08 maio 2011

Um país sem oposição: raízes da orfandade política da classe média

Por Bolívar Lamounier

O país está sem oposição: eis a queixa que a classe média vem fazendo insistentemente desde o início do ano. O crédito de confiança que todo mundo deu a Dilma Rousseff está minguando, a inflação de 6.51 é uma séria possibilidade de retrocesso, irregularidades começam a despontar em vários setores…, e a oposição, nada.

A indignação e os impropérios que permeiam as “cartas do leitor” e as redes sociais são mais que compreensíveis, mas não são suficientes. A mencionada situação de orfandade a que me refiro está a exigir um esforço mais sustentado de reflexão.

Parece-me útil distinguir três aspectos, ou três níveis de análise: o quadro político-partidário, o andamento do governo Dilma e a opinião pública, ou seja, os que compartem o mal-estar a que acima me referi.

A conjuntura político-partidária obviamente não poderia ser pior.

Do lado governista, a aliança PT- PMDB e seus apêndices cumprem o script que lhes foi reservado. Podem espernear à vontade no que toca à repartição das benesses, mas devem permanecer calados quanto ao restante.

Quanto à oposição, não resisto a citar, com alterações apenas de forma, um comentário da leitora Maria Amélia de Oliveira Nogueira: “a oposição parece preocupada apenas em lamber suas próprias feridas; perde-se em suas discussões intestinas e em seu tosco rame-rame. Kassab forma seu novo partido, Serra não sabe se apóia o Kassab ou não, Alckmin chora a perda do Chalita e execra o que o Serra fez e Aécio não consegue decidir se é light, pró-PT ou tico-tico no fubá. Enquanto isso o Fernando Henrique fala sozinho, sem repercussão prática no PSDB e o “cupim”, que é o PT, fica à vontade para se alojar nas entranhas deste pais.

Essa é a situação, não há como negar. O que eu posso acrescentar não melhora em nada o quadro acima esboçado. O DEM continua sem rumo, talvez até sem futuro. O PSDB tem um cerne robusto – o legado de Fernando Henrique -, mas, ironia das ironias, nenhum dos três líderes mencionados no parágrafo anterior o assume de peito aberto. Concentram-se numa disputa sem grandeza, pois sem uma agenda digna do nome e sem uma postura oposição, o capital político do partido poderá se esvair de uma hora para outra.

Quem herdará o espólio do PSDB, se ele for de fato para o brejo? O PSD de Kassab? Não quero fazer um pré-julgamento taxativo, mas devo confessar o meu ceticismo. A meu juízo, o que levou Kassab a optar pelo vôo solo não foi um desejo de se destacar entre as forças de oposição; muito pelo contrário, foi um desejo de se juntar à situação. E é o que provavelmente fará à medida que for lidando com os problemas práticos que se antepõem à formação de um partido eleitoralmente competitivo. O tempo de televisão, por exemplo. Desconectado da oposição, Kassab irá buscar ajuda no governo, ao preço, evidentemente, de se bandear de mala e cuia para a situação.

Claro, os argumentos precedentes devem ser atenuados em vista de estarmos apenas no quinto mês do governo Dilma Rousseff. A inércia da oposição deve-se em parte a este fato. Sem um desgaste perceptível, sem erros clamorosos, como poderá a oposição nominal transformar-se em oposição efetiva?

Realmente, ainda não há um problema grave, com ampla ressonância popular. Nada há que desperte ou pelo menos incomode a sociedade de forma generalizada, aí incluídas as camadas de menor renda – o “povão”. É sobretudo por isso – por não ter um foco ao qual se opor como verdadeira força política – que a oposição nominal carece de iniciativa.

Neste começo de governo, o que poderá alterar tal quadro é sem dúvida a inflação. O governo obviamente a teme: sabe que a inflação desgasta, e desgasta de maneira simultânea e generalizada, em todas as camadas sociais. Mas também teme adotar uma política econômica contracionista, com forte redução do gasto público e do crescimento. Esta é a questão central.

Ao dizer que ainda não há um problema grave, refiro-me evidentemente a um problema capaz de corroer de forma rápida e generalizada o sentimento governista que se observa atualmente no país. A situação da infra-estrutura é catastrófica (vide aeroportos). Irregularidades e casos de corrupção começam a pipocar no Executivo, no Congresso e em governos locais dirigidos por partidos alinhados com o governismo na esfera nacional. A Copa do Mundo de 2014 periga de se transformar num monumental fiasco.

Mas nenhum dos problemas referidos no parágrafo anterior tende a produzir impactos rápidos e generalizados. Podem erodir pouco a pouco o apoio social ao governo, mas nada sugere que se acumulem e superponham a ponto de polarizar politicamente o país em termos de governo e oposição. São problemas sentidos mais fortemente pela classe média – vale dizer, pelos cidadãos que, em virtude de seu nível educacional elevado ou de seus valores, têm condições de os avaliar continuamente. Creio que a orfandade política da classe média pode ser analisada com proveito por este ângulo.

O argumento que venho tentando expor é que o sentimento de orfandade decorre de três conjuntos de fatores. Dos dois primeiros eu já falei: a crise dos partidos de oposição e a falta de uma questão catalisadora; mesmo a inflação, embora esteja subindo de forma preocupante, não atingiu ainda um nível capaz de polarizar politicamente a sociedade.

Para concluir, passo ao terceiro fator: à própria classe média. Refiro-me a uma debilidade de consciência política que me parece própria dela. Informação, não lhe falta; capacidade de se indignar, tampouco. Mas estes dois recursos são em geral neutralizados por um peculiar irrealismo e por um sentimento exagerado de impotência.

O irrealismo leva-a a desacreditar da possibilidade de mudanças e a aceitar sem sentido crítico a lenga-lenga de que todos os nossos males remontam à colonização portuguesa. A história apenas reproduz uma danse sur place, um ciclo imutável, que somente pode ser quebrado no dia do Juízo Final, por uma revolução purificadora.

Nessa representação fantasiosa do universo político e social, só existem dois pólos imensamente distantes entre si. Num extremo, uma passividade indignada, ou resignada, tanto faz; no outro, a idéia romântica de uma revolução total, apocalíptica. Instituições, imprensa, associações, reuniões, petições, abaixo-assinados, advogados, Ministério Público…, tudo isso parece carecer de existência real. Inexistindo pontos de apoio idôneos, a participação é impossível ou inócua. Como alternativas, restam, pois, somente a indignação vazia e a auto-flagelação.

1 Comentários:

Às 02/06/2011, 10:58 , Anonymous Anônimo disse...

Tem razão. Veja aqui na cidade de MARICÁ, no RJ. O prefeito petista Quaquá - sim, esse é seu nome - importou petralhas de vários lugares. Dois deles foram indicações de Zé Dirceu: MARCELO SERENO e MARIA HELENA ALVES OLIVEIRA. Ele está envolvido com "Manguinhos". Ela é fiscal de rendas de Niterói e já esteve em várias prefeituras como "secretária da fazenda", sempre assinando contratos milionários. Ambos administram 20 MILHÕES MENSAIS DE ROYALTIES do Comperj. Ambos têm CONSULTORIAS. EASY CAR, de "Brasília", assinou aluguel de 6 carros por 580 mil, por 1 mês! LUXOR, que presta serviços à pref. de CAMPINAS, está papando 12 milhões de convênio com BNDES! Ajude a salvar MARICÁ das aves de rapina! Mais:
http://www.marica.com.br/territoriolivre.htm

http://lilicarabinabr.blogspot.com/2011/06/jogada-das-conultoria-no-brasil-e-em.html

 

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