11 outubro 2010

Jorge Bornhausen: “Lula nos agrediu e recebeu a resposta nas urnas”


via Reinaldo Azevedo | VEJA.com de Reinaldo Azevedo em 11/10/10

Por Malu Delgado, no Estadão:
Ex-presidente do DEM, Jorge Bornhausen foi convidado a integrar o núcleo político que vai comandar a campanha de José Serra (PSDB) no segundo turno da corrida presidencial. Um dos críticos mais contundentes do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bornhausen, que já pregou o "fim da raça" petista, diz que o DEM deu respostas ao atual governo nas urnas. Foi em Santa Catarina que Lula disse que o partido seria extirpado e foi lá que o candidato Raimundo Colombo, do DEM, foi eleito.
Político experimentado, Bornhausen cobra uma postura crítica de José Serra. Acha que a oposição tem que se mostrar como oposição. "Não vejo porque temer em falar em Fernando Henrique", afirma. Porém, salienta, o eixo da campanha não deve ser o passado. "A tônica central deve ser a proposição, o confronto de personagens. Mas, é indispensável que a crítica exista. E essa crítica foi muito mais feita pela imprensa", analisa.
Sobre a questão do aborto, afirma que o tema foi introduzido à campanha pelo próprio PT na medida em que o governo defendeu a descriminalização do aborto no Plano Nacional de Direitos Humanos. O clima entre PSDB e DEM, afirma, não poderia estar melhor. "Estamos convictos de que vamos ganhar a eleição."
Como foi o processo para sua integração ao núcleo político da campanha? O convite partiu do próprio candidato?
Na segunda-feira (depois do primeiro turno) os candidatos majoritários estiveram com o Serra. Nesta reunião, ele me pediu que colaborasse e ajudasse na coordenação de campanha. Eu concordei e disse que gostaria de trabalhar visando ao melhor resultado possível. Integramos o núcleo que tem o Aloysio (Nunes, eleito senador por São Paulo), o Sérgio Guerra (presidente do PSDB), o Rodrigo (Maia, presidente do DEM), os presidentes de partidos para ajudar exatamente no sentido político. Acho que isso poderá realmente trazer benefícios à campanha. O segundo turno é uma nova eleição. Eu estou com uma expectativa muito favorável. O clima é de vitória por parte dos que integram a equipe.
Fazendo uma retrospectiva do primeiro turno, o sr. fez diagnósticos? Quais ajustes são necessários?
Toda campanha necessita de ajustes. Acho que na política é sempre onde tem de haver a parte crítica. Isso faz com que esse espírito de oposição se incorpore à campanha. Não vejo como a oposição fazer oposição sem críticas. Respeitosas, mas necessárias.
O sr. se refere à necessidade de a campanha de Serra fazer críticas mais contundentes ao PT e ao governo?
Eu acho que são críticas ao desempenho do governo e críticas de natureza ética ao que ocorreu durante esse período em que o governo do PT trouxe mensalões e outras coisas para a vida pública brasileira.
No primeiro turno essa abordagem crítica foi deixada de lado?
A crítica realmente não foi a tônica central, nem deve ser. A tônica central deve ser a proposição, o confronto de personagens. Mas, é indispensável que a crítica exista. E essa crítica foi muito mais feita pela imprensa de forma eficiente e verdadeira, e a imprensa sendo ameaçada pelo governo Lula, do que propriamente pela campanha do candidato de oposição. Acho que agora não pode deixar de haver esse posicionamento político.
É neste sentido que se encaixa a preocupação do PSDB e do DEM de abordar o que foi o governo Fernando Henrique Cardoso sem receio de esconder o que foi esse governo?
Eu tenho uma opinião muito clara em relação ao governo do presidente Fernando Henrique. Ele foi o grande transformador do Brasil. O Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal por si só o levarão para a história como um grande brasileiro. Só que este não é o tema da campanha. O tema é o futuro, o que se quer para o Brasil. Se quer um Brasil partidarizado ou tenha um governo formado por técnicos categorizados, por políticos habilitados e com ética. Um governo com ética e um governo em que o presidente da República tenha postura de presidente. E que não falte com a verdade. Essa é a tônica que deve prevalecer na parte crítica, que faz parte da política da campanha.
O presidente Lula entrou na campanha no primeiro turno sem amarras, sendo, inclusive, multado pela Justiça Eleitoral. Como o sr. vê a questão do comportamento de Lula e a expectativa da ação dele para o segundo turno?
No primeiro turno o presidente jogou-se com a máquina estatal para eleger a sua candidata. Não poupou nenhuma ação governamental. Utilizou-se de todos os meios. Nunca foi visto na história de um país democrático uma atuação dessa natureza de um presidente. Ele foi tudo, menos o magistrado da nação.
O sr. acredita que ele continuará na mesma toada no segundo turno?
Ele nos agrediu. Agrediu o governador Luiz Henrique e recebeu a resposta nas urnas. Ganhamos no primeiro turno. Em Joinville, foi a maior votação do Raimundo Colombo. Acho que ele tem que ser respondido na medida em que atue de forma ilegal e abusiva.
O sr. se refere à frase do presidente sobre a extirpação do DEM?
O presidente fez referências diretas aos Bornhausen, desrespeitando as famílias catarinenses que vieram colonizar este Estado e o colocaram como melhor Estado da federação.
Mas, em 2006, o sr. também disse "vamos acabar com essa raça" e a frase está na memória do PT até hoje
A raça teve um sentido claro. É um lado. É a raça corintiana, a raça flamenguista, a raça petista. Não teve nenhum cunho racista. É no sentido de não permitir que voltasse a ter o mensalão. Estávamos em pleno reino do mensalão (em 2006), na maior corrupção ética da história política. Foi isso.
A polêmica sobre o aborto é central para o debate no segundo turno?
Quem colocou esse tema na pauta foi o PT e o Plano Nacional de Direitos Humanos do governo Lula, assinado pela ministra Dilma. Agora quer se esconder da responsabilidade. Cabe ao PT dizer que isso está no seu programa. Senão, é mentir.
Mas essa discussão não corre o risco de ser colocada de uma maneira enviesada em que se dilui a importância de defender um Estado laico?
Quem tem colocado essa questão são os religiosos, que defendem a vida e reagiram a essa postura do PT e da candidata, que adotou uma posição contra princípios religiosos.
O PT atribui a entrada desse tema de forma intensa na campanha à onda de boatos que teria sido propagada e alimentada pelo PSDB e aliados.
Não é onda de boato que consta no programa do PT e do Plano Nacional de Direitos Humanos. Portanto, não é boato. E a candidata é do PT e, portanto, adota essa mesma posição.
O futuro deve ser a tônica do segundo turno? Quais temas serão explorados pelo candidato José Serra?
Cabe ao candidato a presidente escolher o roteiro da sua campanha. Cabe a seus companheiros ajudarem na discussão disso. O presidente é um homem muito preparado. Na minha opinião é hoje o político mais preparado do Brasil, o melhor administrador público. Ele saberá como ninguém colocar os pontos da sua administração para o futuro. Aqui

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