01 outubro 2010

Somos os “judeus insolentes” do petismo. Ou: “Um dia a gente cala vocês!”

via Reinaldo Azevedo | VEJA.com de Reinaldo Azevedo em 20/09/10

Abaixo, há um filme de 10 de fevereiro de 1933. Adolf Hitler havia sido nomeado chanceler da Alemanha no dia 30 de janeiro daquele ano — 11 dias antes. Prepara-se um grande evento. O "chanceler" vai falar para todo país e, intuem os nazistas, além das fronteiras. Antes que a grande estrela tome a palavra, uma figura não menos sinistra esquenta as massas: Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do nazismo e homem fiel a Hitler até o fim. Ele e a mulher não se entregaram: suicidaram-se, a exemplo do líder, matando antes os seis filhos. Era uma das maneiras que encontrou de evidenciar sua convicção. Na mesma Sportplatz, dez anos depois, Goebbels discursaria em favor da "guerra total". Fiz uma tradução da íntegra de sua fala (nesse filme) a partir da legenda em inglês e comento trecho a trecho.
Algumas observações importantes antes que avance. É tolice afirmar que estou chamando Lula de nazista. Não estou — se achasse, diria, como sempre. Este é um texto que analisa linguagem, modos de exercitar o poder, visões de mundo. O que sustento, aí sim, é que o petismo repudia a essência da democracia e atropela seus mais caros e necessários rituais. E isso os nazistas fizeram com gosto. Goebbels, o próprio, não odiava, confessamente, a democracia menos do que dizia odiar o comunismo — embora, nesse caso, houvesse uma grande identidade nos métodos, já que todas as tiranias se parecem.
Quando afirmo que "somos os judeus de Lula", também não estão rebaixando a enormidade do Holocausto para encarecer a fealdade do governo petista. Refiro-me, especificamente, aos "judeus" que aparecem na fala de Goebbels: fonte de todo mal, o "outro", o perverso que tem de ser destruído. Vamos ao filme, à fala, que segue em vermelho, e aos meus comentários, em preto.
Companheiros,
Antes de o encontro começar, gostaria de chamar a atenção para alguns artigos da imprensa de Berlim que asseguram que eu não deveria merecer a atenção das rádios alemãs, uma vez que sou insignificante demais, pequeno demais e mentiroso demais para poder me dirigir ao mundo inteiro.
Como fica claro, a imprensa era a grande inimiga dos nazistas — e, por isso, deram um jeito de acabar com ela, ao menos com a imprensa livre. Longe dali, 77 anos depois, em Campinas, chegou a vez de Lula afirmar, referindo-se à imprensa: "Essa gente não me tolera. Mesmo lendo pesquisas de opinião pública, mesmo vendo que tem apenas 4% que acham o governo ruim e péssimo." Goebbels e Lula precisam da fantasia de que há uma conspiração. Aquele, pertencendo a uma máquina mortífera para eliminar inimigos na suposição de que se organizavam num complô, fez o que fez. Lula vai assaltando a institucionalidade dia após dia. Não! Ele não vai instituir um regime nazista no país, é óbvio; só deixará a democracia mais esculhambada, mais fraca, mais frágil diante dos grupos de pressão — vale dizer: menos democrática. Como as sociedades e sua organização política são organismos vivos, essa degeneração pode progredir.
Nesta noite, vocês testemunharão um evento de massa como nunca aconteceu antes na história da Alemanha e, provavelmente, do mundo. Penso que não é exagero afirmar que, nesta noite, 20 milhões de pessoas na Alemanha e além de suas fronteiras ouvirão o discurso do chanceler Adolf Hitler.
Eu não forcei a mão, não, no "nunca antes na história destepaiz" e do mundo. Foi o que disse mesmo o contumaz e metódico assassino. A megalomania nazista já mereceu ensaios, estudos, teses e um grande filme, Arquitetura da Destruição, disponível nas locadoras. O mesmo Lula, 77 anos depois, em Campinas: "Será um metalúrgico que entrará para a história como o presidente que fez a maior capitalização que o capitalismo já conheceu no mundo."
Só em Berlim, além dessa grande demonstração de massa na Sportplatz, dez grandes alto-falantes foram montados ao ar livre, e um número imenso de pessoas já se reúne diante deles. Já há uma multidão entre 500 mil e 600 mil pessoas em pé para ouvir o discurso.
O [jornal] Berliner Tageblatt perguntou, surpreso, quem pagaria por esses auto-falantes. Eu queria acalmar estes senhores do Berliner Tageblatt assegurando que, graças aos céus!, ainda temos dinheiro suficiente para pagar por dez auto-falantes.

Goebbels se jacta, confrontando seus inimigos da imprensa - já citou o primeiro veículo - de que os nazistas contam com a adesão da massa. Além daqueles que estão ali para ouvi-lo, há alto-falantes espalhados por Belim. O ministro da propaganda aponta o que considera o divórcio entre o povo e a imprensa: aquele estaria com eles, e esta falaria sozinha. Em Campinas, na sexta, 77 anos depois, referindo-se aos veículos de comunicação, afirmou Luiz Inácio Lula da Silva: "Eles não se conformam que o pobre não aceita mais o tal do formador de opinião pública. Que o pobre está conseguindo enxergar com seus olhos, pensar com a sua cabeça, pensar com a própria consciência, andar com as suas pernas e falar pelas suas próprias bocas, não precisa do tal do formador de opinião pública. Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos." Esse "nós", evidentemente,são aqueles que Goebbels também chama "companheiros": os seus eram do "Movimento Nacional-Socialista"; os de Lula são do PT.
Não achamos necessário empregar os mesmos métodos do governo marxista social-democrata, embora estejamos numa posição muito melhor do que eles para usar o rádio para combater a criminalidade. Talvez nos apropriemos desse método para expor os monstruosos escândalos de corrupção do governo marxista social-democrata, que foram descobertos nos últimos 14 anos.
Bem, leitores, aqui seria até uma sociedade covarde deste blogueiro com o óbvio lembrar as milhares de vezes em que Lula satanizou o governo que o antecedeu. No comício de Campinas, coube a Dilma repetir Goebbels: "Nós queremos aquele país onde ninguém tinha chance de subir na vida? Não! Nós queremos o país construído pelo Presidente Lula. Um País que deixou seu povo relegado ao abandono não é um País sério". FHC, como se percebe, liderou a República de Weimar, que antecedeu "o chanceler".
Este momento está mais próximo do que os senhores do Berliner Tageblatt querem acreditar. Quando a imprensa judaica reclama que o movimento Nacional Socialista tem a permissão de falar em todas as rádios alemãs por causa de seu chanceler, podemos responder que só estamos fazendo o que vocês sempre fizeram no passado.
Setenta e sete anos depois de Goebbels satanizar os jornais de Berlim, Lula mandou bala: "Existe uma revista que não lembro o nome dela. Ela destila ódio e mentira. E eu queria pedir para você, Dilma, e para você, Aloizio Mercadante: não percam o bom humor". A "imprensa judaica" está para o discurso de Goebbles como os 4% estão para o discurso de Lula.
Há alguns anos, não falávamos da boca pra fora quando dizíamos que vocês, judeus, são nossos professores e que só queremos ser seus alunos e aprender com vocês. Além disso, é preciso esclarecer que aquilo que esses senhores conseguiram no terreno da política de propaganda durante os últimos 14 anos foi realmente uma porcaria. Apesar de eles controlarem os meios de comunicação, tudo o que conseguiram fazer foi encobrir os escândalos parlamentares, que eram inúteis para formar uma nova base política.
Eis aí. Somos, para Lula, o "eles",  "os judeus" de Goebbels. E quem se abriga neste "eles, que somos nós? A imprensa, a oposição, os neutros — no comício de Campinas, Lula atacou também os jornalistas neutros! —, os não-petistas, as pessoas que não pertencem àquilo que Goebbels, no seu tempo e nas condições históricas de que desfrutava, chamava "Movimento Nacional-Socialista". Na segunda-feira passada, falando a sindicalistas, José Dirceu acusou a imprensa de estar aliada ao poder econômico — não disse a qual, já que todo ele está com Dilma — para conspirar contra os petistas. Para Goebbels, os judeus controlavam os meios de comunicação na Alemanha; para os petistas, esses meios de comunicação são o verdadeiro partido de oposição no Brasil.
O Movimento Nacional-Socialista vai mostrar como eles realmente deveriam ter lidado com isso, ou seja, quando se faz um bom governo, uma boa propaganda é conseqüência. Uma coisa segue a outra. Um bom governo sem propaganda dificilmente se sai melhor do que uma boa propaganda sem um bom governo. Um tem que complementar o outro. Se hoje a imprensa judaica acredita que pode fazer ameaças veladas contra o movimento Nacional-Socialista e acredita que pode burlar nossos meios de defesa, então, não deve continuar mentindo. Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!
Incrível, não? Vocês conhecem essa bazófia de trás pra frente. E acreditem: os nazistas, com efeito, ajudaram a pôr "ordem" na Alemanha. Estivessem lá alguns dos nossos jornalistas que hoje transformam consumo em categoria do pensamento democrática, não hesitariam em escrever: "Apesar de alguns problemas, não se pode negar que o chanceler realmente incorporou milhões de alemães ao consumo, controlando a inflação. Ora, isso também é democracia…"
Reitero: Hitler estava no poder havia 11 dias. Vejam a centralidade que Goebbels atribui à máquina oficial de propaganda. Reparem que ele hostiliza e intimida a imprensa, sugerindo que ela fique longe do seu partido porque a vingança virá um dia, como veio. Setenta e sete anos depois, disse Lula em Campinas: "Se o dono do jornal lesse seu jornal ou o dono da revista lesse sua revista eles ficariam com vergonha do que estão escrevendo exatamente nesse momento". E saibam: Franklin Martins já tem tudo planejadinho para nos calar — nós, por metáfora ou atualização histórica, "os judeus insolentes". Para isso o governo fez as suas conferências.
E se outros jornais judeus acham que podem, agora, mudar para o nosso lado com as suas bandeiras, então só podemos dar uma resposta: "Por favor, não se dêem ao trabalho!"
Esse trecho é interessante porque serve de advertência àqueles que acreditam que a adesão pode salvar pescoços. Goebbels diz que não! Os tiranos e afins sempre estão inebriados demais com o próprio poder e só pensam em se vingar. Na lógica deles, ou você é um deles ou, cedo ou tarde, chega a sua vez.
Ademais, os nossos homens da SA e os companheiros de partido podem se acalmar: a hora do fim do terror vermelho chegará mais cedo do que pensamos. Quem pode negar que a imprensa bolchevique mente quando o [jornal] Die Rote Fahne, este exemplo da insolência judaica, se atreve a afirmar que o nosso camarada Maikowski e o policial Zauritz foram fuzilados por nossos próprios companheiros?
No comício de Campinas, José Eduardo Dutra, presidente do PT, chamou as reportagens que apontam lambanças na Casa Civil de "uma farsa". É o que em 1933 se diria "exemplo de insolência judaica".
Esta insolência judaica tem mais passado do que terá futuro. Em pouco tempo, ensinaremos os senhores da Karl Liebnecht Has [sede do Partido Comunista] o que é a morte, como nunca aprenderam antes. Eu só queria acertar as contas com os [nossos] inimigos na imprensa e com os partidos inimigos e dizer-lhes pessoalmente o que quero dizer em todas as rádios alemãs para milhões de pessoas.
Pois é, ele deu o seu recado, que fez história — uma história de horror. Insisto: estou chamando a atenção para a similaridade de pensamento, antes que algum bestinha venha tentar provar as diferenças entre nazismo e petismo, alegando que são momentos históricos diversos etc — como se isso fosse necessário e como se eu não soubesse. Estou tratando aqui da identidade de pontos de vista entre um teórico do totalitarismo e os autoritários pragmáticos do PT. Distantes no tempo e dentro de suas particularidades, têm muita coisa em comum: não gostam da democracia, não gostam da imprensa, não aceitam ter suas ações contestadas e vivem apontando complôs e desqualificando a crítica de maneira estúpida.
Lênin dizia ser impossível governar com uma imprensa livre. Os nazistas fizeram o que se sabe. A Claretta Petacci, sua amante, Mussolini apontou o que considerava os três males da França: "sífilis, absinto e imprensa livre" — esta mesma que Lula e os petistas odeiam no Brasil. Essas idéias têm filiação. E é preciso apontá-las.
Hoje, somos os judeus do Berliner Tageblatt e do Die Rote Fahne. Eles não podiam nem perguntar quem pagou os auto-falantes na nazistada. E a gente não deveria noticiar um propinoduto passando pela Casa Civil. Goebbels avisou: "Um dia calaremos esses judeus insolentes".  Os petistas, à sua moda, prometem fazer o mesmo!

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