25 dezembro 2010

Cordel da Transição, de Raimundo Cazé

via Augusto Nunes - VEJA.com de Augusto Nunes em 29/11/10

Nosso grande comentarista Raimundo Cazé compôs o Cordel da Transição especialmente para a coluna. Divirtam-se

Cordel da transição

(Raimundo Cazé)
Não há nada mais melancólico
Depois de uma eleição
Do que o tempo de espera
Nessa tal de transição
Esperança pros que chegam
Tristeza pros que se vão
Lula e Dilma, finalmente
Vão ficar distanciados
Sai de cena o presidente
Fagueiro e realizado
E o povo brasileiro
Esperando o resultado
A eleita se prepara
Para o que der e vier
Leva como grande trunfo
O fato de ser mulher
A primeira a ser eleita
E seja o que Deus quiser
O presidente que sai
Adotou o populismo
A presidente que entra
Tem raiz no comunismo
Ninguém sabe se virá
Mudança ou continuísmo?
"Pra continuar mudando"
Foi o slogan escolhido
Com isso foram enganando
O eleitor distraído
Que acabou aprovando
Uma coisa sem sentido
Mudança continuada
Sob uma mesma gestão
É uma prova velada
De erros em profusão
Quando a coisa é bem cuidada
Para que mudar, então?
Quem muda só por mudar
Muda sempre pra pior
Se a ordem é continuar
O estilo é um só
O termo aperfeiçoar
Cairia bem melhor
Ninguém nasce igual ao outro
Isso é antigo demais
As pessoas são distintas
Como impressões digitais
Ninguém espere de Dilma
As coisas que Lula faz
Lula nasceu no Nordeste
Mas cedo adquiriu nome
Fez questão de propagar
Que sofreu e passou fome
Criou a falsa imagem
De que é um grande homem
Dilma tem sua origem
Em plagas do exterior
Nasceu em berço de ouro
E com os pais emigrou
Minas e Rio Grande
Foram os chãos que pisou
Ela tem tudo pra ser
O avesso do antecessor
Passou por bancos de escola
Tem curso superior
Enfrentou dificuldades
Que o outro nunca enfrentou
Até na subversão
Dilma foi bem diferente
Seu período de prisão
Foi mais longo e consistente
Chegou a ser torturada
De maneira inclemente
Lula foi condescendente
Com o golpe militar
Passou pouco tempo preso
E aceitou negociar
Para ter vida tranqüila
Não quis radicalizar
No terreno pessoal
Quase nada ele sofreu
Chegou a perder um dedo
Mas disso logo esqueceu
uma aposentadoria
O acidente lhe rendeu
Dilma teve o desprazer
De um câncer que adquiriu
Cuidou cedo da doença
Prontamente reagiu
Depois entrou na campanha
E a tudo resistiu
A ela só falta agora
Se livrar da maldição
Que o populismo de Lula
Causou à população
Como se fosse só dele
O mérito da eleição
Pra governar o País
E ser bem avaliada
Dilma será ela mesma
Por certo e determinada
Mulher nos dias de hoje
Não aceita ser mandada
Se quiser ser grata a Lula
Dê-lhe alguma ocupação
Uma missão estrangeira
Lá no Afeganistão
Pra ele não dar "pitaco"
Em sua administração
Na formação da equipe
Não aceite imposição
No máximo procure ouvir
Uma ou outra sugestão
Porém deixe logo claro
Que é sua a decisão
Se aceitar algum nome
Por lula recomendado
Não deixe no mesmo cargo
Pra não ficar viciado
E nem ter a sensação
De que é apadrinhado
Se puder ser tolerante
Com o grupo derrotado
Faça isso com grandeza
E espírito desarmado
Não diga que o concorrente
Precisa ser massacrado
Nunca faça como Lula
Tem feito com a oposição
Pregando o extermínio
De sigla ou coligação
Que critique os seus atos
Em busca da perfeição
Fale só o necessário
E seja organizada
Como faz toda mulher
Mantendo a casa arrumada
Governar exige isso
É coisa já comprovada
Não confunda transparência
Com visão antecipada
Não crie expectativa
Que não possa ser alcançada
Blá-blá-blá na vida pública
Não contribui para nada.
Se for fazer a reforma
Acabe a reeleição
Devolva a coincidência
Com o mandato tampão
Porém, nunca admita
Que haja prorrogação
Acabe o segundo turno
Jogo prorrogado é chato
Em vez dele, um referendo
Na metade do mandato
Se o titular cair fora
O vice assume de fato
Tire da sua cabeça
A idéia de revolução
Se quiser pegar em arma
Pegue por outra razão
Que tal uma luta armada
Contra a corrupção?
Se Lula se opuser
Ao que estou sugerindo
Não se preocupe com isso
Pise firme e vá seguindo
Lá no Afeganistão
Ele acaba consentindo
Não vá brigar com a mídia
Isso é prejudicial
Liberdade de expressão
É uma coisa normal
Ajuda o governante
A saber quem anda mal
Por nada do que sugiro
Pedirei compensação
Você como presidente
Tem poder de decisão
O povo lhe deu a chance
De mudar nossa nação.
FIM

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