Um recado para quem condena políticas de privatizações e parlamentares brasi...
Artigo lança tese de que hoje haveria contradição entre desaprovar políticos e ser contra privatizações no Brasil:
De acordo com as pesquisas de opinião, a popularidade dos políticos brasileiros está mal. Em um período de crise no Senado, o percentual de desaprovação do parlamento brasileiro atinge 44% segundo a última sondagem do Instituto Datafolha, em agosto deste ano. Pela pesquisa, apenas 14% dos entrevistados aprovam a atuação dos senadores e deputados. Por outro lado, boa parte dos mesmos brasileiros se contrapõe às privatizações. Têm nostalgia daquela época em que tudo pertencia ao Estado, "patrimônio do povo brasileiro".
Em 2006, o presidente Lula foi reeleito, em parte, devido a uma eficiente campanha contra as privatizações ocorridas nos governos anteriores. Quase nada voltou para as mãos do Estado no primeiro governo do PT, mas a retórica de campanha foi no sentido de que o País como um todo tinha sido vendido a barões estrangeiros e tubarões do capitalismo. Atualmente, os últimos números mostram que 62% dos brasileiros condenam a venda de tudo o que é considerado patrimônio do Estado.
É possível constatar que, ao mesmo tempo, as pessoas atacam a privatização como ação de governo e desaprovam o papel dos políticos. Isso leva a uma contradição no seguinte sentido: No mesmo instante em que não gostamos dos políticos queremos que eles continuem dirigindo o patrimônio público?
Uma empresa estatal, em geral, é controlada por parlamentares ou indicados. No Brasil os exemplos são inúmeros e há poucas exceções. O atual governo levou a prática de subordinar empresas públicas aos interesses políticos no limite, retalhando diretorias de uma instituição entre diversas as agremiações partidárias. Em contrapartida, parlamentares só mantêm os votos a favor do Palácio do Planalto no Congresso – garantindo a governabilidade – com mais e mais cargos de direção nesses organismos públicos. Técnicos e funcionários de carreira sem ligações partidárias, hoje, têm cada vez menos chance de dirigirem grandes companhias estatais.
Obviamente, a influência da política nas empresas privadas não desaparece com a privatização. Por outro lado, empresas particulares não abrem mão de tentar influenciar ações políticas. Também há o fenômeno de o Estado brasileiro estar aumentado sua participação acionária em várias corporações. Mas a relação deixa de ser tão direta e fisiológica. Privatizar pode ter como conseqüência menos cargos para os políticos.
A posição majoritária dos brasileiros parece levar a um beco sem saída. Do impasse, entretanto, restam algumas perguntas – o que seria melhor para o país: empresas particulares fora da influência direta dos partidos políticos ou empresas públicas dirigida por eles? Uma empresa pública pertence ao povo, ao estado, ao governo, aos partidos ou aos interesses de certos grupos políticos? Que tipo de servidor deve comandar um organismo do Estado? O que desejamos, afinal?


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Em todos os povos ou períodos da história, a sensação de pertencimento a uma comunidade sempre foi construída com base nas diferenças em relação aos que estão de fora, "os outros". Muitas tribos indígenas brasileiras, por exemplo, chamam a si próprias de "homens" ou "gente" e denominam pejorativamente integrantes de outros grupamentos - esses são "seres inferiores" ou "narizes chatos". O filósofo grego Aristóteles considerava a "raça helênica" superior aos outros povos. Mas até o Iluminismo, no século XVIII, a humanidade não recorreu a teses raciais para justificar a escravidão - tratava-se de uma decorrência natural de conquistas militares. A postulação de que todos os homens nascem livres e iguais criou, porém, uma reação: a fim de embasar o domínio de povos europeus e seus descendentes sobre as populações colonizadas ou escravizadas, começou-se a elaborar uma divisão sistemática de raças, com pretensões científicas. No século XIX, esse pensamento atingiu seu ápice, com a apropriação das teses darwinistas de seleção natural. Os teóricos do racismo científico trataram de estabelecer hierarquias entre os grupos humanos com base em fundamentos biológicos. Com a gradual abolição da escravidão, o racismo científico foi usado para justificar o imperialismo ocidental na África e na Ásia. 
