23 janeiro 2009

Esclerose

via VEJA.com: Blog | Reinaldo Azevedo de Reinaldo Azevedo em 23/01/09
(Leia primeiro o post abaixo)
Vocês certamente conhecem um ditado que, embora clichê, é verdadeiro: quem nunca comeu melado, ao comê-lo, se lambuza". E por que o sujeito se emporcalha todo? Por inabilidade no trato com a meleca e também porque não consegue se conter, como se quisesse comer tudo de uma vez. Assim é o PT no poder, especialmente na relação com os países mais ricos — ou ditos do "Primeiro Mundo". Se bem que me corrijo: também na relação com os mais pobres, comete o pecado da arrogância. Nos dois casos, quem paga o pato são os brasileiros. Trato antes da segunda situação, porque mais curiosa.

O governo brasileiro passou a ter uma relação paternalista com seus vizinhos latino-americanos, por exemplo — e um paternalismo muito peculiar, porque altivo na sua subserviência, como esses pais muito compreensivos, sempre dispostos a passar a mão da cabeça de seus filhos transgressores. Já escrevi aqui que o nosso "imperialismo regional" tem nos causado mais prejuízos do que lucros. Nunca antes nestemundo...

Já na relação com os ricos, as coisas mudam. O Brasil cruza a linha e vai bem além da altivez, esbarrando, com freqüência, na provocação. Isso é coisa típica de arrogante mesquinho, de provocador barato... Lula vive comparando os brasileiros com seus filhos — a maioria certamente preferiria ser o Lulinha; se não nos dons do pensamento, ao menos nos transes da ventura, como diria Bocage... Pois bem: o lulismo, com os "ricos", parece o moleque malcriado que resolve vandalizar a escola para provar que o sistema é repressor.

Qual tem sido, digamos, o "espírito" do comportamento brasileiro no cenário externo? Exerce um protagonismo orientado, como diria meu conselheiro Marcelo Coelho, por uma "bússola sem norte". Já fiz aqui o elenco de todos os insucessos do Itamaraty na sua busca destrambelhada por relevância. A decisão sobre Cesare Battisti não passou pelo Ministério das Relações Exteriores, mas obedece à orientação do mesmo comandante. Mais uma vez, temos o "pequeno" que resolve provar a sua grandeza e independência com um comportamento, vejam que coisa, que nem os "grandes" teriam.

No julgamento da concessão ou não de refúgio político, quantos países teriam o topete de entrar no mérito do sistema judicial e legal de um país amigo? Responderei um "poucos" só para contemplar a ocorrência excepcional. Acredito, no entanto, que a resposta mesmo é: "nenhum!" O que Tarso fez está fora de qualquer padrão de convivência civilizada entre as nações. Mormente porque a Itália é um país onde vige uma democracia plena. O despacho de Tarso Genro desmoraliza o Judiciário, atropela, como ainda ficará claro, fatos específicos envolvendo o julgamento de Battisti e lança uma acusação grave contra as instituições italianas: elas perseguem adversários.

Malcriado, movido por um ânimo inexplicavelmente hostil, Tarso, em seu texto, pretende ensinar os italianos a ler a obra jurídica de seu compatriota Norberto Bobbio — uma espécie de patrimônio nacional —, elencando frases do jurista e pensador fora de seu contexto original, para justificar o injustificável. E, como se vê, insiste em comparações despropositadas, ao associar o caso Battisti a Cacciola, um indivíduo que tem cidadania italiana. O governo da Itália não se negou a extraditar o ex-banqueiro; ele não tinha condições legais de fazê-lo. Lula sabe disso. Tarso sabe disso. Dulci sabe disso. Insistir na tese é reiterar no vandalismo para poder, então, dizer-se pressionado por um "país rico" que quer se impor a um mais pobre.

Isso não é protagonismo, não: trata-se de burrice e de primitivismo ideológico. Em vez de mais respeitado no cenário externo, o país certamente obterá o contrário como resultado. Nesse e em outros casos. Ou vocês acreditam que o Brasil se tornará mais relevante por comandar, na ONU, um processo que protege os genocidas do Sudão, mas condena, com celeridade, a ação defensiva de Israel? Ou vocês acreditam que o Brasil passará a ser visto com mais respeito por flertar com tudo quanto é ditadura do planeta e tratar com cinismo as democracias?

O poder petista começa a exibir sinais de esclerose. O caso Battisti é mais do que um evento isolado. É um sintoma.

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