07 setembro 2009

EXTRAIR PETRÓLEO OU COMPRAR OPINIÃO?

via Cláudio Humberto em 04/09/09

No mundo moderno, em sã consciência, ninguém pode ser contra a propaganda e a publicidade. Essas  atividades  fazem  parte  do complexo que vai do planejamento à produção, da comercialização ao consumo. Mercadológicas ou promocionais, são responsáveis pelo sucesso ou fracasso de quase  todas as atividades humanas. Além de criarem empregos e contribuírem para o desenvolvimento da economia.
O que não dá para aceitar é o super-dimensionamento da publicidade, muito menos a distorção da propaganda, quando em vez de atingirem sua finalidade e seus objetivos, servem de biombo para encobrir formas de enganar o consumidor, de um lado, ou de comprar a  opinião dos  veículos onde se apresentam.
Feito o   preâmbulo, vamos passar ao principal. A finalidade da Petrobrás, glória nacional, é encontrar, extrair e abastecer a   sociedade de combustível.  Mostrar-se, é claro, na demonstração de suas qualidades, bem como promover seus produtos.  Como empresa bem sucedida, deveria voltar-se para sua atividade maior, mas faz muito que vem  sendo  utilizada como mecanismo de promoção dos  governos aos quais se subordina.  De mandato em  mandato dos detentores do poder, porém, a Petrobrás transformou-se num instrumento de manipulação e até de controle da opinião  pública.  Com objetivos óbvios não apenas de demonstrar sua eficiência, mas de dominar a informação recebida pela sociedade.
Tome-se os principais telejornais, noticiosos radiofônicos, revistas,  jornais e toda a parafernália da comunicação social. Através de propaganda muito bem elaborada, a estatal tornou-se senão a maior, uma das maiores anunciantes do país. Está presente nas diversas classificações  da mídia, ficando para outro dia demonstrar que também  subsidia mil outras formas   de sedução do meio social: festas de São João, de Natal, celebrações patrióticas, edições de livros variados e de    CDs de música popular,  ONGs sérias e ONGs fajutas, congressos, seminários, cursos, escolas, feiras internacionais e prefeituras  recebem o patrocínio, quer dizer, dinheiro vivo,  dos cofres da Petrobrás.
Tudo angelicalmente destinado a aumentar  o consumo de seus produtos ou a melhorar suas condições empresariais na concorrência com competidores?
Vale ficarmos na mídia. Se recebem vultosas verbas, em boa parte  responsáveis pelo sucesso de seu faturamento,  dos  jornalões aos pequenos semanários,  das mega-redes televisivas às cadeias radiofônicas e às revistas de circulação nacional, todos os veículos de comunicação  pensarão duas vezes antes de informar a respeito de investigações, denúncias e acusações de irregularidades envolvendo a Petrobrás e seus dirigentes. Se fosse só isso, ainda seria deglutível, pois as empresas privadas fazem o mesmo.
O problema é que gerida e  dirigida pelos governos, não só do Lula, mas da quase totalidade de seus antecessores, a Petrobrás tornou-se uma  gazua capaz de  arrebentar com a liberdade de imprensa e de  expressão. Porque quem criticar os  governos corre o risco de perder a publicidade  da estatal. Essas  coisas estão implícitas, não precisam ser ditas entre as partes. Argumentarão  os céticos que essas práticas  fazem parte do sistema capitalista, valendo acrescentar que nas ditaduras de esquerda ou de direita é pior ainda. Quem ousar desafiar os interesses e as verdades absolutas dos donos do poder, além da falência pela falta de anúncios, corre o risco de parar na cadeia.
O governo Lula usa e abusa dos recursos publicitários da Petrobrás, numa simbiose trágica onde o  sacrifício maior atinge a liberdade. No primeiro mandato do companheiro-mór havia até  um japonês mal-encarado para conduzir  o sistema. Mesmo catapultado pelos abusos cometidos em favor de interesses pessoais, viu-se sucedido pela  impessoalidade mais maléfica ainda.
Estarrecido, o país assiste fantástica invasão de slides,  filmes, mensagens e patrocínios de toda espécie jorrando das burras  da Petrobrás para as  telinhas, os  alto-falantes e  as  folhas impressas,  promovendo  a estratégia do pré-sal. A grosso  modo,  nem   precisaria,  por tratar-se de uma iniciativa favorável à afirmação da soberania nacional, aplaudida pela nação quase inteira.  Parece que o governo não confia nele  mesmo, nem em seus bons propósitos, se necessita desviar recursos da extração de petróleo para convencer o público da certeza de seus atos.
O risco é de se, amanhã, os monarquistas ganharem as eleições, assistirmos a Petrobrás dedicada a convencer a sociedade de que um  imperador ou um rei resolvem todos os nossos problemas.  Opiniões se compram, mas a que preço?
Em suma, não é a Petrobrás, como empresa,  a responsável por essa abominável  farra publicitária que nos assola. Nem as agencias encarregadas de produzir tão elogiável material.  Sequer os veículos ávidos de sustentar-se com a propaganda. Culpado é o sistema que permite tamanha distorção.

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