16 outubro 2010

O voto nas cidades


via VEJA nas Eleições - VEJA.com de Daniel Jelin em 15/10/10


Em Guaribas, Piauí, onde foi lançado o programa Fome Zero, Dilma Rousseff (PT) teve mais de 88% dos votos válidos, contra apenas 8,4% de José Serra (PSDB). Em Marcelândia, Mato Grosso, o tucano ficou com mais de 75% dos votos, contra 22% da petista. A verde Marina Silva não chegou nem a 1% em Trairão e Gurupá, no Pará, mas venceu com mais de 40% em Brasília (DF), Sabará (MG) e Volta Redonda (RJ). Para ilustrar estas variações, geográficas, históricas ou socioeconômicas, VEJA preparou um mapa interativo com o desempenho dos presidenciáveis em todos os municípios desde 1994, filtrados por uma série de indicadores, e conversou com os pesquisadores Rafael Cortez, da consultoria Tendências, e Cesar Zucco, da Universidade Princeton, em Nova Jersey, Estados Unidos. Cortez é cientista político com doutorado pela USP sobre as estratégias dos partidos nas eleições majoritárias. Zucco é professor de política e uma de suas linhas de pesquisa é o estudo dos programas de transferência de renda, com auxílio de métodos estatísticos.
Nos mapas abaixo, em azul estão representados os municípios com vitória do candidato tucano, e em vermelho, onde a vantagem é petista. Quanto mais forte o tom, maior a votação.
1º turno de 1994
1º turno de 1994
1º turno de 1998
1º turno de 1998
1º turno de 2002
1º turno de 2002
1º turno de 2006
1º turno de 2006
1º turno de 2010
1º turno de 2010
2010 x 2006
Tanto Zucco como Cortez apontam fortes semelhanças entre as eleições de 2006 e 2010. Regra geral, Dilma foi bem onde Lula foi bem; Serra foi bem onde Alckmin foi bem; e até as terceiras vias Marina, em 2010, e Heloísa Helena (PSOL), em 2006, tiveram desempenhos correlacionáveis. As novidades de 2010: uma candidatura governista relativamente mais fraca nas grandes cidades e a expressiva votação da terceira colocada, Marina.
Bolsa Família fez mais por Lula em 2006 do que por Dilma em 2010
O efeito eleitoral do Bolsa Família em 2010 foi menor que em 2006 e é comparável ao dos programas tucanos de transferência de renda em 2002. A constatação é de Zucco. Ele analisou o resultado do primeiro turno em todas as cidades e encontrou uma forte – e previsível – correlação entre os votos para Dilma e o programa de transferência de renda: onde a cobertura do Bolsa Família é maior, maior a vantagem da petista. Para medir seu peso, o pesquisador agrupou os municípios conforme diversos perfis socioeconômicos e observou as variações dentro de cada grupo. Resultado: na média, cada ponto porcentual do Bolsa Família refletiu em 0,13% em favor de Dilma nas urnas.
O pesquisador repetiu a operação para as eleições de 2006 e 2002 e chegou a um favorecimento de 0,20% por ponto porcentual do Bolsa Família para Lula em 2006, quanto foi reeleito; e de 0,11% para Serra em 2002, quando o tucano era o candidato governista – e perdeu. Para esta última correlação, Zucco agrupou dois programas de transferência de renda do governo FHC: o Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola, que seriam reunidos, rebatizados e ampliados no governo Lula na forma do Bolsa Família.
O perfil de município em que Dilma saiu-se relativamente pior é o das cidades grandes. Neste grupo, ao contrário de 2006, o efeito Bolsa Família pareceu contido no primeiro turno, o que, Zucco supõe, pode ser creditado à boa votação obtida por Marina – hipótese que poderá ser testada no segundo turno.
Maior a renda, maior a oposição
Cortez estende a forte correlação entre o alcance do Bolsa Família e a vantagem governista para outros recortes de renda e riqueza das cidades: quanto mais pobre o município, quanto maior a cobertura do Bolsa Família, tanto melhor a performance de Dilma. Do contrário, Serra e Marina obtêm melhores resultados. As correlações podem ser observadas nos mapas abaixo, que exibem o desempenho dos presidenciáveis nas cidades de acordo com diversos indicadores: o salário médio, o PIB municipal e o próprio Bolsa Família.
Municípios com maior cobertura de Bolsa Família
Municípios com maior cobertura de Bolsa Família
Municípios com menor PIB per capita
Municípios com menor PIB per capita
Municípios com menor salário médio
Municípios com menor salário médio
Violência no campo
Além da renda, Cortez chama atenção para um segundo divisor de votos: a violência no campo. Ele observa um bom desempenho da candidatura tucana nos municípios onde as taxas de mortalidade são expressivas e associadas a conflitos agrários, como no Centro-Oeste e Norte do país. Cortez credita o mau desempenho de Dilma nessas áreas à proposta que circulou entre setores do PT, e que apareceu no terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, de instalar uma nova instância para arbitrar invasões de terra.
Eleição 2010 nos municípios com mais altas taxas de homicídios
Eleição 2010 nos municípios com mais altas taxas de homicídios
Eleição 2002 nos municípios com mais altas taxas de homicídios
Eleição 2002 nos municípios com mais altas taxas de homicídios
PT x PSDB, governo x oposição
Serra saiu-se melhor em estados do Sul, Centro-Oeste e Norte, além de São Paulo. Dilma venceu em pelo menos um estado de cada região e em todos os do Nordeste. O desenho dos mapas pode sugerir certa polarização de caráter geográfico: um Norte e Nordeste petista e um cinturão Sul/Centro-Oeste tucano. Mas para Zucco ainda não há como dizer tratar-se de uma polarização de petistas versus tucanos ou de governistas versus oposicionistas. Para que as diferentes hipóteses sejam testadas, é necessário analisar o resultado de futuras eleições com uma eventual troca de papel: o PT de volta à oposição, e o PSDB, ao governo.
Desempenho de Dilma. Quanto mais forte o tom, maior a votação
Desempenho de Dilma. Quanto mais forte o tom, maior a votação
Desempenho de Serra. Quanto mais forte o tom, maior a votação
Desempenho de Serra. Quanto mais forte o tom, maior a votação
O eleitorado verde
O melhor desempenho de Marina Silva se deu nas regiões metropolitanas. Cortez cita uma combinação de fatores para explicar a performance. Em primeiro lugar, são cidades de renda e escolaridade mais altas, atributos do eleitor alvo da candidata do PV. Além disso, são regiões sensíveis à agenda verde, uma vez que já convivem com reflexos de certo esgotamento ambiental. Finalmente, Cortez aponta nas franjas das metrópoles a forte presença evangélica, eleitorado sensível à questão que desgastou a candidata petista na reta final da campanha do primeiro turno: o aborto.
Desempenho de Marina. Quanto mais forte o tom, maior a votação
Desempenho de Marina. Quanto mais forte o tom, maior a votação

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