A espinha dobrada do PT - Opinião - Estadão.com.br
via www.estadao.com.br em 22/08/09
Sexta-Feira, 21 de Agosto de 2009 Versão Impressa
A espinha dobrada do PT
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Desse ângulo, a crônica política dos últimos dois meses - quando a crise do Senado assumiu as feições do seu presidente, José Sarney - pode se resumir à constância com que Lula empregou o seu poderio em favor do aliado. Ele partiu da premissa de que a criação de uma imagem palatável da ministra perante o grosso do eleitorado depende das máquinas estaduais do PMDB e do tempo do partido no horário gratuito. Lula também acredita que Sarney é peça insubstituível na montagem da coligação com que conta para fazer da disputa de 2010 um plebiscito sobre o seu governo, promovendo a transferência de votos para Dilma. O resto foi decorrência. Por via das dúvidas, a caciquia peemedebista não hesitou em chantagear o presidente cada vez que a bancada do PT parecia propensa a complicar a vida do senador, ora com um pedido para que se afastasse da direção da Casa, ora com a tentativa de desarquivar pelo menos 1 das 11 denúncias ou representações apresentadas contra ele no Conselho de Ética. E Lula sempre respondeu à altura - por assim dizer.
E, de arrocho em arrocho, obteve na quarta-feira os três votos petistas necessários para livrar Sarney de um processo por quebra de decoro parlamentar. O enquadramento da bancada ficou escancarado com a leitura, em plena reunião do Conselho, de uma nota do presidente petista, Ricardo Berzoini, o interventor de Lula na agremiação, que desqualifica as acusações ao senador como "manipulação hipócrita dos interesses eleitorais" da oposição. Numa reunião do politburo do partido, horas antes, com Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete de Lula, o líder da bancada Aloizio Mercadante, da linha anti-Sarney, se comprometera a ler o texto. Depois, amarelou, deixando a incumbência para o colega João Pedro. Isso foi só uma amostra. Há dias ele vinha falando em renunciar à liderança se a cúpula petista exigisse a submissão dos representantes no Conselho de Ética. Diante do fato consumado, contorceu-se, pateticamente. "A minha vontade, hoje, verdadeira, era sair", entoou. "Meu cargo está totalmente à disposição, só não quero agravar a crise num dia como hoje."
Ontem, enfim, anunciou que renunciaria irrevogavelmente, decisão que, mais tarde, deixou para hoje. De todo modo, o seu comportamento hesitante já havia descontentado os lulistas e os éticos. Um destes últimos, o paranaense Flávio Arns, roubou a cena com uma demonstração - incomum nos tempos que correm - de integridade política e autorrespeito. Ele se declarou "envergonhado" de sua filiação ao PT porque o partido "rasgou a página fundamental de sua constituição, que é a ética", e se move por "bandeiras visando à eleição do ano que vem". A "quebra do ideário" será o seu argumento na Justiça Eleitoral para manter o mandato. Ele não foi o único petista a dizer que perdera as ilusões. Também anteontem - numa data decerto escolhida a dedo - a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva anunciou a sua esperada desfiliação do PT. Provável candidata presidencial pelo Partido Verde (PV), com uma plataforma centrada no desenvolvimento sustentável, ela deplorou a falta de condições políticas para "fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo".
A tática do trator do lulismo fez por merecer o comentário ferino do senador Pedro Simon: "Hoje é o dia em que o PT abraça o Sarney e o Collor, e a Marina sai do partido."
Marcadores: política
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