18 outubro 2010

Agora ninguém pode errar


via Radar on-line - Lauro Jardim - VEJA.com de Lauro Jardim em 17/10/10


José Serra e Dilma Rousseff estão separados por magra diferença, a julgar pelas pesquisas — um instrumento sempre contestado, mas ainda o mais poderoso parâmetro de aferição de tendências no meio de uma campanha.
Por isso, a quinze dias da eleição, as duas campanhas são obrigadas a pisar em ovos. Qualquer carta mal colocada na mesa pode ser fatal.
Numa hora dessas não adianta apenas ser conservador, imaginando, assim, minorar a possibilidade de erro. Na campanha, como em qualquer batalha, é preciso saber também a hora de ousar. Um equilíbrio nada fácil de ser alcançar.
É o momento de apostar em estratégias novas e consolidar outras já em curso, tudo ao mesmo tempo agora.
Dilma tenta aninhar-se no colo generoso de Lula, que volta a protagonizar os comerciais e programas de rádio e TV no PT. Vai dar certo? Ninguém sabe. O que se sabe é que a decisão foi uma imposição de Lula ao marqueteiro João Santana, um profissional experiente, mas que foi atropelado pelo desejo do dono da bola que se auto-escalou para voltar ao campo — como capitão e técnico do time.
A campanha de Dilma terá também que continuar lidando com a questão religiosa. Muito já foi feito, reuniões com evangélicos e católicos, promessas, rezas, missas. Mas está claro que não é uma questão liquidada e será um tema sensível até o dia 31.
Para o bem ou para o mal, a essa altura está claro que pastores e padres tomaram gosto pelo protagonismo que conseguiram nessas eleições e continuarão a usar missas e o YouTube para pregar – e em geral eles têm rogado aos céus contra Dilma.
José Serra, da mesma maneira, precisa girar vários pratos ao mesmo tempo, sem deixar cair um só. Não é fácil:
*Terá que continuar a roubar os votos evangélicos de Dilma e atrair os de Marina Silva.
*Será obrigado a não deixar se alargar a já grande diferença de Dilma sobre ele no Nordeste. Para isso, o jeito é trabalhar para seduzir lideranças locais que hoje estão com Dilma, mas descontentes. Geddel Vieira Lima, é um exemplo. Se não der para fazê-los entrar em sua campanha, um corpo mole para Dilma já estaria de bom tamanho para o tucano.
*Será necessário também a Serra jogo de cintura para a partir de agora receber ataques de Lula na campanha e conseguir reagir na medida certa – algo nem sempre fácil no calor da batalha. Ao estilo Pinheiro Machado, Serra não poderá ser tão agressivo com Lula que pareça desrespeitoso com um político bem avaliado por 81% dos brasileiros; e nem tão banana que aparente ser alguém sem personalidade e subserviente.
O primeiro desafio na "operação erro zero" será o debate de hoje à noite na RedeTV!. Não pela sua audiência — provavelmente, não passará dos três pontos no Ibope. Mas pela possibilidade de um deslize que virará arma do adversário nesta reta final, sobretudo se usado nos programas de TV.
Uma frase mal colocada, um ataque que soe destemperado demais, um escorregão em pontos sensíveis, tudo isso pode ajudar a definir a batalha. Tudo isso pode criar uma uma daquelas ondas que surgem pequenas, mas que crescem a ponto de derrubar uma candidatura.
A chance de Dilma ir ao debate de hoje com quatro pedras na mão, como fez na Band, é grande. A razão é a mesma: dada a baixa audiência que o programa terá, Dilma ficaria mais livre para ousar. Ou seja, poderá usar o debate para atacar Serra e, assim, inflamar sua militância e usar os seus "melhores momentos" editados nos programas de TV. O risco da estratégia, novamente, é ultrapassar o tom adequado.

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