05 setembro 2008

SE TEM, USA

Do site http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/

Se tem, usa
Pois é... O único aparelho que as pessoas costumam ter para não usar é esteira ergométrica. Amigos lhe dão os mais diversos usos: numa casa, é cabide de bolsas; na outra, sobre a parte rolante, nasceu uma pilha de revistas, jornais, livros... Numa terceira, é sério, posta na área de serviço, brotou uma orquídea — parece uma dessas instalações da chamada “arte moderna”, a pedir um desses ensaios insanos, em que o “artista” tenta se explicar, garantindo que a culpa é de Duchamp... Mas volto.

Quem tem aparelho de escuta usa. E, se o faz sem competência legal para tanto e autorização judicial, está cometendo um crime. E crime grave, que viola os direitos fundamentais garantidos pela Constituição. E já aqui cabe afinar os instrumentos: autorizações judiciais, por si mesmas, já não são garantia de coisa nenhuma. É verdade: estamos assistindo ao nascimento de uma nova forma de “milícia”, que junta a toga com a pistola: há juízes de primeira instância se associando a seus “amigos” da polícia para fazer o que, sei lá, talvez considerem “justiça”. E escutas estão sendo autorizadas a três por quatro. Elas se transformaram no único meio de investigação.

Descobre-se agora que os tais aparelhos viraram carne-de-vaca. Todo mundo tem, menos eu e você, leitor amigo. Até a Polícia Rodoviária está grampeando telefone. E há quem jure que isso é para o nosso bem. Ah, sim: cansei de ler e ouvir acacianismos como este: “É bom não confundir a boa escuta com a má escuta porque etc, etc, etc”. Ah, podem deixar: a gente não confunde, não.

E há outros argumentos para turvar o essencial. Um deles sustenta que empresas privadas também recorrem a escutas. É? Cadeia para quem o fizer. É importante distinguir aí o crime comum do crime político. Se um órgão ligado a qualquer um dos três Poderes faz grampo ilegal, o crime tem clara natureza política. É coisa mais séria.

Aproveito, mais uma vez, para destacar a atuação maiúscula de Gilmar Mendes, presidente do STF, que percebeu a gravidade do que estava — e está — em curso, sem se deixar intimidar pela máquina de desqualificar pessoas em que se transformaram órgãos que deveriam responder pela vigilância e/u pela segurança do estado. E não que o ambiente fosse ou seja muito hospitaleiro para fazer valer a lei. Alguns setores resolveram transformar Daniel Dantas num bandido de manual, numa espécie de fonte de todos os males do mundo, o Darth Vader da República. Acusam os crimes do banqueiro enquanto tentam esconder os próprios,

Que Daniel Dantas pague por cada milímetro de suas escolhas. Mas que não seja usado como escudo para esconder trapaceiros, chantagistas e milicianos das próprias fantasias, alguns deles atuando na subimprensa, a soldo, como sempre.

A democracia precisa de motivos para punir. Os estados autoritários ou delinqüentes só precisam de pretextos.


Por Reinaldo Azevedo | 17:09 | comentários (30)

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