalismo de Estado.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Chávez não estatizou toda a economia, como Cuba, e nunca fechou inteiramente todos os espaços para a dissidência e a crítica, embora sua política repressiva contra a imprensa independente e os opositores os reduziu a sua expressão mínima. Seu prontuário no que respeita aos atropelos contra os direitos humanos é enorme, como recordou, por ocasião de seu falecimento, uma organização tão objetiva e respeitável como a Human Rights Watch.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
É verdade que ele realizou várias consultas eleitorais e, ao menos em algumas delas, como a última, venceu limpamente, se a lisura de uma eleição se mede apenas pelo respeito aos votos depositados e não se leva em conta o contexto político e social no qual ela se realiza, e na qual a desproporção de meios à disposição do governo e da oposição era tal que ela já entrava na disputa com uma desvantagem descomunal.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
No entanto, em última instância, o fato de haver na Venezuela uma oposição ao chavismo que na eleição do ano passado obteve quase 6,5 milhões de votos é algo que se deve, mais do que à tolerância de Chávez, à galhardia e à convicção de tantos venezuelanos que nunca se deixaram intimidar pela coerção e as pressões do regime e, nesses 14 anos, mantiveram viva a lucidez e a vocação democrática, sem se deixar arrebatar pela paixão gregária e pela abdicação do espírito crítico que o caudilhismo fomenta.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Não sem tropeços, essa oposição, na qual estão representadas todas as variantes ideológicas da Venezuela está unida. E tem agora uma oportunidade extraordinária para convencer o povo venezuelano de que a verdadeira saída para os enormes problemas que ele enfrenta não é perseverar no erro populista e revolucionário que Chávez encarnava, mas a opção democrática, isto é, o único sistema capaz de conciliar a liberdade, a legalidade e o progresso, criando oportunidades para todos em um regime de coexistência e de paz.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nem Chávez nem caudilho algum são possíveis sem um clima de ceticismo e de desgosto com a democracia como o que chegou a viver a Venezuela quando, em 4 de fevereiro de 1992, o comandante Chávez tentou o golpe de Estado contra o governo de Carlos Andrés Pérez. O golpe foi derrotado por um Exército constitucionalista que enviou Chávez ao cárcere do qual, dois anos depois, num gesto irresponsável que custaria caríssimo a seu povo, o presidente Rafael Caldera o tirou anistiando-o.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Essa democracia imperfeita, perdulária e bastante corrompida, havia frustrado profundamente os venezuelanos que, por isso, abriram seu coração aos cantos de sereia do militar golpista, algo que ocorreu, por desgraça, muitas vezes na América Latina.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Quando o impacto emocional de sua morte se atenuar, a grande tarefa da aliança opositora presidida por Henrique Capriles será persuadir esse povo de que a democracia futura da Venezuela terá se livrado dessas taras que a arruinaram e terá aproveitado a lição para depurar-se dos tráficos mercantilistas, do rentismo, dos privilégios e desperdícios que a debilitaram e tornaram tão impopular.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A democracia do futuro acabará com os abusos de poder, restabelecendo a legalidade, restaurando a independência do Judiciário que o chavismo aniquilou, acabando com essa burocracia política mastodôntica que levou à ruína as empresas públicas. Com isso, se produzirá um clima estimulante para a criação de riqueza no qual empresários possam trabalhar e investidores, investir, de modo que regressem à Venezuela os capitais que fugiram e a liberdade volte a ser a senha e contrassenha da vida política, social e cultural do país do qual há dois séculos saíram tantos milhares de homens para derramar seu sangue pela independência da América Latina. </div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
/ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK</div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-27522651173980180112013-03-04T18:53:00.001-03:002013-03-04T18:55:19.294-03:00Sem disfarce nem miopia<div align="left" style="background-color: #5092c4;">
<img alt="Fernando Henrique Cardoso" src="http://img.estadao.com.br/fotos/635x120/fernando-henrique-cardoso-testeira.jpg" /><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px;">Fernando Henrique Cardoso*, no <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sem-disfarce--nem-miopia-,1003753,0.htm" target="_blank">Estadão de 03 de março de 2013</a>.</span></div>
<div class="corpo" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<br /></div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
As forças governistas, depois de precipitarem a campanha eleitoral, voltaram ao diapasão antigo: comparar os governos petistas com os do PSDB. Chega a ser doentio! Será que não sabem olhar para a frente? As conjunturas mudam. O que é possível fazer numa dada fase muitas vezes não pode ser feito em outra; políticas podem e devem ser aperfeiçoadas. Porém, na lógica infantil prevalecente, em lugar de se perguntar o que mudou no País em cada governo, em que direção e com qual velocidade, fazem-se comparações sem sentido e imagina-se que tudo começou do zero no primeiro dia do governo Lula. Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a História é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa. Nada de novo sob o sol: é só lembrar dos museus soviéticos que borravam nas fotos os rostos dos ex-companheiros caídos em desgraça... O PSDB não deve entrar nessa armadilha. É melhor olhar para a frente e deixar as picuinhas para quem gosta delas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Quanto ao futuro, o governo está demonstrando miopia estratégica. Depois de quatro anos iniciais de consolidação da herança bendita, a política econômica teve de reagir ao violento impacto da crise de 2007/2008. Foi necessário, sem demora, expandir o gasto público, desonerar setores produtivos, ampliar o crédito por intermédio dos bancos públicos, etc. Em situações extraordinárias, medidas extraordinárias. Mas o cachimbo foi entortando a boca: a discricionariedade governamental tornou-se a regra desde então. Com isso, a credibilidade do Banco Central foi posta em xeque, a transparência das contas públicas também. Cresceram as dúvidas sobre a inflação futura e sobre o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Não há que exagerar na crítica: por ora, o trem não descarrilou. Mas as balizas que asseguraram crescimento com estabilidade - câmbio flutuante, metas inflacionárias e responsabilidade fiscal -, mesmo ainda em pé, se tornam cada vez mais referências longínquas. A máquina governamental está enguiçada, como o próprio governo sente, e sua incapacidade para consertá-la é preocupante. Os expedientes utilizados até agora com o propósito de acelerar o crescimento deram em quase nada (o pibinho). Na ânsia de acelerar a economia, o governo beijou a cruz e apelou para as concessões (portos, aeroportos, estradas) e mesmo privatizações (de partes da distribuição energética). Mas a viseira ideológica, o hábito de se fechar em pequenos grupos, a precariedade gerencial não permitem dar efetividade a decisões que ferem o coração de suas crenças arcaicas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Enquanto a China puxar as exportações de matérias-primas e de alimentos, tudo se vai arranjando. Mesmo assim, a produção industrial torna-se menos competitiva e perde importância relativa no processo produtivo. A balança comercial já deixou de ser folgada, mas com o financiamento estrangeiro as contas vão fechando. No curto prazo, tudo bem. Em prazo mais longo, volta a preocupar o fantasma da "vulnerabilidade externa".</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Já se veem no horizonte sinais de retomada na economia mundial. Não me refiro a uma incerta recuperação do emprego e do equilíbrio fiscal, este em alguns países da Europa, aquele nos Estados Unidos. Refiro-me ao que Schumpeter salientava para explicar a natureza do crescimento econômico, uma onda de inovações. Provavelmente serão os Estados Unidos que capitanearão a nova investida capitalista mundial. O gás de xisto e os novos métodos de extração de petróleo tornarão aquele país a grande potência energética. Junto com ele, Canadá, México, Argentina e Brasil podem ter um lugar ao sol. De ser isso verdade, uma nova geopolítica se desenha, com, por um lado, um polo chinês- asiático e outro americano. Isso num contexto político e cultural que não aceita hegemonias, no qual, portanto, a multiplicidade de polos e subpolos requer uma nova institucionalidade global.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Diante disso, como ficará o Brasil: pendendo para a Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), de inspiração chavista? À margem da nova aliança atlântica proposta pelos Estados Unidos que, por agora, contempla apenas a América do Norte e a Europa? Iremos fortalecer nossos laços com o mundo árabe longínquo, ou este terminará por se aconchegar na dupla formada pela China e pela Índia, ambos países carentes de energia? E como nos situaremos na dinâmica da nova fase do capitalismo global? Ao que eu saiba, ela continuará dependendo do aumento contínuo de produtividade para assegurar as bases do bem-estar social (que não será decorrência automática disso, mas de políticas adequadas). Como, então, querer acelerar o crescimento utilizando truques e maquiagens, do tipo subsídios tópicos, exceções de impostos setoriais, salvamento de empresas via hospital BNDES ou Caixa Econômica?</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Quando o PSDB fez o Plano Real, percebeu as oportunidades que se abriam para o Brasil com a globalização, desde que ajustássemos a economia e iniciássemos políticas de inclusão social. Na época o PT não entendeu do que se tratava. Queria dar o calote da dívida externa e sustentava o inadequado programa Fome Zero, que jamais saiu do papel. Foram as bolsas que o PSDB introduziu que salvaram o PT quando este, tardiamente, se deu conta de que era melhor fazer uma política de transferência direta de rendas. Em geral, aferrou-se à ideia de que a globalização seria uma ideologia - o neoliberalismo -, e não a maneira contemporânea de organizar a produção com base em novas tecnologias e novas normas. Não estará o PT repetindo o equívoco, com uma leitura míope do mundo e distorcida do papel do Estado? A resposta cabe ao governo. Ao PSDB cumpre oferecer a sua visão alternativa e um programa contemporâneo que amplie as possibilidades de realização pessoal e coletiva dos brasileiros. Sem esquecer o passado, mas com os olhos no futuro. </div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">* Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e foi Presidente da República</strong></div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-46337931263230185772013-02-27T20:01:00.001-03:002013-02-27T20:02:05.565-03:00As palavras de Bento XVI na última Audiência Geral do seu pontificado<br />
<div class="post-content" style="padding-bottom: 20px;">
<h2 style="color: #545454; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; line-height: 26px; margin: 8px 0px 0px; text-rendering: optimizelegibility;">
<a href="http://www.zenit.org/pt/articles/a-palavra-de-verdade-do-evangelho-e-a-forca-da-igreja-e-a-sua-vida" target="_blank">"A Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida"</a></h2>
<h3 style="color: inherit; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; font-weight: normal; line-height: 20px; margin: 8px 0px 5px; text-rendering: optimizelegibility;">
<span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;">Roma,</span><span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;"> </span><time datetime="2013-02-27T00:00:00+00:00" style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;">27 de Fevereiro de 2013</time><span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;"> </span><span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;">(</span><a href="http://www.zenit.org/pt/articles/www.zenit.org" rel="external" style="color: rgb(59, 59, 59) !important; font-size: 13px; font-style: italic; text-decoration: none;">Zenit.org</a><span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;">)</span><span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;"> </span><span style="color: #555555; font-size: 13px; font-style: italic;">|</span></h3>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
</div>
<div style="margin-bottom: 8px;">
<br /></div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio!</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Ilustres Autoridades!<br />
Queridos irmãos e irmãs!</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Agradeço-vos por terem vindo em tão grande número para esta minha última Audiência geral.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Obrigado de coração! Estou realmente tocado! E vejo a Igreja viva! E penso que devemos também dizer um obrigado ao Criador pelo tempo belo que nos doa agora ainda no inverno.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Como o apóstolo Paulo no texto bíblico que ouvimos, também eu sinto no meu coração o dever de agradecer sobretudo a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra e assim alimenta a fé no seu Povo. Neste momento a minha alma se expande para abraçar toda a Igreja espalhada no mundo; e dou graças a Deus pelas “notícias” que nestes anos do ministério petrino pude receber sobre a fé no Senhor Jesus Cristo, e da caridade que circula realmente no Corpo da Igreja e o faz viver no amor, e da esperança que nos abre e nos orienta para a vida em plenitude, rumo à pátria do Céu.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Sinto levar todos na oração, um presente que é aquele de Deus, onde acolho em cada encontro, cada viagem, cada visita pastoral. Tudo e todos acolho na oração para confiá-los ao Senhor: para que tenhamos plena consciência da sua vontade, com toda sabedoria e inteligência espiritual, e para que possamos agir de maneira digna a Ele, ao seu amor, levando frutos em cada boa obra (cfr Col 1,9-10).</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Neste momento, há em mim uma grande confiança, porque sei, todos nós sabemos, que a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. O Evangelho purifica e renova, traz frutos, onde quer que a comunidade de crentes o escuta e acolhe a graça de Deus na verdade e vive na caridade. Esta é a minha confiança, esta é a minha alegria.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Quando, em 19 de abril há quase oito anos, aceitei assumir o ministério petrino, tive a firme certeza que sempre me acompanhou: esta certeza da vida da Igreja, da Palavra de Deus. Naquele momento, como já expressei muitas vezes, as palavras que ressoaram no meu coração foram: Senhor, porque me pedes isto e o que me pede? É um peso grande este que me coloca sobre as costas, mas se Tu lo me pedes, sobre tua palavra lançarei as redes, seguro de que Tu me guiarás, mesmo com todas as minhas fraquezas. E oito anos depois posso dizer que o Senhor me guiou, esteve próximo a mim, pude perceber cotidianamente a sua presença. Foi uma parte do caminho da Igreja que teve momentos de alegria e de luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no mar da Galileia: o Senhor nos doou tantos dias de sol e de leve brisa, dias no qual a pesca foi abundante; houve momentos também nos quais as águas eram agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir. Mas sempre soube que naquela barca está o Senhor e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é Sua. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também através dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza, que nada pode ofuscá-la. E é por isto que hoje o meu coração está cheio de agradecimento a Deus porque não fez nunca faltar a toda a Igreja e também a mim o seu consolo, a sua luz, o seu amor.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Estamos no Ano da Fé, que desejei para reforçar propriamente a nossa fé em Deus em um contexto que parece colocá-Lo sempre mais em segundo plano. Gostaria de convidar todos a renovar a firme confiança no Senhor, a confiar-nos como crianças nos braços de Deus, certo de que aqueles braços nos sustentam sempre e são aquilo que nos permite caminhar a cada dia, mesmo no cansaço. Gostaria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que doou o seu Filho por nós e que nos mostrou o seu amor sem limites. Gostaria que cada um sentisse a alegria de ser cristão. Em uma bela oração para recitar-se cotidianamente de manhã se diz: “Adoro-te, meu Deus, e te amo com todo o coração. Agradeço-te por ter me criado, feito cristão…”. Sim, somos contentes pelo dom da fé; é o bem mais precioso, que ninguém pode nos tirar! Agradeçamos ao Senhor por isto todos os dias, com a oração e com uma vida cristã coerente. Deus nos ama, mas espera que nós também o amemos!</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Mas não é somente a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na guia da barca de Pedro, mesmo que seja a sua primeira responsabilidade. Eu nunca me senti sozinho no levar a alegria e o peso do ministério petrino; o Senhor colocou tantas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja, ajudaram-me e foram próximas a mim. Antes de tudo vós, queridos Cardeais: a vossa sabedoria, os vossos conselhos, a vossa amizade foram preciosos para mim; os meus Colaboradores, a começar pelo meu Secretário de Estado que me acompanhou com fidelidade nestes anos; a Secretaria de Estado e toda a Cúria Romana, como também todos aqueles que, nos vários setores, prestaram o seu serviço à Santa Sé: são muitas faces que não aparecem, permanecem na sombra, mas propriamente no silêncio, na dedicação cotidiana, com espírito de fé e humildade foram para mim um apoio seguro e confiável. Um pensamento especial à Igreja de Roma, a minha Diocese! Não posso esquecer os Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, as pessoas consagradas e todo o Povo de Deus: nas visitas pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens, sempre percebi grande atenção e profundo afeto; mas também eu quis bem a todos e a cada um, sem distinções, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Em cada dia levei cada um de vós na oração, com o coração de pai.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Gostaria que a minha saudação e o meu agradecimento alcançasse todos: o coração de um Papa se expande ao mundo inteiro. E gostaria de expressar a minha gratidão ao Corpo diplomático junto à Santa Sé, que torna presente a grande família das Nações. Aqui penso também em todos aqueles que trabalham para uma boa comunicação, a quem agradeço pelo seu importante serviço.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Neste ponto gostaria de agradecer verdadeiramente de coração todas as numerosas pessoas em todo o mundo, que nas últimas semanas me enviaram sinais comoventes de atenção, de amizade e de oração. Sim, o Papa não está nunca sozinho, agora experimento isso mais uma vez de um modo tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos e tantas pessoas se sentem muito próximas a ele. É verdade que recebo cartas dos grandes do mundo – dos Chefes de Estado, dos Líderes religiosos, de representantes do mundo da cultura, etc. Mas recebo muitas cartas de pessoas simples que me escrevem simplesmente do seu coração e me fazem sentir o seu afeto, que nasce do estar junto com Cristo Jesus, na Igreja. Estas pessoas não me escrevem como se escreve, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se conhece. Escrevem-me como irmãos e irmãs ou como filhos e filhas, com o sentido de uma ligação familiar muito afetuosa. Aqui pode se tocar com a mão o que é a Igreja – não uma organização, uma associação para fins religiosos ou humanitários, mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que une todos nós. Experimentar a Igreja deste modo e poder quase tocar com as mãos a força da sua verdade e do seu amor é motivo de alegria, em um tempo no qual tantos falam do seu declínio. Mas vejamos como a Igreja é viva hoje!</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Nestes últimos meses, senti que as minhas forças estavam diminuindo e pedi a Deus com insistência, na oração, para iluminar-me com a sua luz para fazer-me tomar a decisão mais justa não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo na plena consciência da sua gravidade e também inovação, mas com profunda serenidade na alma. Amar a Igreja significa também ter coragem de fazer escolhas difíceis, sofrer, tendo sempre em vista o bem da Igreja e não de si próprio.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Aqui, permitam-me voltar mais uma vez a 19 de abril de 2005. A gravidade da decisão foi propriamente no fato de que daquele momento em diante eu estava empenhado sempre e para sempre no Senhor. Sempre – quem assume o ministério petrino já não tem mais privacidade alguma. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja. Sua vida vem, por assim dizer, totalmente privada da dimensão privada. Pude experimentar, e o experimento precisamente agora, que se recebe a própria vida quando a doa. Antes disse que muitas pessoas que amam o Senhor amam também o Sucessor de São Pedro e estão afeiçoadas a ele; que o Papa tem verdadeiramente irmãos e irmãs, filhos e filhas em todo o mundo, e que se sente seguro no abraço da vossa comunhão; porque não pertence mais a si mesmo, pertence a todos e todos pertencem a ele.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
O “sempre” é também um “para sempre” – não há mais um retornar ao privado. A minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não revoga isto. Não retorno à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções, conferências, etc. Não abandono a cruz, mas estou de modo novo junto ao Senhor Crucificado. Não carrego mais o poder do ofício para o governo da Igreja, mas no serviço da oração estou, por assim dizer, no recinto de São Pedro. São Bento, cujo nome levo como Papa, será pra mim de grande exemplo nisto. Ele nos mostrou o caminho para uma vida que, ativa ou passiva, pertence totalmente à obra de Deus.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Agradeço a todos e a cada um também pelo respeito e pela compreensão com o qual me acolheram nesta decisão tão importante. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja com a oração e a reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que busquei viver até agora a cada dia e que quero viver sempre. Peço-vos para lembrarem-se de mim diante de Deus e, sobretudo, para rezar pelo Cardeais, chamados a uma tarefa tão importante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro: o Senhor o acompanhe com a sua luz e a força do seu Espírito.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Invoquemos a materna intercessão da Virgem Maria Mãe de Deus e da Igreja para que acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a ela nos confiemos, com profunda confiança.</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja, a apoia mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Não percamos nunca esta visão de fé, que é a única verdadeira visão do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, haja sempre a alegre certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está próximo a nós e nos acolhe com o seu amor. Obrigado!</div>
<div style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin-bottom: 8px;">
(Tradução:CN noticias)</div>
</div>
<div class="copyright-block" style="color: #555555; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px;">
(27 de Fevereiro de 2013) © Innovative Media Inc.</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-82681229146876301922013-01-22T12:23:00.001-03:002013-01-22T12:26:14.878-03:00Uma sociedade adolescente<br />
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="background-color: white;"><a href="http://oglobo.globo.com/opiniao/uma-sociedade-adolescente-7357982" target="_blank">Rodrigo Constantino, O GLOBO</a></span></div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Em meu último artigo tratei do lado moral da crise que os países desenvolvidos enfrentam. Algumas pessoas podem estranhar o foco, pois sou economista. Gostaria de lembrar que Adam Smith, antes de escrever sobre a riqueza das nações, escreveu "Teoria dos Sentimentos Morais". Debater o crescimento de 1% ou 2% do PIB pode ter sua relevância; mas economia é muito mais que isso.</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Eis porque retorno ao tema da crise de valores, desta vez priorizando o caso latino-americano. Se Japão, Estados Unidos e Europa passam por um declínio moral, parece que a América Latina, em especial o "eixo do mal" bolivariano, sequer experimentou uma fase de maturidade. Estamos estagnados na era do infantilismo.</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
É por isso que recomendo a leitura de "A sociedade que não quer crescer", do argentino Sergio Sinay. O livro disseca os perigos do fenômeno que podemos observar facilmente no Brasil também: adultos que se negam a ser adultos. São os "adultescentes".</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Como a Argentina parece estar em estágio mais avançado da patologia, os alertas de Sinay tornam-se ainda mais importantes. A Argentina pode ser o Brasil amanhã, o que é uma visão assustadora. Não só porque a presidente exagera no botox, mas porque a volta ao passado populista se dá a passos largos.</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
O autor faz a ligação entre essa postura infantil de boa parte da população e a anomia em que vive seu país, cada vez mais bagunçado e autoritário. É o que acontece quando os adultos preferem agir como adolescentes, no afã de postergar ao máximo a velhice.</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Maturidade exige renúncia, sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal. São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
"Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo, na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos colocados sobre pedestais sem alicerces".</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Impossível não pensar em Chávez, Morales, Corrêa, Kirchner e Lula. Ou ainda nos artistas e atletas famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado argentino:</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
"Uma sociedade é adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um adolescente, os vê como um tributo invejável".</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Não podemos ridicularizar nossos "hermanos" nesse ponto. Basta pensar nos nossos próprios heróis. Para sair do futebol, que tal Oscar Niemeyer? Os brasileiros não souberam separar seu talento artístico do restante, e criaram a imagem de um grande humanista abnegado. Um humanista que, como já abordei nesse espaço, adorava o maior assassino de todos os tempos: Joseph Stalin.</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Mas a simples constatação de que não se pode ser um grande humanista e um defensor de Stalin ou Fidel Castro ao mesmo tempo, bastou para gerar reações histéricas: "Quem você pensa que é para falar do grande mestre?"</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
O colunista Zuenir Ventura também reagiu: "Algumas críticas ideológicas a Oscar Niemeyer depois de morto revelam, de tão iradas, que no Brasil foi fácil acabar com o comunismo. O difícil é acabar com o anticomunismo". Resta perguntar: e devemos acabar com a oposição a esta utopia que trucidou dezenas de milhões de inocentes?</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
O comunismo foi o sonho adolescente de intelectuais que pariu o pesadelo real de milhões de pessoas. Combatê-lo é um dever moral. Hoje ele se adaptou, mudou, mas ainda sobrevive como "socialismo bolivariano", com que muitos brasileiros flertam.</div>
<div style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
Até quando vamos viver em uma sociedade adolescente, que se recusa a amadurecer e deposita no "papai" governo uma fé messiânica?</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-30178739333197529082013-01-11T13:41:00.000-03:002013-01-11T13:41:10.667-03:00A política, segundo Tim Maia<span style="color: #2a2a2a; font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 17px; line-height: 20px;"><a href="http://oglobo.globo.com/opiniao/a-politica-segundo-tim-maia-7252516#ixzz2HgZF4sNJ" target="_blank">Por Nelson Motta, publicado no Jornal O Globo, em 11/01/2013</a>.</span></span><br />
<span style="color: #2a2a2a; font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 17px; line-height: 20px;"><br /></span></span>
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;">Sempre que perguntada, a maioria da população brasileira tem se manifestado contra a liberação do aborto, da maconha e do casamento gay, e a favor da pena de morte e da maioridade penal aos 16 anos. Sem dúvida são posições conservadoras, ou “de direita”, como diz o Zé Dirceu, e, no entanto, são esses que elegem os governos e as maiorias parlamentares ditas “de esquerda” hoje no Brasil. Como harmonizar o conservadorismo na vida real com o progressismo na política?</span><br />
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;"><br /></span>
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;">Talvez Tim Maia tivesse razão quando dizia que, “no Brasil, não só as putas gozam, os cafetões são ciumentos e os traficantes são viciados, os pobres são de direita”. Uma ingratidão com a esquerda que lhes dá o melhor de si e luta pelo seu bem estar. Mas tanto a maioria dos velhos pobres como dos novos, da antiga classe média careta e da nova mais careta ainda, e, claro, as elites, acreditam em Deus, na família e nos valores tradicionais, e rejeitam ideias progressistas. Discutir, apenas discutir as suas crenças, é considerado suicídio eleitoral.</span><br />
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;"><br /></span>
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;">Quando Abraham Lincoln, em 1862, promulgou a Homestead Law, a lei da reforma agrária nos Estados Unidos, assegurando a cada cidadão o direito de requerer uma propriedade de até 4 mil metros quadrados de terra do Estado, pagando 1 dólar e 25 centavos, criou milhões de pequenos proprietários rurais — que deram origem às grandes maiorias conservadoras de hoje, que ganharam sua bolsa-terra e não querem mudar mais nada. Uma ação politicamente progressista gerou milhões de novos reacionários.</span><br />
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;"><br /></span>
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;">Um século e meio depois, no Brasil, a nossa “nova classe média”, que tem casa, carro, crédito, viaja de avião e é eleitoralmente decisiva, parece ser ainda mais conservadora do que a “velha”. A ascenção social exige segurança e instituições sólidas, quer conservar o que conquistou e reage a mudanças que ameacem suas conquistas. Como Tim Maia, querem sossego.</span><br />
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;"><br /></span>
<span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;">Então por que não param de falar em esquerda e direita como se fosse de futebol e tentam entender o que está acontecendo? Como disse o ex-comunista Ferreira Gullar, “no meu tempo ser de esquerda dava cadeia, hoje dá emprego”.</span><br />
<strong style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;"><br /></strong>
<strong style="color: #2a2a2a; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 17px; line-height: 20px;">Nelson Motta é jornalista</strong><br />
<div>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 20px;"><span style="font-size: x-small;">© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.</span></span>Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-62784903250945077042013-01-02T11:16:00.000-03:002013-01-08T17:59:48.062-03:00Mensagem de ano novo da governadora Rosalba Ciarlini<div>
<br />
<br /></div>
<blockquote type="cite">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/PPhU43qEb3Y?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br /></blockquote>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-42771813133398728772012-11-19T17:25:00.004-03:002012-11-19T17:26:45.655-03:00A reforma esquecida<br />
<h1 style="background-color: white; color: #010101; font-weight: normal; margin: 4px 0px 0px; padding: 0px 0px 15px;">
<br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16px;"><a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-reforma--esquecida-,961326,0.htm" target="_blank">POR ALMIR PAZZIANOTTO PINTO</a>, ADVOGADO; FOI MINISTRO , DO TRABALHO E PRESIDENTE DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO - <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-reforma--esquecida-,961326,0.htm" target="_blank">O Estado de S.Paulo</a>, </span><span style="color: #929292; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 10px; line-height: normal;">17 de novembro de 2012</span><span style="color: #929292; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 10px; line-height: normal;"> </span></h1>
<div id="bb-md-noticia-tabs" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px; margin: 29px 0px 0px; padding: 0px;">
<div class="bb-md-noticia_tab" id="bb-md-noticia-tabs-1" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="texto-noticia" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="corpo" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) nasceu arcaica. Arcaica por ter como matriz a Carta Constitucional de 1937, com a qual o então presidente Getúlio Vargas pretendeu imprimir legitimidade ao golpe desfechado para a implantação do Estado Novo. Não obstante, ela sobrevive há quase 70 anos.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Foram incumbidos de redigi-la, pelo Ministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Filho, quatro procuradores da Justiça do Trabalho: Luís Augusto do Rego Monteiro, José de Segadas Viana, Dorval de Lacerda e Arnaldo Lopes Sussekind. A tarefa teórico-burocrática, desamparada de experiências na vida real, foi levada a cabo em dez meses e o anteprojeto, submetido ao ministro em novembro de 1942, sendo publicado em janeiro no Diário Oficial para receber sugestões. Quatro meses depois, em 1.º de maio, Vargas celebrou o Dia do Trabalho com o Decreto-Lei n.º 5.452, que aprovou a Consolidação.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A Carta de 37 fora inspirada na Carta del Lavoro da Itália fascista de Benito Mussolini. Dela vieram, transplantados para o Direito Constitucional e do Trabalho, o sindicato único reconhecido e controlado pelo Estado, a divisão de trabalhadores e empregadores em categorias profissionais e econômicas, o imposto sindical, a Justiça do Trabalho investida de poder normativo, a criminalização da greve, o dirigente pelego e corrupto.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Em 24 de julho de 1943, ante a certeza da vitória dos países aliados na grande guerra contra o nazi-fascismo (1939-1945), Mussolini foi derrubado. A ditadura e o corporativismo sindical deixaram de existir, com o imediato ressurgimento dos partidos políticos e de sindicatos livres da intromissão do governo. Vargas, por sua vez, foi deposto em 29 de outubro de 1945 e nova Constituição democrática, promulgada em 18 de setembro de 1946. A CLT, entretanto, permaneceu intocada, trazendo nas veias estruturas corporativo-fascistas, contidas na Carta de 37.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Em 1970 o Tribunal Superior do Trabalho (TST) elaborou anteprojeto de Código Processual do Trabalho, entregue ao ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, em setembro daquele ano. Na edição de 9 de setembro o jornal <strong style="margin: 0px; padding: 0px;">O Estado de S. Paulo</strong> noticiou o ocorrido e citou os ministros Mozart Russomano e Arnaldo Sussekind, para os quais aquele seria "o mais completo código processual de que se tem notícia no mundo ocidental". Um dos objetivos do projeto consistia na redução do número de recursos. Com mais de 500 artigos, a iniciativa morreu no berço.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Preocupado com movimentos grevistas deflagrados pelos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) a partir de 1978, o presidente João Figueiredo retomou a ideia de modernização da CLT. Uma comissão de juristas foi organizada, sob a presidência do ministro Sussekind, para a redação de anteprojeto. Em março de 1979 já se achava concluído. Sobre ele escreveu a revista Veja, na edição de 9 de maio: "Grande por fora - O anteprojeto da CLT com mais de 1.300 artigos". Ouvido a respeito, Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, disparou: "Não adianta remendar a CLT". A seu ver, o correto seria aprovar lei básica reunindo garantias essenciais e mínimas, deixando o restante por conta de negociações coletivas protegidas contra interferências externas. Derrotada pela crítica, a pretensiosa iniciativa foi sepultada.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Nova tentativa de atualização ocorreu 29 anos depois. A essa altura, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, em 25 de setembro de 2003 instalou o Fórum Nacional do Trabalho, integrado por dezenas de representantes do governo, dirigentes sindicais patronais e profissionais e advogados. Em fevereiro de 2005 o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, submeteu ao presidente proposta de emenda aos artigos 8.º, 11, 37 e 114 da Constituição de 1988, acompanhada de anteprojeto de lei de relações sindicais. Passados mais de sete anos, ambos continuam engavetados, rejeitados por trabalhadores e patrões.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
Ao se vincular ao modelo corporativo-fascista, a CLT garroteou a vida sindical e as negociações coletivas, submetidas ao arbítrio do Judiciário, e privilegiou o direito individual, ininterruptamente ampliado por meio de normas esparsas, que o fazem cada vez mais volumoso, complexo, obscuro, confuso, como prova a jurisprudência inconstante. Daí o gigantesco número de conflitos que chegam à Justiça do Trabalho - hoje representada por 1.418 varas instaladas e 169 à espera de instalação, 24 tribunais regionais, na maioria dos casos subdivididos em turmas, e pelo TST - e ao Supremo Tribunal Federal, alvo de recursos extraordinários que lhe sobrecarregam a pauta. Apenas no período compreendido entre 2000 e agosto de 2012 deram entrada mais de 30,3 milhões de ações individuais e coletivas.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
É temerário ignorar a crise econômica mundial, refletida no acelerado aumento do desemprego na União Europeia, e subestimar o avanço da China do século 21. Dentro desse contexto, o Brasil não se deve descuidar e deixar de lado reformas há décadas exigidas. Uma das providências destinadas à proteção e sustentabilidade do mercado interno consiste na modernização trabalhista. A desindustrialização é real, e não mera tese de pessimistas. A indústria acusou neste ano os piores resultados desde 2009. A porcentagem que lhe cabe no produto interno bruto (PIB) tem caído e 2012 se encerrará com perda de milhares de postos de trabalho, principalmente em São Paulo, muitos desaparecidos, outros preenchidos pela robotização.</div>
<div style="color: #464646; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 16px; margin-bottom: 1.5em; padding: 0px;">
A presidente Dilma Rousseff tem problemas a resolver na esfera trabalhista. Poderá optar pela inércia - o que não me parece ser do seu feitio - ou dar passos iniciais, com a extinção do corruptor imposto sindical, a quebra do monopólio de representação, a criação do Simples Trabalhista, a redução da interferência nas relações de trabalho, sobretudo nas terceirizações, e negociações coletivas. Não é tudo, mas parte do que deve ser feito, em benefício de segurança jurídica nas relações de trabalho.</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3214417140532370034.post-89060216033537807732012-11-19T17:22:00.001-03:002012-11-19T17:22:39.882-03:00Rodrigo Constantino: Guarani Kaiowá de boutique<br />
<h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, sans-serif; margin: 20px 0px 0px; position: relative;">
Guarani Kaiowá de boutique</h3>
<div class="post-header" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, sans-serif; font-size: 16px; line-height: 1.6; margin: 0px 0px 1em;">
<div class="post-header-line-1">
</div>
</div>
<div class="post-body entry-content" id="post-body-5671193081453112605" itemprop="description articleBody" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, sans-serif; font-size: 16px; line-height: 22px; position: relative; width: 680px;">
<br /><div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Luiz Felipe Pondé, Folha de SP</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se "extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da democracia.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio "Discurso Inaugural", parte da coletânea "Menos que Um" (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Este fenômeno dos "índios de Perdizes" é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa mediocridade.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome" no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um "conceito"? Um "mito", sua releitura de Adão e Eva.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Elas não entendem que índios são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e miseráveis enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um "passaporte" da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar mal da "opressão social".</span></div>
<div style="line-height: 18px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Minha proposta é a de que todos que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos da floresta.</span></div>
<div style="clear: both;">
</div>
</div>
<div class="post-footer" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, sans-serif; font-size: 16px; line-height: 1.6; margin: 0.5em 0px;">
<div class="post-footer-line post-footer-line-1">
<span class="post-author vcard" style="margin-left: 0px; margin-right: 1em;">Posted by <span class="fn" itemprop="author" itemscope="itemscope" itemtype="http://schema.org/Person"><a href="http://www.blogger.com/profile/09330341852800968799" rel="author" style="color: #b87209; text-decoration: initial;" title="author profile"><span itemprop="name">Rodrigo Constantino</span> </a></span></span><span class="post-timestamp" style="margin-left: -1em; margin-right: 1em;">at <a class="timestamp-link" href="http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2012/11/guarani-kaiowa-de-boutique.html" rel="bookmark" style="color: #b87209; text-decoration: initial;" title="permanent link"><abbr class="published" itemprop="datePublished" style="border: none;" title="2012-11-19T09:52:00-02:00">9:52 AM</abbr></a></span></div>
</div>
Prof. Anselmo Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/12344898330984197164noreply@blogger.com0